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Política Nacional de Resíduos Sólidos: o encontro entre oferta e demanda

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Por Rodrigo Jobim
Atualização:
Rodrigo Jobim. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Não é mais novidade que a demanda do consumidor por produtos e serviços mais sustentáveis aumentou. Da mesma maneira, a chamada agenda ESG tem se mostrado prioritária para as empresas desde o início da pandemia. A sigla ganhou notoriedade e, extrapolando o noticiário, acelerou o processo de transformação do processo produtivo, da inclusão e da adoção de energias mais eco eficientes.

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Com o tema em pauta do lado do consumo, também ganhou relevância a discussão sobre a economia circular e logística reversa. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), houve um aumento médio de 25% de materiais recicláveis durante a pandemia, impulsionado pelo aumento de compras pela internet, que não foi acompanhado pelo aumento de reciclagem durante o período.

O descasamento entre a preocupação do consumidor com o meio ambiente, de um lado, e seu desconhecimento sobre questões tão básicas quanto como tratar o resíduo corretamente antes de descartá-lo, de outro, é um dos entraves ao cumprimento das metas estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que surgiu em 2010.

Apenas para se ter uma ideia, das 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidas por ano, 17% são de plástico, o que coloca o Brasil na quarta posição entre os maiores produtores de lixo plástico do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Isso sem falar em outros materiais incluídos na PNRS, como óleo de cozinha, pilhas e baterias e outros materiais eletrônicos.

A PNRS afeta de forma direta toda e qualquer empresa que lide com produção de insumos, de bens de consumo e com transformação de matéria-prima, bem como sua distribuição e retorno. Mas pouco se fala das dificuldades existentes nessa missão. O mercado tem investido para oferecer produtos e serviços mais sustentáveis e começa a se movimentar para buscar a conscientização e o engajamento do consumidor para poder fazer cumprir a PNRS.

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Para isso, é necessário mais do que campanhas de comunicação e educação. É preciso pensar criativamente para encontrar soluções que facilitem a coleta, a separação e o descarte de materiais. A união de indústria, varejistas, governo, recicladores e consumidor é fundamental, cada um desempenhando seu papel como em uma orquestra.

Do lado da indústria, existe a oferta. Muitas já estão se mobilizando com investimentos em logística reversa, educação, treinamento, informações sobre descarte nas embalagens. Do lado dos recicladores, existe a enorme demanda por volumes não apenas maiores, mas especialmente por materiais já tratados corretamente. E do lado do consumidor, a demanda é crescente.

Uma pesquisa de 2019 da CNI revelou que para 72,4% dos empresários, a economia circular pode gerar a fidelização do cliente. Trago, então, uma boa notícia: já existem empresas que aproximam os diferentes agentes da cadeia de reciclagem. E mais do que isso: que estabelecem um modelo em que o consumidor é bonificado pelo comportamento consciente.

Assim como o ESG, o "Client-first" (foco no cliente) não é novo. Mas sua aplicação para um problema tão antigo, o da correta reciclagem do lixo, pode ser o início de um novo fim, em que a economia circular estará ao alcance para a empresa que fabrica um produto, para aquela que o vende e para a que o recicla. E tudo porque o consumidor se engaja e embarca nessa jornada. Sem colocá-lo nesse jogo, o objetivo fica mais distante. Ele é parte importante da resolução desta equação. E a empresa que perceber isso vai sair na frente. Investir em experiência para mudar esse cenário é o que trará o equilíbrio entre a oferta e a demanda pela reciclagem.

*Rodrigo Jobim é fundador da Molécoola

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