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Após ouvir indígenas, PF volta a dizer que não encontrou indício de crime contra menina ianomâmi em Roraima

Inquérito deve ser concluído em 30 dias, após perícia em cinzas de comunidade queimada; delegado responsável vê mal entendido

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Por Redação
Atualização:

Comunidade ianomâmi de Aracaçá, em Roraima, onde indígenas teriam sido violentados por garimpeiros. Foto: Hutukara Associação Yanomami/Divulgação

A Polícia Federal (PF) reafirmou nesta sexta-feira, 6, que até o momento não encontrou indícios de violência contra indígenas da comunidade de Aracaçá, na Terra Yanomami, em Roraima. A investigação ainda não foi concluída.

O inquérito foi aberto após o líder indígena Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek'wana (Condisi YY), denunciar o estupro e o assassinato de uma menina de 12 anos por garimpeiros ilegais. As primeiras informações também acusavam os invasores de afogarem outra criança, de 3 anos, e estuprarem a mãe dela.

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A PF informou que "a natureza da denúncia não condiz com os fatos concretos e reais". Em entrevista coletiva na manhã de hoje, o delegado federal Daniel Ramos, responsável pela investigação, disse que ouviu todos os indígenas da comunidade Aracaçá e que os depoimentos apontam um "conflito de narrativas". 

"As informações se originaram de um vídeo institucional de uma ONG. Este foi assistido por um indígena que repassou as informações a outro. Este segundo indígena inferiu, a partir dos elementos que tinha, que membros de sua comunidade teriam sido vítimas da violência apresentada no vídeo", concluiu a Polícia Federal.

Os investigadores ainda aguardam o laudo das cinzas coletadas em uma cabana incendiada para saber se há material biológico. O inquérito deve ser concluído em 30 dias.

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Em nota, a Hutukara Associação Yanomami pediu uma "apuração mais ampla e aprofundada do histórico de violências vividas pelos indígenas em Aracaçá por consequência do garimpo ilegal".

"As informações obtidas até o momento confirmam o cenário desolador vivido pela comunidade a partir das relações impostas pelo garimpo, com reiterados depoimentos de violência sexual em série", diz a manifestação.

Uma nova frente foi aberta na investigação depois que representantes da Polícia Federal, Ministério Público Federal, Funai, Sesai, militares e o próprio Júnior Hekurari estiveram na comunidade de Aracaçá. O local foi encontrado vazio e em chamas. O território ianomâmi é uma das mais impactadas pelo garimpo ilegal.

A PF afirma que não há indígenas desaparecidos. "A investigação apontou que, ao menos, nove ianomâmis moram no local, sendo que seis foram contatados presencialmente no primeiro dia das diligências no local e outros três - uma mulher e dois netos - estão em Boa Vista para tratamento de saúde da mulher. Por fim, outros indígenas que residiam no local teriam se mudado para outra comunidade, conforme relatado pela própria liderança indígena que encaminhou a denúncia dos crimes", diz a corporação.

Com a repercussão do caso, deputados e senadores organizaram visitas ao local. A ministra Cármen Lúcia, Supremo Tribunal Federal (STF), citou o caso no plenário e disse que os indígenas sofrem com uma realidade de "violência e barbárie".

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