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Pela defesa de uma profissão secular

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Por Marília Paiva
Atualização:
Marília Paiva. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A biblioteca do mosteiro beneditino, numa cidadezinha do interior da Itália, ocupa espaço central em O nome da rosa, um dos romances mais célebres de Umberto Eco. A trama é ambientada no século XIV e explora o papel dos livros como ferramenta de disseminação do conhecimento, sendo uma arma poderosa que deve ser mantida em segurança, inacessível para muitos. A importância dada hoje ao conhecimento e, principalmente, às bibliotecas e seus profissionais é bem diferente do que era no romance de Umberto Eco. Embora exista no Brasil uma lei federal de 1962 (Lei 4.084) garantindo que "o exercício da profissão de Bibliotecário, em qualquer de seus ramos, só será permitido aos Bacharéis em Biblioteconomia, portadores de diplomas expedidos por Escolas de Biblioteconomia de nível superior, oficiais, equiparadas, ou oficialmente reconhecidas"; os estados e municípios da União ainda contam com um baixo percentual de bibliotecários em bibliotecas públicas, escolares e especializadas.

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Considerando a biblioteca como metáfora do mundo, Eco mostra que, embora muitos quisessem ter a sorte de serem designados ao trabalho de bibliotecário, o ofício era restrito a pouquíssimas pessoas. Ninguém, além do bibliotecário, era capaz de se orientar pelos corredores labirínticos repletos de livros e "maldições dos nigromantes". E ninguém, além do bibliotecário, saberia se manter vivo num espaço ao mesmo tempo tão rico e tão frágil.

Hoje, as bibliotecas são muito mais complexas, reúnem um volume inimaginável de itens e tipos, comparando-se com as bibliotecas de séculos passados e o bibliotecário ainda é o profissional que pode dominar essa "selva selvagem" de livros, nas palavras de Ortega y Gasset. Os registros do conhecimento, em suportes muito diversificados, além do livro impresso, ainda são imprescindíveis para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, desde as crianças engatinhando no mundo do conhecimento até o cientista que tenta criar uma melhor forma de lutar contra um vírus novo e mortal.

Para garantir que o poder público cumpra a lei e designe profissionais de biblioteconomia para as funções que só eles podem ocupar e proporcionar  que as pessoas tenham acesso a serviços e produtos de qualidade em bibliotecas e outras unidades e serviços de informação, o Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª região (CRB6) luta incansavelmente nos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. São décadas de fiscalização, autuação e diálogo com os gestores públicos, buscando garantir que os cidadãos, em seus diversos momentos de formação, tenham acesso adequado e democrático à cultura escrita: literatura, reflexão, história e ciência, conforme a necessidade e o desejo de cada um.

Para bem cumprir sua missão, o CRB6 conta com a participação dos profissionais em particular, mas de toda a sociedade também. Qualquer cidadão pode contatar o CRB6 para denunciar, tanto a falta de bibliotecas em escolas, por exemplo, quanto a existência dessas unidades de informação sem a presença de um profissional bibliotecário. Não é aceitável que séculos depois daquele tempo retratado por Umberto Eco, o acesso aos livros e ao conhecimento ainda seja para poucos iniciados, e não para todos. Infelizmente, para alguns gestores o acesso ao conhecimento ainda parece ser perigoso ou indesejável.

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*Marília Paiva, presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia Região da 6.ª Região

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