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PF acha mala com R$ 450 mil com ex-secretário de São Sebastião

Operação Torniquete mira supostos desvios de R$ 100 milhões em duas gestões do ex-prefeito Ernane Primazzi (PSC), que exerceu mandatos entre 2009 a 2016, com recursos da saúde e de obras públicas

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Por Julia Affonso
Atualização:

 Foto: Reprodução/PF

A Polícia Federal encontrou uma mala com R$ 450 mil em dinheiro na casa de Marcelo Luis de Oliveira, ex-secretário de Assuntos Jurídicos de São Sebastião (SP) - litoral Norte do Estado -, investigado na Operação Torniquete. A investigação mira supostas irregularidades e desvios de R$ 100 milhões nas duas gestões do ex-prefeito Ernane Primazzi (PSC), que exerceu mandatos entre 2009 a 2016, com recursos da saúde e de obras públicas.

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 Foto: Reprodução/PF

Segundo a PF, a Operação Torniquete apura um esquema de propina em contratos da Prefeitura de São Sebastião entre 2009 e 2016.

"Fraudes envolviam alto escalão do governo municipal e eram coordenadas pelo então prefeito", diz nota da corporação.

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A investigação teve início em 2016 'com a finalidade de apurar denúncias de desvios de recursos públicos repassados pelo município ao Hospital de Clínicas de São Sebastião, sob intervenção municipal desde 21 de agosto de 2007'.

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No decorrer da investigação, diz a PF, além de irregularidades na intervenção no Hospital de Clínicas, 'descortinou-se um cenário de corrupção sistêmica, envolvendo secretarias municipais e contratos firmados com diversas empresas prestadoras de serviços'.

Os indícios apontam suposto envolvimento de ex-secretários municipais de Saúde, de Habitação e Planejamento, de Obras, das Administrações Regionais, de Administração, de Assuntos Jurídicos e de Fazenda e de 'outros servidores de menor escalão hierárquico, sob o comando do então prefeito e de empresas que mantinham contratos com o poder público municipal'.

Interceptações telefônicas e escutas ambientais feitas pela Polícia Federal indicaram a participação direta de integrantes do primeiro escalão do governo municipal nas negociatas e de outros servidores públicos municipais.

"O então prefeito (Ernane Primazzi ) era quem coordenava as fraudes e o desvio de recursos públicos", afirma a PF.

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A investigação mira aproximadamente R$ 400 milhões em contratos públicos suspeitos. A PF estima um desvio de mais de R$ 100 milhões 'por meio do superfaturamento de serviços, serviços remunerados porém não realizados, ou serviços prestados com qualidade/quantidade inferior à estipulada no contrato'.

A pedido da PF e da Procuradoria, foram afastados temporariamente da função pública dez servidores públicos. Dezesseis investigados foram proibidos de frequentar as dependências de órgãos municipais e de se ausentarem do país. Eles têm até 24 horas para entregar seus passaportes na Polícia Federal.

Operação Torniquete cumpre 39 mandados de busca e apreensão em órgãos públicos municipais, empresas e residências de investigados nas cidades de São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, São José dos Campos e São Paulo.

As medidas cautelares deferidas incluem também a indisponibilidade de bens dos investigados, entre eles o ex-prefeito e seus familiares, ex-secretários municipais, servidores públicos e empresários. Para cada um, o bloqueio pode ser de até R$ 118,3 milhões. A quantia corresponde ao valor total já apurado de repasses de recursos públicos federais da saúde e contratos ilegais firmados no período entre órgãos da Prefeitura e as empresas investigadas para a prestação de diversos serviços à população.

Como parte da atuação conjunta, o Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo também ofereceu hoje seis representações ao Tribunal de Contas paulista contra empresas contratadas por São Sebastião durante o período investigado. Quatro delas se referem à construção de centros de saúde e a obras de urbanização. As demais correspondem a firmas que prestaram serviços ao Hospital das Clínicas da cidade e para edificação e reforma de três Unidades Básicas de Saúde.

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O MPF, a PF e a CGU pretendem colher mais provas e indícios a partir de documentos e equipamentos apreendidos nesta quarta-feira. Além de serem alvo dos mandados cumpridos e do bloqueio de bens, os investigados tiveram seus sigilos bancário e fiscal quebrados, o que poderá revelar os detalhes da movimentação financeira entre os participantes do esquema.

Estão envolvidos diretamente na Operação 177 Policiais Federais e 14 Auditores da Controladoria Geral da União.

O nome da Operação faz referência ao instrumento utilizado emergencialmente para estancar casos graves de hemorragia.

COM A PALAVRA, ERNANE PRIMAZZI

O advogado Francisco Duque Estrada, que defende Ernane Primazzi, afirmou que o ex-prefeito está 'perplexo' com a Operação. Ernane Primazzi foi alvo de busca e apreensão. Segundo o defensor, 'não foi encontrado nada que o vinculasse a desvios'.

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"Com todo respeito à diligência do juiz e da Polícia Federal, me parece que há um grande equívoco, creio que foi uma medida açodada", declarou.

"Ele está perplexo, como a defesa está indignada pela medida cautelar."

O defensor afirmou que foram apreendidos 'um notebook, um celular e documentos pessoais'. De acordo com o advogado, não houve mandado de condução coercitiva - quando o investigado é levado para depor.

"Nunca foi intimado (a prestar depoimento)", disse o defensor. "Hoje apenas ele ficou sabendo da existência do inquérito. Não sabemos o teor da apuração."

COM A PALAVRA, A ECOBUS (Auto Viação São Sebastião Ltda)

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O advogado Silas D'Ávila, da Auto Viação São Sebastião Ltda (Ecobus), informou que a empresa 'está tranquila e não tem preocupação com a investigação porque está ciente de que não praticou nenhum ato ilícito'. Nesta quarta-feira, 29, a Polícia Federal fez buscas na sede da Ecobus e apreendeu documentos.

"Ainda não temos informações completas sobre a investigação, estamos aguardando acesso aos autos", declarou Silas D'Ávila. "Importante destacar que a empresa está à disposição da Polícia e do Ministério Público para todos os esclarecimentos. A empresa tem contrato com a prefeitura de São Sebastião há vários anos."

O advogado informou que o próprio Ministério Público já arquivou um procedimento relativo a contrato da empresa com a administração municipal.

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