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Petrobras: a briga por um nacionalismo de ocasião

Por Oriovisto Guimarães
Atualização:
Oriovisto Guimarães. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O Brasil é autossuficiente em petróleo, mas não possui refinarias com capacidade para refinar todo o petróleo que produz. Somos obrigados a importar gasolina e diesel. No caso do diesel, importamos 25% do que consumimos. Empresas privadas, além da Petrobras, importam esses combustíveis que não produzimos. Como a importação é em dólar pelo preço do dia no mercado internacional, é claro que elas precisam vender no Brasil com algum lucro (por mínimo que seja) para que o negócio faça sentido.

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Esta é a razão do famoso PPI(preço de paridade de importação).

Brigar com a Petrobras e trocar seus presidentes, como se eles fossem responsáveis pela guerra da Ucrânia e pelo preço do petróleo no mundo, é tolice. Se a Petrobras não mantiver o PPI, em 30 ou 40 dias teremos desabastecimento, pois os postos de combustíveis não terão o suficiente para vender para todos. No caso do diesel, 25% da nossa frota de caminhões ficará parada. Além da necessidade do PPI, é importante lembrar que, considerando todas as ações da Petrobras, apenas 28% delas pertencem ao governo brasileiro. Isto significa que 72% do capital da Petrobras é privado (O governo tem 50,38% das ações ON com direito a voto).

Uma empresa assim constituída com capital privado e ações na bolsa de valores precisa obedecer regras de governança. Seus diretores responderiam na justiça se praticassem preços abaixo do PPI. Enfim a Petrobras é só mais uma empresa no mercado, nada mais do que isso.

Empresas existem para obter lucro e distribuí-los a seus acionistas ou reinvestir os lucros em mais equipamentos e produção. Esta história de que o petróleo é nosso, que a Petrobras é nossa, teve o seu valor no século passado, e opôs privatistas e nacionalistas pelas recentes descobertas de que havia petróleo abundante nas profundezas do solo brasileiro. É inegável a relevância de Getúlio Vargas, criador da então estatal Petrobras, do escritor Monteiro Lobato, que escreveu um livro-denúncia com os obstáculos à exploração do petróleo, e de todos os brasileiros que vieram, ao longo dos anos, transformando a Petrobras em empresa referência no mercado mundial. Mas é preciso aceitar que o mundo e as leis de mercado evoluíram e que, hoje, as brigas por um nacionalismo de ocasião fazem parte, apenas, do jogo político, especialmente em ano eleitoral, quando cada centavo de redução nas bombas de combustível pode, em tese, significar mais um voto na urna.

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Se o governo quer subsidiar o diesel ou a gasolina, que faça isso ele mesmo, com dinheiro público. É inútil demitir presidentes da Petrobras e demonizar a companhia, como tem sido feito pelos presidentes da República, Jair Bolsonaro, da Câmara, Arthur Lira, e por outros políticos que usam a retórica das redes sociais para tentar uma espécie de intervencionismo branco na Petrobras.  A empresa, tantas vezes usada como trunfo das conquistas brasileiras, não pode virar algoz de um cenário do qual ela não é culpada: uma guerra entre Rússia e Ucrânia, que sacudiu os preços do petróleo além das fronteiras. O mundo inteiro está pagando os combustíveis mais caros destes últimos anos. É preciso enfrentar com realismo as dificuldades que vivemos. Mais do que o petróleo, o Brasil é nosso, e queremos, sim, menos impostos e combustíveis mais baratos, mas sem vilões imaginários alimentados pela proximidade das eleições.

*Oriovisto Guimarães, senador (Podemos/PR)

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