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Por onde começar um programa de bem-estar e saúde mental no trabalho?

Por Carla Furtado
Atualização:
Carla Furtado. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Estamos todos aprendendo a desenvolver programas efetivos de bem-estar no trabalho. E muito embora o caminho à frente seja longo, já sabemos ao menos de onde partir. O ponto zero de uma iniciativa em prol da saúde mental e da felicidade dos colaboradores é o diagnóstico, realizado a partir de uma combinação de indicadores e pesquisas quantitativas e qualitativas.

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No rol de KPIs, sugere-se a avaliação dos indicadores relacionados à gestão de pessoas: turn over, absenteísmo, presenteísmo, acidentes de trabalho, afastamento do trabalho. Esse último pede aprofundamento: é necessária uma análise cuidadosa do perfil epidemiológico, considerando as principais causas de afastamento com as respectivas incidências e verificação por áreas e funções.

Sabe-se que no Brasil, até 2019, as doenças musculoesqueléticas constituam a primeira causa de afastamento do trabalho, seguidas dos transtornos mentais e comportamentais. Contudo, a pandemia e a reconfiguração do trabalho parecem ter mascarado o adoecimento psíquico. Se de um lado pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria apontou aumento de 25% nos atendimentos e de 83% no agravamento dos sintomas dos pacientes em tratamento, nos RHs de muitas empresas o protocolo de atestados por CID F (grupo dos transtornos mentais e comportamentais) caiu.

Foi o premiado economista Joseph Stiglitz que disse: "se nossas medidas nos disserem que está tudo bem quando realmente não está, seremos complacentes". Hoje, compreender a dimensão do sofrimento psíquico nos times de trabalho é uma questão de humanismo e sustentabilidade organizacional. Por essa razão recomenda-se, por exemplo, o uso do SRQ20 - o Self Report Questionnaire, desenvolvido pela OMS para rastrear sofrimento mental. Chega-se a observar indicação de sintomas em 30% dos colaboradores de uma mesma organização.

Outros instrumentos de verificação são importantes, como aqueles que avaliam especificamente o estresse, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) será o principal fator associado à depressão em 2030. No que tange à felicidade, a escala FIB-T (Felicidade Interna do Trabalhador), validada cientificamente no Brasil em 2020, verifica três aspectos: padrão de vida, bem-estar e satisfação no trabalho. Ainda no mesmo tema, escalas de engajamento, como a UWES, aferem a relação do colaborador com sua atividade profissional, impactando diretamente na performance.

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Um diagnóstico competente combina diferentes avaliações, olhado atentamente para os indicadores de performance organizacional, lançando mão de duas a três escalas e incluindo entrevistas e grupo focais para maior precisão de pontos nebulosos. E nunca é demais destacar que uma leitura competente do status atual dos colaboradores responderá por boa parte do sucesso do programa de bem-estar e saúde mental.

*Carla Furtado é pesquisadora científica e professora na área de psicologia e fundadora do Instituto Feliciência, com atuação no Brasil e em Portugal

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