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Paulo Okamotto revelou pagamento de empréstimo do PT com contrato da Petrobrás, diz Valério

Réu da Lava Jato, publicitário mineiro condenado e preso no mensalão afirmou que presidente do Instituto Lula contou a ele que Banco Schahin emprestou R$ 12 milhões ao partido via Bumlai, o amigo de Lula, valor compensado com contrato de operação de navio-sonda da estatal; metade do valor seria para pagar 'chantagem' contra Lula, Dirceu e Gilberto Carvalho

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Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Julia Affonso e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O publicitário Marcos Valério - condenado e preso no mensalão - afirmou nesta segunda-feira, 12, ao juiz federal Sérgio Moro que foi o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que revelou que o PT havia feito empréstimo no Banco Schahin, em 2004, e que o valor teria sido pago com contrato da Petrobrás. Ele é réu em processo que aponta empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin, em 2004, tomado pelo partido em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, e nunca pago formalmente.

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"Quem me contou essa história toda foi o senhor Paulo Okamotto", afirmou Valério, réu da Lava Jato, em Curitiba, por lavagem de dinheiro, em parte da operação de repasse dos R$ 12 milhões do PT. "Em uma dessas conversas (com Okamotto) fiquei sabendo que o senhor José Carlos Bumlai tinha feito o empréstimo e que eles tinham pago o empréstimo com o financiamento lá da sonda."

A força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, sustenta no processo que, em 2004, o PT conseguiu no banco Schahin, por meio de um empréstimo fraudulento em nome de Bumlai, R$ 12 milhões. Metade teria sido enviada para o empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto e outra metade para os publicitários Armando Peralta e Giovanni Favieri, responsáveis por uma campanha de prefeito de Campinas, ligados ao ex-governador Zéca do PT - responsável por aproximar Lula e Bumlai.

A dívida nunca foi quitada diretamente, mas sim com um contrato do esquema de cartel e corrupção na Petrobrás dirigido para o Grupo Schahin de operação de um navio-sonda, usado para explorar petróleo em alto mar - negócio de US$ 1,6 bilhões, fechado em 2009.

Comitê de crise. Valério lembrou que durante o processo do mensalão, ficou sabendo por Okamotto que passou a acompanha-lo durante o escândalo. "O PT tem a mania de montar comitê de crise. E durante o mensalão, eles montaram o comitê de crise e esse comitê de crise era toda segunda-feira dentro do Palácio (do Planalto). E nesse comitê de crise, no meu primeiro depoimento,apareceu uma pessoa que eu nunca vi na minha vida. E eu tenho testemunha que essa pessoa apareceu, porque ele foi na casa de uma funcionária minha, aonde eu estava com um monte de gente, e ele entrou lá dentro. Chama-se Paulo Okamotto."

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Segundo ele, o fato teria ocorrido antes do primeiro depoimento que deu à comissão parlamentar de inquérito (CPI) aberta para apurar o caso do mensalão. "Ele se apresentou e eu nunca tinha o visto. Se apresentou, conversamos sobre tudo que tinha acontecido, o escândalo todo e foi se passando o tempo. Esse Paulo Okamotto é que ficou me pajeando o tempo todo. Tenho testemunha que eu me encontrou com ele não uma mas N vezes."

Valério lembrou que Okamotto ficava em um hotel, Academia de Tênis, onde tinha um quarto fixo. Lembrou também de reuniões em São Paulo.

Chantagem. Marcos Valério foi interrogado por Moro, junto com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, como réu em processo por crime de lavagem de dinheiro. O processo trata dos R$ 6 milhões - parte dos R$ 12 milhões - repassados para o empresário Ronan Maria Pinto, dono de empresas de ônibus do ABC paulista. O dinheiro serviu para a compra do controle acionário do jornal Diário do Grande ABC e também para aquisição de ônibus para suas empresas de transporte público coletivo.

Em 2012, em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), no processo do mensalão, o publicitário já havia revelado suposto repasse de R$ 6 milhões a Ronan por suposta chantagem. Ele teria tomado conhecimento porque foi acionado pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, para fazer esse repasse.

"Foi explícito isso, o ministro José Dirceu, o presidente Lula e o senhor Gilberto Carvalho estavam sendo chantageados", afirmou Valério. Segundo ele, quem disse isso foi Sílvio Pereira. Apesar de ter assinado um contrato fictício entre sua empresa 2s Participações e a Remar, que repassou valores para a Expresso Santo André, de Ronan, ele disse não ter participado o repasse.

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Silvio Pereira teria dito a ele, em 2004, que "o presidente está com um problema muito sério, está sendo chantageado por uma pessoa, e essa pessoa está exigindo um recurso no valor de R$ 6 milhões". "Em 2004, eu estava na SMP&B Comunicação e recebo um telefone do senhor Sílvio Pereira", afirmou. A SMP&B teria sido acionada porque "tinha recursos a repassar" ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, do esquema do mensalão.

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O publicitário diz ter buscado informações sobre Ronan Maria Pinto e o que ficou sabendo "não agradou". "Chamei o Sílvio Pereira novamente, em Brasília, logo que ele saiu do Palácio (do Planalto). É notório, se o senhor pegar na quebra do sigilo telefônico na agenda do Palácio, eu tive lá umas 600 vezes."

Valério disse que Silvio Pereira estava "maluco". "Não vou fazer, não vou transferir e o assunto é tão sério que eu acho o senhor deveria arrumar alguém de confiança do senhor presidente para resolver esse assunto. Usei o termo 'me inclua fora disso'."

Janene. Valério afirmou ainda que foi o ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010 e origem da Lava Jato, que montou o contrato fictício de sua empresa com a empresa de Ronan, para justificar o repasse dos R$ 6 milhões do PT para o dono do jornal do ABC.

Segundo Valério, era Janene que tinha relação comercial com Enivaldo Quadrado, dono da Bônus-Banval, corretora de valores envolvida no mensalão. "Eu assinei e fique de transferir os recursos através de transferência eletrônica." O valor não chegou a ser repassado, diz o réu.

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COM A PALAVRA, O ADVOGADO FERNANDO AUGUSTO FERNANDES, DEFENSOR DE PAULO OKAMOTTO

O advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou. "Com relação ao depoimento de Marcos Valério, nesta segunda-feira, 12, em que Paulo Okamotto é citado, os depoimentos da Lava Jato, iniciados com fatos, descambaram para mentiras e invenções de condenados que querem se beneficiar com as delações premiadas."

COM A PALAVRA, O EMPRESÁRIO RONAN MARIA PINTO

"Nota à imprensa: Trata-se de uma versão isolada, dita por Marcos Valério apenas em 2012 - portanto, oito anos após os supostos fatos. Bem como após o mesmo ter sido condenado a mais de 30 anos de reclusão em outro processo bastante conhecido.

Tal versão, inclusive, já foi peremptoriamente negada pelo próprio Silvio Pereira, que afirmou não ter dito a Marcos Valério que Ronan teria tentado extorquir o Partido dos Trabalhadores ou quem quer que seja.

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Fernando José da Costa, advogado de defesa de Ronan Maria Pinto

São Paulo, 12 de setembro de 2016"

 

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