PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Patrimônio de novo delator cresceu 50 vezes entre 2003 e 2013

Relatório da Receita mostra que Milton Pascowitch, lobista da Engevix que confessou ter pago propina o ex-ministro José Dirceu, evolução patrimonial de R$ 574 mil para R$ 28 milhões nos 11 anos de governo do PT

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

PUBLICIDADE

O lobista Milton Pascowitch - novo delator da Operação Lava Jato - aumentou seu patrimônio de R$ 574 mil, em 2003, para R$ 28 milhões, em 2013 - durante os três primeiros anos de governo do PT. É o que mostra relatório da Receita Federal que destacou o aumento de 50 vezes do patrimônio inicial no período.

Pascowitch é acusado de operar propina para a empreiteira Engevix no esquema de corrupção e cartel na Petrobrás. Seus elos com o PT e o ex-ministro José Dirceu são peças centrais da delação que ele acaba de fechar com a força-tarefa da Operação Lava Jato. Nos termos, o lobista confessou que pagou propina a Dirceu em forma de falsas consultorias e reformas de imóveis.

"Chama a atenção a evolução patrimonial do contribuinte que no ano-calendário 2003 tinha um patrimônio de R$ 574.160,74 e alcançou o montante de R$ 28.252.751,43 no ano-calendário 2013", registra relatório da Receita Federal, nos autos da Lava Jato.

 Foto: Estadão

"Essa evolução de aproximadamente 50 vezes o patrimônio inicial teria sido respaldada, segundo declaração do contribuinte, por rendimentos isentos", completa relatório da Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação da Receita.

Publicidade

Pascowitch "declarou que recebeu de rendimentos isentos e não tributáveis no período o montante de R$ 46.822,37", informa o documento.

Preso desde maio, Pascowitch fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria. Em troca de sua confissão e do apontamento de novos fatos para as investigações, ele busca benefícios de redução de pena. Nesta segunda-feira, 29, o lobista deixou a Custódia da Polícia Federal em Curitiba (PR), base da Lava Jato, após 39 dias preso.

 Foto: Estadão

No relatório, a Receita registra que Pascowitch "declara possuir R$ 1.211.400,00 referentes à US$ 688.707,00 da constituição da Shore Group LTD nas Ilhas Virgens Britânicas; R$ 12.214,00 de saldo do Banco UBS agência Nova Iorque - EUA; e R$ 12.600,00 de saldo de transferência de recursos de sua conta no Merril Lynch para o Credit Suisse, também nos EUA".

Dirceu. Uma das empresas de Pascowitch, a Jamp Engenheiros Associados, declarou ter pago R$ 1,4 milhão para a empresa do ex-ministro, entre 2011 e 2012, por supostas consultorias prestadas para a Engevix, no exterior. Os pagamentos pelos serviços começaram em 2008, quando a empreiteira iniciou os depósitos. Foram outros R$ 1,2 milhão transferidos até 2010.

No início, o delator afirma que o ex-ministro efetivamente prestou consultoria e ajudou a Engevix na prospecção de negócios, fora do Brasil. No final, os pagamentos eram propina, revelou Pascowitch.

Publicidade

Ouvido pela PF, um dos sócios da Engevix Gerson de Mello Almada disse desconhecer a relação comercial entre a Jamp e a JD Assessoria e Consultoria, em nome da empreiteira. Almada afirmou ainda ser Pascowitch o responsável por indicar na Engevix quem eram os candidatos do PT que receberiam doações da empreiteira.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

A maior parte dos rendimentos de Pascowitch vieram da Jamp. A Receita destacou "o alto valor de rendimentos isentos e não tributáveis que são provenientes de lucros e dividendos das empresas Jamp Engenheiros Associados, M2J Consultores Empresariais e Irpas Empreendimentos Comerciais".

Entre 2004 e 2013, a Jamp recebeu da Engevix o total de R$ 78 milhões. A empreiteira é uma das acusadas de cartel e corrupção na Petrobrás, no esquema que desviava de 1% a 3% em contratos da estatal para partidos, políticos e agentes públicos.

Em sua delação premiada, fechada em Curitiba com procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Pascowitch afirmou que parte dos valores recebidos por ele da empreiteira eram referentes a propina. Outra parte, seria por serviços efetivamente prestados, como projetos e consultorias.

Elos do PT. Pascowitch relacionou os pagamentos de propina a Dirceu ao esquema de corrupção na Petrobrás envolvendo um cartel de empreiteiras, entre elas a Engevix, que pagava propinas de 1% a 3% dos contratos da estatal para políticos e partidos.

Publicidade

O esquema era mantido por meio de diretores da estatal indicados pelo PT, PMDB e PP. Entre eles, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque (2003-2012), indicado por Dirceu. O ex-ministro nega a indicação. Duque está preso, por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A Jamp pagou não só os R$ 1,4 milhão para a JD Assessoria, de Dirceu, como pagou R$ 800 mil para a empresa de consultoria aberta em 2013 por Duque após ele deixar a estatal, a D3TM. O ex-diretor nega irregularidades.

 Foto: Estadão

O criminalista Theo Dias, que defende Pascowitch, informou que "por dever legal de sigilo, não pretende se manifestar sobre as notícias relacionadas a seu cliente".

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU

A assessoria do ex-ministro sustenta que "não teve acesso aos termos e ao conteúdo da delação premiada do empresário Milton Pascowitch e, portanto, não tem como emitir opinião a respeito".

Publicidade

A assessoria afirma, ainda, que Dirceu 'não teve qualquer influência na indicação de Renato Duque para a diretoria da Petrobrás, informação reafirmada pelo próprio Duque em depoimento em juízo e à CPI da Petrobrás".

O criminalista Roberto Podval, que defende Dirceu, afirma que o ex-vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada, que também assinou acordo de delação premiada, "confirmou à Justiça a contratação dos serviços do ex-ministro no exterior".

"(Almada) foi claro ao afirmar que nunca conversou com José Dirceu sobre contratos da Petrobrás ou doações ao PT", destaca Podval.

O criminalista diz que 'todo o faturamento da JD Assessoria e Consultoria para a Engevix e Jamp Engenheiros Associados é resultado de consultoria prestada fora do Brasil, em especial no mercado peruano, onde a construtora abriu sede e passou a disputar contratos depois que contratou o ex-ministro José Dirceu".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.