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PF vê elo de 2º maior fornecedor de Dilma em 2014 com homem de confiança de Paulo Bernardo

Receita Federal aponta serviços não declarados de Zeno Minuzzo, ex-chefe de gabinete do ex-ministro do Planejamento, e campanhas de Dilma Rousseff e Gleisi Hoffman; empresa Focal, de Carlos Cortegoso, é uma das que enviaram materiais endereçados ao Paraná

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Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Julia Affonso e Fabio Serapião/ BRASÍLIA
Atualização:

O ex-ministro Paulo Bernardo foi preso na Operação Custo Brasil. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Relatório da Receita Federal, anexado ao inquérito da Operação Custo Brasil - desmembramento da Lava Jato -, mostra uma ligação entre a Focal Confecções e Comunicação Visual, segunda maior fornecedora da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT), e um ex-assessor do ex-ministro Paulo Bernardo(PT), Zeno Minuzzo. A empresa pertence a Carlos Roberto Cortegoso, investigado por lavagem de dinheiro e caixa 2 para campanhas do PT.

Zeno Minuzzo é apontado como um dos braços direito de Bernardo no Paraná. Segundo a Custo Brasil, ele está envolvido no recebimento de R$ 362 mil , entre 2010 e 2015, da Consist Software - principal empresa investigada no esquema de desvios de mais de R$ 100 milhões, nos contratos de empréstimos consignados de servidores federais, via Ministério do Planejamento.

 Foto: Estadão

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No relatório, a Receita levanta suspeita sobre transações de remessa de materiais de campanha para Minuzzi, em 2014, e indica uma possível sonegação de informação sobre a prestação de serviço para as campanhas de Dilma e da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Paulo Bernardo, que em 2014 concorreu ao governo do Paraná.

De acordo com o documento, "em que pese a existência desses documentos indicarem a ocorrência de vínculo de trabalho entre Zeno Minuzzo e as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff e Gleisi Hoffman, o contribuinte não declarou ter auferido qualquer tipo de renda proveniente das referidas fonte".

 Foto: Estadão

No total, o material registrado como a ser entregue para Minuzzo e faturados por empresas fornecedoras da campanha de Dilma, que inclui a Focal, somam R$ 682 mil. Em seu relatório, a Receita informa que os pagamentos "fazem referência a entrega, a título de simples remessa, de material de campanha eleitoral da Presidente Dilma Roussef" e ao "envio de 1.000 botons com referência a Gleisi, possivelmente a Senadora Gleisi Hoffman cuja candidatura a governadora pelo estado do Paraná aconteceu em 2014".

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No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Focal aparece como uma das fornecedoras da campanha de Gleisi Hoffmann, com 16 pagamentos que totalizam R$ 163 mil.

'Garçom do Lula'

A Custo Brasil investiga lavagem de dinheiro e sonegação fiscal em negócios de Cortegoso. O Estadão revelou neste domingo. 9, que relatório da Receita Federal repassado à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal revela que, entre 2010 e 2014, uma das empresas de Carlos Roberto Cortegoso, a CRLS Consultoria e Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, de créditos e débitos, um quinto do valor declarado de receita bruta no período.

Os investigadores suspeitam de contabilidade "atípica" e caixa 2 com recursos provenientes do PT e de esquemas de propinas na Petrobrás e no Ministério do Planejamento. "A CRLS, segundo a Receita Federal, movimentou em suas contas cerca de R$ 25 milhões de entrada (crédito) e R$ 24 milhões de saída, mas declarou receita bruta de menos de R$ 10 milhões", afirmam procuradores da República da Custo Brasil.

 Foto: Estadão

Cortegoso é o dono da CRLS e da Focal, que recebeu R$ 25 milhões na última campanha de Dilma e ficou atrás apenas do publicitário João Santana (R$ 70 milhões), preso preventivamente, em Curitiba, na Lava Jato. Ambas ficam em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

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Embora a CRLS não conste da prestação de contas da campanha de Dilma, a empresa atuou por intermédio da Focal. Investigadores da Custo Brasil e da Lava Jato verificaram que as duas empresas integram um mesmo negócio. Elas compartilham equipamentos e movimentam recursos, mostram relatórios da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

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Documento da Custo Brasil sobre contas de Cortegoso e das empresas registra ocorrências suspeitas como depósitos e saques em espécie "que apresentam atipicidade em relação à atividade econômica", "movimentação de recursos incompatível com o patrimônio" e "movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, em benefício de terceiros".

No fim dos anos 1990, Cortegoso montou uma empresa de produção de camisetas e material de campanha. Com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, em 2003, o negócio cresceu rapidamente e ele virou o principal fornecedor do partido. Desde a disputa de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, ele virou o principal fornecedor de estruturas de palanques e materiais de campanha, como faixas, placas e banners. O empresário é conhecido como "garçom de Lula" por ter trabalhado em restaurante onde sindicalistas petistas se encontravam.

Em um trabalho conjunto, investigadores da Lava Jato e da Custo Brasil apuram qual a origem dessas entradas nas contas bancárias e onde foi parar o dinheiro. A força-tarefa busca provas de que pagamentos de fornecedores de campanhas do PT serviram para ocultar propinas - um risco para a campanha de reeleição de Dilma.

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A relação da Focal com a campanha de Dilma Rousseff já é alvo de uma perícia contábil no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em fase final.

 

 Foto: Estadão

Bernardo

O novo personagem das apurações de lavagem e caixa 2 nas campanhas do PT em 2014 foi apontado pelo ex-vereador do PT Alexandro Romano, o Chambinho, em sua delação premiada com a Lava Jato e a Custo Brasil. Ele afirmou à Procuradoria que "Zeno ficaria com 20% do valor repassado pela Consist" ao ex-ministro Paulo Bernardo. Zeno Minuzzo foi alvo de busca e apreensão no dia 23, quando o ex-ministro foi preso. Seis dias depois ele foi liberado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a relatório da Polícia Federal, Minuzzo foi chefe de gabinete de Paulo Bernardo, quando ele foi deputado federal. Ele aparece como destinatário de valores relacionados ao advogado Guilherme Gonçalves, que atuou na campanha de Gleisi. Segundo a Custo Brasil, seu escritório serviu para escolar os R$ 7 milhões desviados do Ministério do Planejamento, via Consist, para Bernardo.

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 Foto: Estadão

O Estado entrou em contato com o PT do Paraná, mas foi informado que Zeno não ocupa cargos nos partido.

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COM A PALAVRA, A DEFESA DA SENADORA GLEISI HOFFMANN

Questionada, a senadora Gleisi Hoffman, por meio de sua assessoria, informou que suas relações com Zeno Minuzzo "são de militância partidária, já que ele foi dirigente do partido no Paraná e daí o envolvimento com as campanhas eleitorais". Ainda de acordo com a senadora, "os recebimentos de Zeno, se ocorreram e porque ocorreram, só ele pode explicar. Em relação à empresa Focal, a senadora informou que "todos os serviços prestados para a campanha em 2014 estão descritos na prestação de contas, disponível no Tribunal Superior Eleitoral".

Ainda de acordo com a senadora, "os recebimentos de Zeno, se ocorreram e porque ocorreram, só ele pode explicar. O ex-assessor de Paulo Bernardo, Zeno Minuzzo, não foi encontrado para comentar o relatório.

COM A PALAVRA, A CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF

Por meio do advogado de sua campanha, Flávio Caetano, Dilma Rousseff (PT) informou que todas as pessoas que prestaram serviços para a campanha foram devidamente contratadas e esses contratos foram encaminhadas à Justiça Eleitoral.

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