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PF na casa de Janot

Ação ocorre um dia depois de ex-procurador-geral da República, hoje advogado, ter declarado que em 2017 planejou matar a tiros ministro Gilmar Mendes, do Supremo

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo , Rafael Moraes Moura , Renato Onofre , Luiz Vassallo/SÃO PAULO e Dida Sampaio/BRASÍLIA
Atualização:

 Foto: Felipe Recondo/JOTA

Um dia após afirmar ao Estado que por pouco não executou um plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão executadas pela Polícia Federal em sua casa e escritório, em Brasília.

A ordem foi dada nesta sexta-feira, 27, pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que atendeu pedido feito por Gilmar para suspender o porte de armas de Janot e impedi-lo de entrar nas dependências do Supremo.

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A PF apreendeu uma pistola, um tablet e um celular no apartamento de Janot. As ações de busca e apreensão foram decretadas no inquérito das fake news - aberto para apurar ameaças a ministros do STF e suas famílias - e, de acordo com Moraes, tiveram o objetivo de verificar a "eventual existência de planejamento de novos atos atentatórios" contra Gilmar. "O quadro revelado é gravíssimo, pois as entrevistas concedidas sugerem que aqueles que não concordem com decisões proferidas pelos ministros desta Corte devem resolver essas pendências usando de violência, armas de fogo e, até, com a prática de delitos contra a vida", observou Moraes.

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 Foto: Dida Sampaio/ESTADÃO

Em entrevista ao Estado, Janot revelou que, em 2017, chegou a entrar armado com uma pistola no Supremo, decidido a matar Gilmar. "Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar", afirmou o ex-procurador.

Duas equipes da Polícia Federal chegaram por volta de 17h40 na casa de Janot, no bairro Asa Sul. O ex-procurador acompanhou as buscas ao lado do segurança particular e de um morador chamado pelos policiais para servir de testemunha.

 Foto: Felipe Recondo/JOTA

Além de suspender o porte de armas de Janot, de impedi-lo de entrar nos edifícios do STF e de barrar sua aproximação com ministros da Corte, Moraes também determinou o recolhimento imediato de depoimento do ex-procurador-geral, "salvo se houver recusa", "por tratar-se de direito do investigado ao silêncio'". Janot preferiu não depor.

Prédio onde mora Janot. Foto: Dida Sampaio/ESTADÃO

Reações. O episódio e seus desdobramentos chocaram o mundo político e provocaram reações de perplexidade. Janot disse ao Estado que a intenção de atirar em Gilmar foi motivada por ataques que o ministro fez à filha dele. Quando era chefe do Ministério Público, Janot chegou a pedir a suspeição de Gilmar na análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista, sob o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes.

Ao se defender, o magistrado afirmou que a filha de Janot advogava para a empreiteira OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e poderia ser "credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato". A história aparece no livro de memórias Nada Menos que Tudo, a ser lançado pelo ex-chefe do MP em outubro. Na publicação, porém, Janot preferiu "não dar nome aos bois".

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 Foto: Beto Barata/Estadão

Em tom irônico, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que "esse é o Brasil". Depois, disse que a revelação de Janot pode afetar os investimentos privados no País. "O Brasil é um país estranho. Cada dia é uma novidade. Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar um ministro do Supremo. Quem é que vai querer investir num país desse?", perguntou Maia, em um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, sobre parcerias público-privadas.

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