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Pizzolatti retirava propina para não pagar 'taxa de transporte', diz delator

Carlos Alexandre Rocha, o Ceará, revelou que ex-deputado do PP de Santa Catarina, alvo da Lava Jato, ia pessoalmente ao escritório do doleiro Youssef, em São Paulo, para não ter que desembolsar 3% sobre o montante recebido

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Por Beatriz Bulla , Fabio Fabrini e Ricardo Brandt
Atualização:

O ex-deputado federal João Pizzolatti, alvo da Lava Jato Foto: Estadão

O ex-deputado João Pizzolatti (PP/SC), suposto beneficiário do esquema de propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014, fazia questão de retirar pessoalmente dinheiro em espécie no escritório do doleiro Alberto Youssef, em São Paulo, para não pagar taxa de transporte de valores - 3% sobre o montante embolsado. Na campanha de 2010 foram destinados R$ 5,5 milhões a Pizzolatti. As revelações foram feitas por Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, novo delator da Operação Lava Jato.

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Ceará atuava como entregador de dinheiro do doleiro. Entre 29 de junho e 2 de julho de 2015, ele prestou 19 depoimentos para força-tarefa composta de três defensores públicos da União, dois procuradores da República e um delegado da Polícia Federal. Todos os depoimentos do delator - integralmente gravados em meio audiovisual - foram juntados aos autos da Lava Jato em curso no Supremo Tribunal Federal sob relatoria do ministro Teori Zavascki.

O PP detinha o controle da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, um dos mais robustos focos da corrupção na estatal. O engenheiro Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato, foi indicado pelo PP para a Diretoria de Abastecimento. Para se manter no cargo, Paulo Roberto Costa direcionava a parlamentares do PP porcentual de contratos fraudados com as maiores empreiteiras do País.

Ceará afirmou que começou a prestar serviços a Youssef quando ele mantinha no Paraguai a casa de câmbios Onyx. Mais tarde, depois que Youssef foi preso no caso Banestado - evasão de divisas nos anos 1990 -, Ceará mudou de função e passou a entregar dinheiro vivo para os políticos, já no âmbito do esquema Lava Jato, entre 2008 e 2009.

Na ocasião, o doleiro Youssef se estabeleceu com escritório na Avenida São Gabriel, em São Paulo. O delator disse que sabia que o dinheiro que entregava a deputados tinha origem na corrupção, mas não sabia que era do esquema na Petrobrás.

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Além de Pizzolatti, o delator citou outros parlamentares que são alvo da Lava Jato e já foram condenados pelo juiz federal Sérgio Moro. "Nas entregas para os deputados federais o declarante sabia quem eram os destinatários; entregou dinheiro na mão dos ex-deputados federais Ioão Pizzolatti, Pedro Corrêa (PP/PE) e Luiz Argôlo (SD/BA). Além disso, entregou dinheiro ao filho do deputado federal Nelson Meurrer (PP/PR)."

O novo delator declarou. "João Pizzolatti era frequentador assíduo do escritório de Alberto Youssef; João Pizzollati ia ao escritório de Alberto Youssef pegar dinheiro em espécie, ele preferia ir pessoalmente pegar dinheiro no escritório (do doleiro) para não pagar a comissão de transporte dos valores cobrada por Alberto Youssef, que era de 3%."

Ceará declarou, ainda, que chegou a efetuar trés ou quatro entregas de dinheiro a João Pizzolatti em Balneário Camboriú, Santa Catarina, Estado do ex-deputado. Segundo ele, Alberto Youssef disse que os líderes do Partido Progressista recebiam 'valores maiores', entre R$ 150 mil e R$ 300 mil por mês; Já os 'deputados menores do Partido Progressista' recebiam cerca de R$30 mil - esse dinheiro era repassado pelos líderes do PP.

O delator afirmou que na campanha eleitoral de 2010 foram destinados R$ 5,5 milhões a João Pizzolatti e outros R$ 7,5 milhões a Pedro Corrêa - neste caso, o dinheiro de fato foi repassado às campanhas de Aline Corrêa e Roberto Teixeira, filha e genro de Pedro Corrêa.

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Ceará apontou o endereço de João Pizzolatti, em Santa Catarina, onde, segundo o delator, entregou dinheiro em espécie para o então deputado. "Morava em um apartamento na Avenida Atlântica, número aproximado 4000, oitavo andar, Edifício Nobless, em Balneário Camboriú, onde ocorreram as entregas de dinheiro. Na ocasião em que o declarante entregou moedas estrangeiras à esposa de João Pizzolatti, ela inclusive afirmou que iria entregar o marido à Polícia Federal, em razão de desentendimentos pessoais de longo tempo com ele e por saber que aquilo 'era dinheiro roubado'".

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O delator é taxativo ao falar de cifras. "Os valores das entregas de dinheiro realizadas pelo declarante em favor de João Pizzolatti eram de R$ 150 mil, R$ 200 mil ou R$ 300 mil."

Em 2015, Pizzolatti foi nomeado secretário especial de Relações Institucionais e Motivação do Investimento em Roraima. Ele tem reiterado que nunca recebeu valores ilícitos, nem para enriquecimento pessoal nem para suas campanhas eleitorais. Recentemente, quando a PF fez buscas em seus endereços em Santa Catarina, o ex-deputado do PP classificou a operação de 'truculenta'. Ele defendeu a investigação da PF, disse que está à disposição para 'dar todos os esclarecimentos', mas ponderou que não havia necessidade das buscas.

LEIA A ÍNTEGRA DA DELAÇÃO DE CEARÁ SOBRE JOÃO PIZZOLATTI

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