
A Ordem dos Advogados do Brasil deu, na última quinta-feira (17/6), importante passo para modernizar a profissão e abandonar preconceitos do século passado. O Conselho Federal da entidade flexibilizou regras de publicidade ao aprovar dois dos 14 artigos do novo provimento apresentado ao presidente Felipe Santa Cruz pelo Grupo de Trabalho da Publicidade, liderado pelo corregedor Ary Raghiant Neto. A votação dos demais artigos continuará no próximo dia 28.
Embora ainda conceitual, a mudança já permite ampliar o cardápio de opções de divulgação na advocacia. Claro, aceitar que o marketing jurídico existe não provocará nenhuma mudança radical imediata. Feita internamente ou por meio de terceiros, há muitos anos a atividade é parte do dia a dia das bancas mais estruturadas. Virou prioridade depois que o isolamento social e a adoção do home office, principalmente depois da pandemia de Covid-19, obrigaram as bancas a ampliar investimentos em comunicação digital. Pesquisa feita pela consultoria Lets Marketing identificou o marketing como principal investimento nos últimos meses em 53% dos 62 escritórios consultados, segundo o jornal Valor Econômico.
Enquanto práticas específicas, como o uso de redes sociais, aguardam aprovação, ampliar a extensão da publicidade já é um grande negócio. Dá contornos mais profissionais a essa área, obrigada tantas vezes a se esgueirar entre os confusos limites disciplinares não só normativos, mas também das decisões de tribunais de ética, muitas delas contraditórias.
Com maior segurança agora garantida, o resultado esperado é maior investimento em publicidade por parte das sociedades e de estratégias mais acessíveis a pequenos escritórios e advogados autônomos, estes quase sempre obrigados a fazer sua própria divulgação, sem experiência ou formação específica. A qualidade e a frequência da comunicação dos advogados com o público, portanto, devem aumentar.
Dar publicidade não é sinônimo de vender mercadorias, isso a OAB mostrou ter entendido. Resta ainda, na retomada dos debates, evoluir também em relação às ferramentas disponíveis para a comunicação nas redes sociais e no Google, especialmente as relacionadas a transmissões ao vivo e ao impulsionamento de mensagens dirigidas a públicos específicos. Ainda segundo a consultoria Lets Marketing, após o isolamento social iniciado no ano passado, 71% dos escritórios passaram a usar as redes sociais como meio de se tornar conhecidos, um crescimento de 18% em relação ao levantamento anterior.
Esses números tendem a aumentar. Dos 13.327 profissionais ouvidos pela Ordem para elaborar a proposta de flexibilização agora em votação no Conselho Federal, 82% foram favoráveis à publicidade da advocacia nas redes sociais e 79% afirmaram querer utilizar plataformas digitais para intermediação e divulgação de serviços. Tal contingente, que já não pode ser ignorado, tem nos jovens advogados sua principal fatia. Em janeiro, o Colégio Nacional de Presidentes da Jovem Advocacia enviou ao presidente da OAB e aos presidentes das seccionais de todo o país proposta de norma permitindo plataformas de compartilhamento de vídeos, aplicativos e colunas em sites e blogs jurídicos, além de reuniões, atendimentos e consultas online por meio de aplicativos como o Zoom. Práticas já mais do que incorporadas ao cotidiano de qualquer profissional.
*Alessandro Cristo é coordenador da Original 123 Comunicação