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Por que, mesmo com todo esforço, o crédito não chega às pequenas empresas?

Por Erica Machado de Melo
Atualização:
Erica Machado de Melo. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Nunca se viu tantos esforços por parte do governo para socorrer as empresas como agora, em tempos de pandemia. Mas, por que, então, apesar de tantos esforços e disponibilidade, esse dinheiro não chega ao setor produtivo?

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A resposta, na maioria das vezes, não é tão simples quanto parece. Não importa o quanto o governo disponibilize, a autonomia para isso pertence à instituição financeira que oferece o crédito. Afinal, é ela que determina quem vai receber os recursos, por ser quem suporta a garantia. É quando a instituição financeira, que atua nacionalmente, se depara com uma situação inusitada que aprendemos ainda na escola, mas que, ao longo dos anos, esquecemos: o Brasil é uma federação.

Isso significa dizer que os estados e municípios têm autonomia para decidir. Um ponto que nunca foi tão percebido como agora, em tempos de covid-19. É importante destacar também a falta de coesão e de alinhamento entre a União, Estados e municípios na adoção das medidas de combate ao vírus que impactarem severamente a cadeia produtiva, principalmente o setor Metal Mecânico, quando citamos serviços de manutenção de máquinas e equipamentos, produção e peças de reposição.

É muito fácil identificar que a cadeia produtiva acaba sendo impactada pelas esferas da federação. Um exemplo: se a sua fábrica tem sede em um município e o escoamento da produção precisa passar por outro, onde o prefeito decidiu que somente a população local pode transitar, como você vai escoar seus produtos? A decisão de um município impacta diretamente em outro e parece que, infelizmente, até o momento, só os empresários se deram conta disso.

Mas o que isso tem a ver com o acesso ao crédito? É simples! A partir do momento que a União deixa de tomar decisões em conjunto com os estados, cada um segue em uma direção e isso acaba passando um recado muito forte para as instituições financeiras, o da instabilidade. E a partir dela vem a especulação da moeda, que pressiona o câmbio e estimula a saída de capital. A estimativa é que, desde o início do ano, já tenham deixado o país mais de R$ 77 bilhões. O cenário é de crises em paralelo, atingindo diversas áreas, como a economia e a política. Crises que, ao que parece, estão longe de uma solução.

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Junto a isso, temos inflação e juros baixos, gerados não pela adoção de medidas econômicas eficazes, mas por uma demanda que hoje é extremante pequena, em consequência da redução do consumo.

A questão é que poucos se atentam para o fato das grandes empresas receberem "grau de investimento", ou seja, são identificadas pelas instituições como sócias. Já as pequenas são vistas como detentoras de "graus de endividamento" e não têm acesso a gestores de fundos. O relacionamento é apenas com o gerente de conta, que não tem o conhecimento necessário para entender o negócio de quem busca o crédito. Isso faz com que negócios menores ofereçam risco mais alto, ainda mais em tempos de lockdown e incertezas institucionais. Assim, não resta outra saída senão conceder o crédito, porém com o aumento de exigências por garantias e de custos operacionais. E a pergunta do pequeno empresário, em meio a tudo isso, é uma só: "Ok, eu tenho boletos a pagar. Terei acesso ao crédito ou não?".

A resposta é: o crédito existe, porém, é importante, antes de buscar uma instituição financeira, entender se a recuperação econômica é viável para o seu negócio. Se esse capital de giro irá retornar para o caixa da empresa e manter estável seu fluxo de pagamento. Diante desse contexto, podemos então perceber que a atuação do crédito é mais eficaz quando é local. Ou seja, diferentemente das grandes instituições financeiras, a cooperativa, como está inserida neste contexto regional, pode ter uma percepção melhor da demanda e a perspectiva de negócio. Isso acaba ajudando o empresário no momento de optar por qual é a linha mais adequada na sua necessidade. O caminho mais certo para o governo seria antes de propagar o crédito, criar mecanismos que trouxessem mais segurança tanto para quem precisa quanto para quem oferece. É uma opção para quem não está conseguindo tomar capital de giro em instituições privadas, que enxergam um risco maior nos pequenos negócios.

Nesse sentido, os sindicatos patronais têm papel fundamental em direcionar as pequenas indústrias e orientar quanto aos caminhos possíveis de acesso. Hoje, mais do que pensar em crescer, é preciso aprender a ser resiliente, estar mais preparado do que seus concorrentes para se manter no mercado. A partir daí a empresa conseguiria passar do "grau de endividamento" para "grau de investimento".

*Erica Machado de Melo, presidente do Sindicato das Indústrias Mecânicas e de Material Elétrico do Município do Rio de Janeiro (Simme)

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