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PGR pede ao Supremo prisão domiciliar para homem que ameaçou invadir Supremo e 'destituir' ministros

Polícia Federal havia pedido prisão preventiva de Ivan Rejane Fonte Boa Pinto, mas vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo diz que, ‘não obstante a gravidade das condutas perpetradas’ pelo investigado, ‘medidas cautelares diversas são suficientes para impedir a reiteração delitiva e assegurar a eficácia da investigação’

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Por Pepita Ortega
Atualização:

Três vídeos publicados por Ivan entraram na mira dos investigadores da PF. Foto: Reprodução/Youtube

A vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo defendeu neste domingo, 31, ao Supremo Tribunal Federal que seja colocado em prisão domiciliar o homem detido por publicar vídeos em que ameaça 'invadir' e 'destituir' a corte máxima, 'pendurar os ministros de cabeça para baixo' e caçar políticos de esquerda, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Polícia Federal havia requerido a prisão preventiva (sem data para acabar) de Ivan Rejane Fonte Boa Pinto, autointitulado 'Terapeuta Papo Reto'.

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A avaliação de Lindôra, braço-direito do procurador-geral da República Augusto Aras é a de que, 'não obstante a gravidade das condutas perpetradas' por Ivan Rejane, 'medidas cautelares diversas da prisão preventiva são suficientes para impedir a reiteração delitiva e assegurar a eficácia da investigação'. A PF argumenta que a 'segregação cautelar é necessária para a garantia da ordem pública, uma vez caracterizado o perigo gerado pelo estado de liberdade'. A decisão sobre a prisão de Ivan Rejane cabe ao ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no STF.

Além da prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico, a vice-PGR pede que sejam determinados: o bloqueio de canais digitais e de grupos no Instagram e Whatsapp administrados pelo perfil do investigado; a proibição de uso das redes sociais e de quaisquer canais digitais; a vedação de concessão de entrevistas; a proibição de criação de listas de transmissão por aplicativos; e a proibição de proferir discursos de ódio e de grave ameaça a Ministros do STF e a agentes políticos, por qualquer meio, especialmente via rede social, plataforma ou aplicativo.

A Polícia Federal havia solicitado a prisão preventiva de Ivan Rejane sob o argumento de que o 'método' usado pelo investigado 'tem a capacidade concreta de atrair a adesão de outras pessoas para sua empreitada delitiva e risco de ocorrência de prática de ações violentas em período pré-eleitoral, além da potencialidade de prosseguimento na prática delitiva'.

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A corporação argumentou ao ministro Alexandre de Moraes que a análise dos materiais apreendidos durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão contra o 'Terapeuta Papo Reto' identificou que ele 'participa de grupos nos aplicativos Instagram e Whatsapp, por meio de listas de transmissão, interagindo com apoiadores por mensagens'.

Segundo os investigadores, as interações se dão com a 'intenção de potencializar o compartilhamento dos vídeos, imagens e textos produzidos, na maioria das vezes, com conteúdo criminoso, proferindo ofensas, intimidações, ameaças e imputando fatos criminosos a ministros do STF e integrantes de partidos políticos à esquerda do espectro ideológico'.

O pedido de decretação da preventiva de Ivan Rejane foi feito pela Polícia Federal em razão da 'iminência do fim do prazo da prisão temporária' que ele cumpre desde o último dia 22. Na terça-feira, 26, o ministro Alexandre de Moraes prorrogou, a pedido da PF e da PGR, a prisão temporária do investigado.

Ivan Rejane foi preso pela Polícia Federal, em Belo Horizonte, sob suspeita de crimes de associação criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Pouco antes de ser capturado, divulgou vídeo em que afirma: "Eu convoco a população brasileira a ir para dentro do STF, sim." O arquivo é intitulado "PRENDE ELE" e foi publicado no canal do YouTube 'TV Papo Reto' por volta das 7 horas da manhã de sexta, 22.

Em conclusão diferente do pedido de prisão preventiva feito pela PF, a Procuradoria-Geral da República entende que a imposição de medidas cautelares 'devem ser adequadas para fins de atingir o resultado almejado e neutralizar o risco existente, em atenção à gravidade das condutas, aos danos causados aos Ministros do STF, a agentes políticos e à própria coletividade que vive sob o regime democrático'. Para Lindôra, a prisão domiciliar cumuladas das outras cautelares 'são suficientes e adequadas para garantir a ordem pública'.

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A vice-PGR argumentou ainda que 'particularidades pessoais do custodiado também devem ser levadas em consideração', como o fato de Ivan Rejane ter uma filha de menos de três meses 'que está atualmente sob os cuidados da mãe em uma residência, que também é uma clínica de recuperação de dependentes químicos com 22 acolhidos que também estão sob os cuidados da esposa do custodiado'.

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"Para complementar, os elementos de informação até então coletados não indicam nenhuma conduta concreta do investigado de efetivamente arregimentar pessoas e organizar algum evento criminoso, com data certa e local determinado, que coloque em risco a integridade das pessoas ameaçadas. Tampouco foram encontradas armas de fogo ou outros artefatos nas buscas e apreensões que indiquem o iminente uso da violência e força para o cometimento de atentados físicos, ou mesmo o contato com pessoas de significativa periculosidade e que possam concretizar as intenções prolatadas pelo investigado", ponderou ainda Lindôra.

O parecer chegou a citar mensagens enviadas por Whatsapp pelos pais de Ivan Rejane, 'no sentido de que o propósito do filho é de "aparecer", que ele aparentemente age com a finalidade de angariar alta visibilidade com os seus vídeos'. Segundo a vice-PGR 'atualmente no mundo digital' tal conduta 'implica também uma forma de obter renda e de promoção pessoal, com eventual propósito de eventuais candidaturas a cargos políticos'.

Quando foi solicitada a prisão temporária de Ivan Rejane, a PF disse ter visto, na conduta do investigado, a prática de supostos crimes de associação criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito uma vez que Ivan 'propôs a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal e sua expulsão do país, com isso impedindo o exercício do órgão do Poder Judiciário, ameaçando reunir pessoas voltadas a um mesmo propósito de "caçar" os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Rosa Weber, e 'pendurá-los de cabeça para baixo'.

Ainda de acordo com a PF, Ivan Rejane 'com auxílio de pessoas não identificadas ("nós da direita"), com união de desígnios, ameaça os citados ministros do STF e políticos de esquerda, dizendo que vai caçar Luiz Inácio Lula da Silva, Gleisi Hoffmann, Marcelo Freixo'.

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