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Pior que ter uma doença é ser uma doença

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Por Guilherme Amaro
Atualização:
Guilherme Amaral. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A frase de Ortega Y Gasset cai bem no momento que vivemos. O coronavírus tem cobrado seu preço não somente com milhares de mortes, mas também com uma ampla e geral disrupção na economia e na vida em sociedade. Mas não só. Se prestarmos a devida atenção, ele também revelou uma moléstia mais insidiosa e nefasta.

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Não estamos preocupados com a verdade. Cada um de nós já tem sua inabalável versão da realidade e busca avidamente subsídios para suportá-la. Um tweet de uma versão conspiratória é suficiente para comprovar que o vírus é uma arma química desenvolvida pela China para dominar o mundo. A gravação de um médico compartilhada pelo WhatsApp é suficiente para alertar-nos acerca dos perigos da pandemia, mas outra de sua colega é igualmente suficiente para "anular" o relato anterior. Desinteressa se essas pessoas são reais. Basta que os áudios "façam sentido" dentro da nossa narrativa. E assim navegamos, buscando evidências para comprovar nossas "teses" como se fôssemos advogados de nossas próprias convicções.

Provamos que tudo não passa de histeria coletiva afirmando que índice de mortalidade da doença é baixo, furtando-nos propositalmente de simples contas matemáticas que levam em conta a progressão de contágio, a precariedade de nosso sistema de saúde e a informação, de organismos oficiais como a OMS, de que 20% de todos os infectados pelo coronavírus necessitam de internação hospitalar.

Sequer coramos ao afirmar que inexiste problema, pois a doença atinge "somente" idosos!

Em que momento de nossa evolução - ou involução - passamos a ignorar o conhecimento científico em prol dessa construção individual, egoísta e por vezes grotesca da realidade? Seria muito fácil culpar as redes sociais, mas o que seriam delas sem aqueles que as alimentam e delas se alimentam?

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*Guilherme Amaral, sócio do escritório Souto Correa Advogados e coordenador do Asian Desk

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