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Pesquisa Potencial de Integridade Resiliente e conflitos de interesse

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Por Renato Santos
Atualização:
Renato Santos. FOTO: Celso Doni/Cordel Imagens Foto: Estadão

Sabemos que existem as mais variáveis motivações para que um fraudador decida praticar a fraude; porém, os resultados da Pesquisa Índice PIR chamam atenção ao fato de que a fraude se torna mais suscetível quando não existe um benefício direto com a ação.

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A decisão entre praticar ou não uma fraude está totalmente relacionada a resiliência individual, que é a capacidade que cada pessoa tem de lidar com dilemas éticos. Resiliência não é a invulnerabilidade ao sistema a que está inserido, mas é a relação que o indivíduo tem com o risco a que está vulnerável, é um processo íntimo que se integra a um processo social.

A Pesquisa Índice PIR (Potencial de Integridade Resiliente) utilizou a base de dados da S2 Consultoria e possibilitou estudar a correlação entre o nível de resiliência do indivíduo ao se deparar com situações éticas ambíguas e a fraude de apropriação indevida em sua forma direta ou indireta. Quanto maior for a resiliência de integridade da pessoa, ou seja, a capacidade dela lidar com problemas, superar obstáculos, resistir à pressão de situações adversas, menor será a manifestação de comportamentos antiéticos.

Foram analisadas as respostas de 2.435 funcionários e candidatos de 24 empresas privadas situadas no Brasil, resultado de perguntas realizadas por questões de múltiplas escolhas, dissertativas e relatos em vídeo, o que possibilitou a análise aprofundada.

A análise dos dados levanta uma perspectiva que merece atenção: quando os dilemas versam sobre apropriação indevida indireta como "Pagamentos Indevidos", o grau de resiliência do indivíduo tende a diminuir. A atenção recomendada abre um curso prático de ação: o investimento em conscientização pormenorizada em dilemas não explícitos.

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Uma possível explicação para esses resultados é o que quanto maior o risco de conflito de interesses nas relações entre os profissionais das organizações e fornecedores, maior a tendência de pagamentos de valores de maneira antecipada como forma de troca de gentilezas.

Em termos práticos, a pesquisa fomenta um olhar para além do mercadológico nas relações profissionais das organizações, tanto interno quanto externo, quando demonstrou que o conflito de interesses gerado não por motivadores financeiros diretos, mas por laços pessoais estão presentes no potencial pagamento indevido da organização para com seus fornecedores.

Assim, as organizações devem refletir o quanto treinamentos genéricos sobre ética e compliance, formas precárias de contratação de mão-de-obra e a ausência de campanhas rotineiras sobre dilemas éticos profissionais podem contribuir para a formação de grupos com menor resiliência ética e ampliar a possibilidade de problemas relativos à apropriação indevida.

As organizações precisam não apenas declarar a intolerância a desvios evidentes e diretos, mas também investir na ampliação da percepção moral do indivíduo, por meio do investimento na instrução. E instrução, por sua vez, é mais ampla do que capacitar exclusivamente à atividade profissional em sua dimensão técnica. Daí a necessidade das organizações investirem em programas de promoção da ética: elaboração de código de conduta, comunicação permanente e recrutamento centrado na observância da ética com aplicação de testes de integridade.

* Renato Santos é diretor acadêmico do IPRC (Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental) e sócio da S2 Consultoria, especializada em prevenir e tratar atos de fraude e assédio nas organizações

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