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Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Por que calamos nós mesmos em plena era da comunicação?

Por Nana Lees
Atualização:
Nana Lees. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Em um mundo lotado de informações, onde todos parecem saber algo, falamos tudo sem dizer nada. Escondemos a nós mesmos, imersos em uma ilusão das vidas perfeitas que nos rodeiam, até começarmos a fazer parte de um teatro onde se deve apenas sorrir e lutar contra os obstáculos. Reclamar não é uma opção. Chorar menos ainda.

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Existem pessoas em pior situação que você, então você deve lutar.

Inicialmente, esse é um pensamento válido. Não podemos passar a vida reclamando das barreiras que encontramos por aí. Porém, por que a nossa geração tem tanta pressa a ponto de não se permitir parar um instante? Cada segundo é importante, temos que ter vidas úteis, nada de ócio, estude, trabalhe, malhe, coma saudável, tenha tempo social, brinque com seus pets...

Quando é que chega a hora em que você pode cuidar de si mesmo? De seu emocional?

Os julgamentos envolvem qualquer pessoa que se disponha a falar de sua vida "imperfeita", como se fosse um pecado mostrar que somos frágeis, além de fortes.

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Vivemos em uma era em que nos sentimos obrigados a esconder toda e qualquer dor ou tombo que passamos, como se já tivéssemos nascido diamante. Ou enfeitamos toda a nossa trajetória, encobrindo nossa "feiura", aquilo tudo que consideramos uma falha que nos enfraquece.

O ser humano está se esquecendo de um ato simples, mas muito poderoso: o desabafo.

Por pra fora tudo aquilo que te angustia e entristece, por mais ínfimo que pareça ser, é uma cura inigualável. Chorar alivia o corpo e alma, mesmo que depois você sorria e pense que nem precisava de "todo esse drama". Perceba que logo após se expressar, temos uma visão mais ampla e concisa, conseguimos ver o que está nos afetando, e com isso tentar mudar não só a situação como a nós mesmos.

Trazendo essa temática, importantíssima para o mundo atual, principalmente para os jovens, o meu livro Heroína tenta exemplificar o que acontece com as pessoas que se trancam dentro de si mesmas. Helen, a personagem principal, não consegue lidar com a própria ansiedade, é tomada por angústias que esconde em seu peito, justamente por se ver privilegiada demais para reclamar, se recolhe a uma posição onde não pode sentir dor, onde tudo o que machuca é considerado supérfluo. Ela se aproxima de se tornar uma bomba-relógio, perigosa para si e para os outros. Até que alguém tenta fazê-la desabafar.

"Todo mundo precisa de ajuda", o bordão do livro, é a chave exata que todos precisamos entender neste momento. Somos humanos e não há nada de mal em se dar um descanso. Não estamos em uma competição, ninguém está desistindo de nada.

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Um gesto simples, de separar tempo pra sentir suas dores, pode mudar uma vida inteira.

A sua vida.

*Nana Lees é escritora e autora da obra Heroína: todo mundo precisa de ajuda

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