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PF indicia mais um ex-dirigente da Petrobrás por propina

Relatório diz que Roberto Gonçalves, ex-gerente executivo de Engenharia da estatal, recebeu 'vantagens indevidas' do Consórcio TUC nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e e Fausto Macedo
Atualização:

Edifício da Petrobrás, no Rio. Foto: André Dusek/Estadão

A Polícia Federal indiciou o ex-gerente executivo de Engenharia da Petrobrás Roberto Gonçalves por corrupção, fraude à licitação e organização criminosa na Operação Lava Jato.

A investigação aponta que Roberto Gonçalves teria recebido 'vantagens indevidas pagas pelo Consórcio TUC (representado pela UTC Engenharia), relativas ao contrato da Central de Utilidades do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)'.

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A Lava Jato já indiciou e levou para o banco dos réus muitos outros cardeais da estatal - como o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Serviços Renato Duque e o ex-diretor Nestor Cerveró, da área Internacional, todos acusados de girar a roda de um sólido esquema de propinas sob o amparo do PP, do PT e do PMDB.

Também foram indiciados o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, e o ex-dirigente da empreiteira Walmir Pinheiro Santana, por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude à licitação e organização criminosa. Ambos são delatores do esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.

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"Evidências demonstram, ao nosso ver, que de fato a UTC possuía uma estrutura que permitiu a realização de pagamentos em espécie a agentes públicos, e que serviu a realização dos pagamentos a Roberto Gonçalves, efetivados por Ricardo Pessoa como contrapartida pela atuação de Gonçalves no contrato do Comperj", afirma o relatatório da PF.

De acordo com o documento, 'pagamento em espécie, diretamente ao beneficiário, certamente dificulta o rastreio dos recursos'.

O relatório aponta, no entanto, quatro indícios de que houve pagamento de vantagem indevida a Roberto Gonçalves.

"Primeiro, a atuação de Roberto Gonçalves na contratação do Consórcio TUC resta clara, conforme indicado no Relatório da CIA da Petrobrás, não havendo dúvidas de que tenha ele atuado no sentido de garantir a contratação direta que se encontra revestida de irregularidades. Ou seja, o ato de ofício que teria ensejado o pagamento de vantagem indevida já foi identificado e atribuído a Roberto Gonçalves, após avaliação técnica da estatal Petrolífera", aponta o documento.

O segundo indício, diz a PF, é que Roberto Gonçalves admitiu que teria se encontrado com Ricardo Pessoa em um bar, no Rio, em 2013, 'muito embora não tenha provido qualquer explicação plausível para tal encontro, ocorrido entre pessoas que não teriam qualquer vínculo de amizade, e fora do ambiente profissional'.

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"Terceiro, a análise dos extratos telefônicos de Ricardo Pessoa corrobora sua afirmação de que mantinha contato constante com Roberto Gonçalves, especialmente por meio de SMS. Os contatos deram-se no período de julho de 2011 a outubro de 2013, coadunando-se, assim, à hipótese investigativa de que nesse período (a partir do qual Roberto Gonçalves já havia assumido a Gerência-Executiva de Engenharia) tenham sido ajustados e realizados os pagamentos, em locais combinados entre Pessoa e Gonçalves", registra o documento.

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A PF aponta ainda que 'a UTC de fato mantinha uma estrutura de caixa dois para pagamentos de propina em espécie, por meio da utilização de operadores financeiros'.

"Muito embora a utilização simultânea de ambos pela UTC, e com movimentação de grandes volumes de recursos, dificulte apontar com precisão qual deles foi o responsável por disponibilizar os recursos em cada um dos pagamentos alegadamente realizados por Pessoa a Roberto Gonçalves. No entanto, resta suficientemente comprovado que pagamentos em espécie eram uma prática na UTC, e que seus beneficiários eram agentes públicos."

Segundo o despacho de indiciamento, há 'também declarações de colaboradores no sentido de que Roberto Gonçalves teria recebido vantagens indevidas relativas a contratos da Sete Brasil com os estaleiros Keppel Fels e Jurong por meio dos operadores Zwi Skornicki e Guilherme Esteves'.

A reportagem procurou a defesa de Roberto Gonçalves. O espaço está aberto para manifestação.

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