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Pazuello diz à PF que Bolsonaro pediu 'informalmente' para averiguar se havia 'irregularidade' no contrato da Covaxin

Atualizada às 18h34*

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Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Em depoimento prestado à Polícia Federal na manhã desta quinta-feira, 29, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro lhe pediu que 'averiguasse se estava ocorrendo alguma irregularidade' no contrato da vacina indiana Covaxin durante uma conversa 'informal' no Palácio do Planalto. O general disse que solicitou ao ex-secretário executivo da pasta, Élcio Franco, que verificasse o contrato, tendo recebido um retorno de que seu número 2 havia feito uma apuração e não constatado irregularidades no contrato.

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Pazuello foi ouvido na sede da Polícia Federal em Brasília nesta manhã tanto por investigadores que atuam no inquérito sobre suposta prevaricação de Bolsonaro no caso Covaxin, como por agentes da PF que investigam as irregularidades no contrato da vacina indiana, a mando do ministro da Justiça Anderson Torres. Os detalhes do relato do general foram divulgados pela CNN e confirmados pelo Estadão.

O general deixou a PF por volta de 14h30 e não conversou com jornalistas à porta. Após o término das oitivas, o senador Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, afirmou em seu perfil no Twitter: "Pazuello, que mentiu à Comissão, confirmou: as graves ilegalidades da vacina superfaturada não foram investigadas. É o caso de prevaricação de rebanho".

Pazuello disse à PF que, na época em que se deu pedido 'informal' do presidente para verificação do contrato da Covaxin, 'o panorama não era de um ambiente de gravidade'. O general alegou se lembrar da 'informalidade' da conversa com Bolsonaro porque 'despachava com o presidente inclusive em pé'.

Com relação à verificação que teria sido feita por seu número 2, o ex-ministro da Saúde disse não saber qual foi o tipo de 'apuração' que Élcio Franco 'realizou', nem se outras pessoas participaram da mesma. Além disso, afirmou não se lembrar de, após receber a resposta de Élcio Franco, ter informado Bolsonaro. "Como o assunto foi tratado numa situação de normalidade de 'denuncismo', tanto esse quanto outros assuntos, foram analisados da mesma maneira", registra ainda outro trecho do depoimento de Pazuello.

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O inquérito que mira Bolsonaro foi instaurado após decisão dada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, no último dia 2. Na ocasião, a ministra atendeu um pedido da Procuradoria-Geral da República - apesar de esta ter defendido, em um primeiro momento, aguardar o fim da CPI da Covid antes iniciar as apurações. Após Rosa negar tal pedido, a Procuradoria solicitou a instauração do inquérito.

A investigação tem origem em uma notícia-crime oferecida pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) a partir das suspeitas tornadas públicas na CPI da Covid. No sistema do STF, a petição impetrada pelos parlamentares já foi reautuada como inquérito.

O caso foi levado ao STF depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão do parlamentar, Luís Ricardo Fernandes Miranda, que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, afirmaram em depoimento à comissão parlamentar que o presidente ignorou alertas a respeito de suspeitas de corrupção no processo de aquisição do imunizante fabricado pelo laboratório Bharat Biotech.

No dia 24 de junho, quase três meses depois de ter sido informado pelo deputado Luis Miranda sobre as possíveis irregularidades no processo de aquisição da vacina, o presidente ainda não havia acionado a PF para investigar o caso, conforme apurou o Estadão com fontes na instituição. O inquérito para apurar as denúncias apresentadas por Luís Miranda a Bolsonaro só foi instaurado no dia 30 de junho a mando de Anderson Torres, ministro da Justiça e Segurança Pública.

O crime de prevaricação está previsto no artigo 319 do Código Penal, com pena de até um ano de detenção. No caso envolvendo o presidente e a Covaxin, a imputação é a de não comunicação de uma suposta irregularidade para que pudesse ser investigada. Especialistas ouvidos pelo Estadão indicam que o presidente pode não só ter cometido crime de prevaricação, mas também de condescendência com o crime e, até mesmo, de responsabilidade.

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