Luiz Vassallo
25 de outubro de 2017 | 13h39
A Polícia Federal detalhou, em relatório de buscas e apreensões na Argeplan, empresa do coronel João Baptista Lima Filho – delatado por supostas propinas de R$ 1 milhão da JBS -, contratos de câmbio que totalizam US$ 1,2 milhão e ?€ 1,4 milhão relacionados à AF Consult, empresa cujo contrato com a Eletronuclear é alvo da Lava Jato. Segundo delatores, contratos para obras nas usinas renderam propinas ao PMDB.
Endereços ligados a Lima foram vasculhados no âmbito da Operação Patmos, em maio. Ele é acusado de receber R$ 1 milhão supostamente destinado ao presidente Michel Temer, segundo delatores da JBS. O coronel é amigo do presidente há mais de trinta anos.´
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A PFesmiuçou no relatório os documentos que encontrou na sede da empresa do coronel, localizada na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
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Em uma pasta apreendida, os investigadores dizem ter encontrado ‘documentos relativos a operação de câmbio envolvendo as empresas AF Consult do Brasil, Banco Ourinvest S.S. e Dascam Corretora de Câmbio’.
Já outro item encontrado pelos investigadores é a ‘Pasta Ourinvest’, com contratos para operações de derivativos com a empresa Ourinvest’, a PF encontrou contratos de câmbio que, se somados, atingem os valores de US$ 1,2 milhão e ?€ 1,4 milhão.
Dos 8 contratos de câmbio, seis são datados dos meses de março e abril. A soma dos valores chega aos R$ 881 mil. Os outros dois contratos são de setembro de 2017.
O protocolo de entrega de um destes contratos da empresa AF Consult à Ourinvest foi achado pelos investigadores em uma pasta transparente:
“O item n.0 9 apresenta diversas folhas impressas com protocolo de entrega da empresa AF Consult do Brasil Ltda, com CNPJ 08.307.539/0001- 08, para a empresa Ourinvest em que os documentos enviados são contratos de câmbio e o contrato de câmbio n.0 146892341, citado na relação do item 2, com data de 28/03/2017, com operação no valor de R$ 3.800.000,00 (três milhões e oitocentos mil reais), valor em moeda nacional, que correspondeu ao valor de USD 1.214.173,88 (um milhão, duzentos e quatorze mil, cento e setenta e três dólares dos Estrados Unidos e oitenta e oito centavos)”, detalham os investigadores.
A Argeplan, do coronel Lima, constitui o quadro societário da AF Consult, sediada na Avenida Kennedy, em São Bernardo do Campo, no ABC (Grande São Paulo).
A empresa no ABC foi subcontratada pela finlandesa AF Consult Ltd, ao lado da Engevix, no âmbito de contrato de R$ 162 milhões, em 2010, com a Eletronuclear, para obras em Angra 3.
O termo é um dos que, segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato, teriam rendido propinas ao almirante Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear condenado a 43 anos de prisão.
Angra 3 teria envolvido o pagamento de propinas de 1% nos contratos ao PMDB, partido de Temer, segundo relataram à força-tarefa delatores das empreiteiras UTC, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa.
Um trecho da denúncia, oferecida em 2015 contra os executivos e o ex-presidente da Eletronuclear, mostra que um funcionário da Engevix encaminhou ‘um e-mail ao denunciado José Antunes dizendo que Othon Luiz iria convocar as pessoas de Roberto e Lima para fechar o assunto do aditivo, e que José Antunes também seria convidado para reunião.
“Roberto e Lima são pessoas ligadas à AF Consult. Na mensagem, Samuel Fayad escreve que percebeu um movimento da AF para afastar a Engevix”, diz a denúncia.
Apesar da menção, a Lava Jato não especifica quem é o ‘Lima’ da AF Consult’ e ele não é um dos denunciados.
Na casa de Lima, ainda foi encontrada ‘cópia encadernada do processo n.0 0510926-86.2015.4.02.5101, que tem como réu Othon Luiz Pinheiro da Silva e outros’.
Ainda foram encontrados documentos de contabilidade da campanha de Michel Temer à Câmara, em 2002.
“Verificou-se na posse da empresa vistoriada vários documentos que, aparentemente, não seriam de interesse da empresa Argeplan Arquitetura & Engenhearia, como é possível verificar diante da posse de diversas informações a respeito de Michel Temer”, diz o relatório.
COM A PALAVRA, A DEFESA DO CORONEL LIMA
A defesa de João Baptista Lima não vai se manifestar.
COM A PALAVRA, TEMER
A assessoria de imprensa do presidente afirma que, ‘como Lima coordenou em varias campanhas do presidente em São Paulo, era natural que ele tivesse em sua posse esses papéis’.
COM A PALAVRA, O BANCO OURINVEST
“O Banco Ourinvest informa que todas as transações realizadas pela Instituição, sem exceção, seguem rigorosos padrões de controles internos, em completo e irrestrito alinhamento às disposições legais e regulamentares a elas aplicáveis.
Esclarece, ainda, que as operações de câmbio e termos de moeda divulgados por alguns veículos de imprensa no dia 25 de outubro de 2017 estão em conformidade com essas políticas institucionais e foram devidamente registradas no Banco Central do Brasil e B3, conforme requerido pelos seus reguladores.”
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