Rayssa Motta e Fausto Macedo
19 de agosto de 2020 | 07h27
Agentes estão cumprindo mandados de prisão e busca e apreensão. Foto: Polícia Federal
A Polícia Federal, em cooperação com o Ministério Público Federal, deflagrou na manhã desta quarta-feira, 19, a Operação Navegar é Preciso, fase 72 da Lava Jato para combater suposta fraude em licitação da Transpetro, subsidiária da Petrobrás responsável pelo transporte de combustível e pela importação e exportação de petróleo e derivados, para compra e venda de navios.
Os agentes cumprem seis mandados de busca e apreensão em Alagoas, São Paulo, Niterói e Rio de Janeiro e dois de prisão na capital paulista, todos expedidos pela 13ª Vara Federal em Curitiba.
Os alvos das ordens de prisão são os irmãos Germán e José Efromovich, donos do estaleiro Eisa – Estaleiro Ilha S.A e acionistas da Avianca Holdings, que não é investigada. A Lava Jato pediu a detenção preventiva dos empresários, mas por causa da pandemia a Justiça decretou regime domiciliar. Além disso, eles tiveram bens e valores bloqueados na ordem de R$651 milhões.
Germán e José Efromovich. Fotos: CARLOS VERA/REUTERS/29/03/2016 e HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO/15/06/2012
A suspeita é que os Efromovich tenham pago R$40 milhões em propinas ao ex-presidente da estatal, Sérgio Machado, em troca de um contrato de R$ 857 milhões para fornecer os navios firmado no âmbito do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef). O prejuízo com a contratação, classificado pela PF como ‘assombroso’, é estimado em cerca de R$ 611 milhões.
“Verificaram-se evidências de que o favorecimento da Transpetro em relação ao estaleiro teria ocorrido também no decorrer da execução do contrato, exemplo disso seriam as sucessivas prorrogações nos prazos para a entrega dos navios e aditivos contratuais que muito beneficiaram a empresa contratada”, informou a Polícia Federal.
Operação Navegar é Preciso é fase 72 da Lava Jato. Foto: Polícia Federal
De acordo com os investigadores, as propinas teriam sido depositadas entre os anos de 2009 e 2013 por meio de transferências em contas bancárias mantidas pelo filho de Sérgio Machado, Expedito, na Suíça. Na tentativa de disfarçar os pagamentos, empresas ligadas ao estaleiro e ao executivo teriam firmado contratos falsos de empréstimo e investimento.
Para os agentes, uma série de medidas de engenharia societária, confusão entre personalidades jurídicas e físicas dos investigados e das suas empresas, bem como de confusão gerencial dos alvos relacionados ao estaleiro na administração das empresas do grupo são indícios de lavagem de dinheiro, ocultação e blindagem do patrimônio.
COM A PALAVRA, GERMÁN EFROMOVICH
Após tomar conhecimento da operação, o empresário concedeu entrevista coletiva à imprensa, em que negou ter pago propinas em troca dos contratos.
“Nós ganhamos aquele contrato em uma licitação. Inclusive tem uma ação contra a Transpetro, porque não cumpriram o contrato. Eu vi a delação premiada do senhor Sérgio Machado, há uns anos atrás, onde diz que o único que não dá dinheiro para político é o Germán Efromovich. Eu nunca dei dinheiro em troca de contrato para político nenhum, nem para executivo da Transpetro. Aliás, minhas contas são transparentes, podem olhar tudo”, disse.
COM A PALAVRA, JOSÉ EFROMOVICH
A reportagem busca contato com a defesa do empresário José Edromovich. O espaço está aberto para manifestações (rayssa.motta@estadao.com)
COM A PALAVRA, A PETROBRÁS
“Petrobras e Transpetro são reconhecidas pelo próprio Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal como vítimas dos crimes desvendados. A Petrobras vem colaborando com as investigações desde 2014, e atua como coautora do Ministério Público Federal e da União em 18 ações de improbidade administrativa em andamento, além de ser assistente de acusação em 71 ações penais.
Cabe salientar que a Petrobras já recebeu mais de R$ 4,6 bilhões, a título de ressarcimento, incluindo valores que foram repatriados da Suíça por autoridades públicas brasileiras.”
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