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Política e cultura:  o corpo subversivo em cena

Por Ana Reimann
Atualização:
Ana Reimann. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

experiência sensorial aliada às novas formas de linguagem cênica tem sido experimentada por artistas contemporâneos de teatro em todo o país. A preocupação com a estética, com a concepção dramatúrgica e com o processo criativo para o encontro de inovadoras formas de comunicação com a plateia permeiam as conversas, os encontros e os ensaios de hoje que, cada vez mais, de forma individual ou coletiva, atravessam um momento de resistência ao propor reflexão e ação frente aos desafios da sociedade atual. 

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Em tempos em que a cultura atravessa momentos difíceis tanto em relação à falta de incentivo, à restrição de recursos, pandemia e, terrivelmente, de flerte com a censura, encontrar modos de fazer a manifestação artística acontecer tem sido um ato de bravura.

A investigação da linguagem teatral contemporânea tem se alinhado às inquietações pessoais e conjuntas de intérpretes, diretores, pesquisadores, ativistas e estudiosos. A ideia de pensar não apenas o Brasil, mas também os processos democráticos nos países latino-americanos e seus desmontes estão em ascensão. E aparecem na cena.  A arte surge fortemente como uma maneira de tratar metaforicamente (ou não) a insatisfação do ser humano com a violência, a opressão, a fome, ao descontrole sócio-político que afeta, sobretudo, quem se difere da "normalidade". É um movimento ainda tímido, mas que já marcha ao encontro de novas possibilidades, ainda que não tão palpáveis quanto desejaríamos, de uma transformação potente por meio da cultura.

Pensando em formas de ampliar essas reflexões, os processos criativos têm, cada vez mais, investido na investigação de linguagens. Já não basta apenas compartilhar conteúdo pelo texto, mas sim, experimentar a dramaturgia no corpo, com as tensões da sociedade contemporânea. Falta comida, saúde, emprego, educação, cultura no país, então, é uma necessidade de estar em cena com um corpo presente, político, em uma performance que une imagens, movimento, e percepções que sensibilizam. É preciso, com potência, deixar as ideias atravessarem as veias para dividir com o público a insatisfação com o declínio social.  É um pedido de socorro!

Tão importante quanto a proposta de linguagem, são igualmente importantes a integração e a reflexão sobre o fazer artístico. Afinal, quais seriam as melhores formas de comunicação, por meio da arte, nos tempos atuais? Tempo das tecnologias, da propagação do desapego, da individualidade, tempos em que a intolerância e a violência ganham novas forças e formas? Como dialogar com essa realidade agindo como uma potência transformadora?  Seria por meio da estética? Na forma como o artista está presente e se posiciona na rua? Em cena? Individualmente? Em grupo? A arte encontra-se em um momento de revolução, de busca por novos formatos, novas linguagens e reconstruções. Já não cabe a ela, por exemplo, os personagens construídos na década de 80, nem os desconstruídos em meados de 90. Tornou-se necessária uma presença inteira, dramaturgicamente alinhada para compor narrativas originaisO teatro está em PROCESSO.

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Em processo também estão todos os que procuram uma forma de carregar nos ossos, pele, órgãos, as inquietações emergentes. É uma urgência falar de arte, de cultura, criar imagens que se misturam a outras manifestações artísticas, para movimentar e mover o espaço vivo, ir além do óbvio para que cada célula esteja totalmente presente em cena. As escolhas exigem resistência e é só com elas percorrendo as vísceras que há a possibilidade de transformar, mesmo que a passos lentos, o mundo. Um corpo subversivo.

*Ana Reimann é artista e jornalista da Smartcom Inteligência em Comunicação

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