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PF faz buscas contra Sérgio Reis e deputado Otoni de Paula por 'incitação a atos violentos contra a democracia'

As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República; também são realizadas diligências contra o caminhoneiro bolsonarista 'Zé Trovão', o cantor Eduardo Araújo e o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja Antonio Galvan

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Por Breno Pires , Pepita Ortega/São Paulo e Weslley Galzo/Brasília
Atualização:

O cantor Sérgio Reis e o deputado Otoni de Paula. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A Polícia Federal faz buscas na manhã desta sexta-feira, 20, contra o deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ) e o cantor Sérgio Reis. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República. De acordo com a PF, o objetivo das medidas 'é apurar o eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes'.

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A investigação está relacionada à promessa de greve nacional de caminhoneiros, feita em áudio e vídeo atribuídos a Sérgio Reis. De acordo com o cantor, aliado do presidente Jair Bolsonaro, o ato seria contra os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Lideranças dos caminhoneiros afirmam que o artista não os representa. Ao todo, 29 mandados de busca e apreensão são cumpridos pela PF no âmbito das investigações, solicitadas na segunda-feira, 16. De acordo com a corporação, as diligências são realizadas no Distrito Federal , e nos Estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará e Paraná.

O Estadão apurou que pelo menos um empresário do agronegócio, que estaria financiando o movimento, também é alvo das buscas. Trata-se do produtor rural Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja. Galvan participou de encontro em que Sérgio Reis apresentou a proposta de convocar a paralisação das atividades dos caminhoneiros, em defesa do voto impresso e contra os ministros do STF.

Outro alvo da ofensiva é o caminhoneiro conhecido como Zé Trovão, que publicou vídeo no youtube exibindo o mandado de busca e apreensão cumprido em sua casa, além da intimação para que ele compareça à PF na tarde desta sexta-feira. Apoiador do presidente, o caminhoneiro já gravou vídeo ao lado de faixa com a frase 'O poder emana do povo, e o povo exige intervenção militar com Bolsonaro no poder'. Na gravação, publicada há quatro meses, Zé Trovão afirma: "A nossa salvação inteira está aqui, as Forças Armadas, eles são os únicos que podem resolver o problema dessa pátria. [...] Vamos montar acampamento. Acampamento, pessoal. É acampamento, definitivo, pelo tempo que for necessário, para que nossas ações sejam entendidas pelos grandes generais desse país. O poder emana do povo, e o povo exige intervenção militar já, com Bolsonaro no poder."

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Assim como Zé Trovão, Otoni de Paula também comentou as buscas realizadas em sua casa. Em live realizada nas redes sociais esta manhã, ele indicou que foi intimado a comparecer à Polícia Federal para prestar depoimento. No vídeo, disse que os agentes levaram seu celular e um laptop e voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes. "Não vou recuar um milímetro do que a Constituição me permite, mas estamos vivendo um estado de exceção no Brasil", afirmou, acusando Moraes ter comportamento 'ditatorial'.

O deputado já foi denunciado por difamação, injúria e coação contra o ministro do STF em razão de vídeos em que chamou Alexandre de 'déspota', 'lixo' e 'esgoto do STF'. Além de ser alvo de tal processo, no âmbito criminal, Otoni foi condenado a indenizar o ministro do STF em R$ 70 mil em razão de ataques nas redes sociais em que chamou Alexandre de 'cabeça de ovo' e 'cabeça de piroca', além de fazer comentários como 'Alexandre de Morais você é um lixo' e 'você é um esgoto'.

COM A PALAVRA, OTONI DE PAULA

Em seu perfil no Twitter o parlamentar divulgou a seguinte nota: "Sobre a busca e apreensão que sofri a em minha residência, a pedido da PGR, assinada pelo Min Alexandre de Moraes, afirmo que não tenho o que temer, pois nunca incitei a população contra as instituições basilares da República, mas sou e continuarei sendo critico ao comportamento de ministros do STF, que embora não pareçam, são servidores públicos, como qualquer um que trabalha para o estado brasileiro. Querem confundir crítica a pessoa com crime contra as instituições. Nenhum ministro é o STF, assim como nenhum deputado é a Câmara Federal. Lembrando que já tive todos os meus sigilos quebrados, sem que nada houvesse sido encontrado contra mim. Quanto a ter adjetivado o Min Alexandre de Moraes de "déspota, lixo e esgoto do STF", fui processado por ele e estou recorrendo da sentença de pagamento de indenização".

COM A PALAVRA, A APROSOJA

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Após a repercussão do áudios atribuídos a Sérgio Reis e antes da deflagração da operação que mirou seu presidente, Antonio Galvan, a Aprosoja divulgou a seguinte: 

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"Com o objetivo de levar esclarecimento à sociedade a respeito de notícias publicadas em veículos de circulação nacional sobre manifestações marcadas para o dia 7 de setembro de 2021, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) declara que: 

o não financia e tampouco incentiva a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) ou quaisquer atos de violência contra autoridades, pessoas, órgãos públicos ou privados em qualquer cidade do País.

o sempre defendeu de forma peremptória o Estado Democrático de Direito e o equilíbrio entre os Poderes da República e continuará a ter a mesma postura republicana em defesa do pleno funcionamento das instituições e o respeito aos representantes das esferas de poder no País. É missão da entidade, inclusive, cooperar com os órgãos oficiais.

o há mais de 30 anos representando de forma legítima 240 mil sojicultores e suas famílias, a entidade não concorda e não apoia manifestações que preguem trancamento de rodovias, ações desordeiras e outras quaisquer que prejudiquem o abastecimento de alimentos, medicamentos e bens essenciais à população, bem como seu direito de ir e vir.

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o historicamente, a Aprosoja Brasil somente apoiou movimentos pacíficos e em conformidade com a Carta Constitucional brasileira.

o todos os recursos da Aprosoja Brasil são destinados e utilizados exclusivamente em atividades que tenham pertinência com seus objetivos estatutários, visando sempre a defesa dos interesses dos produtores de soja. As contas da entidade são integralmente auditadas para que o mais alto nível de ética e compliance seja alcançado.

Portanto, a associação não possui qualquer ligação com atos que defendam "invadir" ou "quebrar" o STF, não responde institucionalmente pela organização de nenhum movimento e repudia qualquer publicação que vincule a associação a movimentos violentos ou ilegais.

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