Roberta Grabert*
17 de março de 2020 | 07h00
Roberta Grabert. FOTO: DIVULGAÇÃO
O termo “violência obstétrica” é relativamente novo, e significa qualquer agressão física ou psicológica realizada às mulheres durante a gestação, parto, nascimento ou pós-parto. Em estudo feito pela OMS (Organização Mundial de Saúde)[1] foram descritas sete formas de violência obstétrica: (i) abuso físico; (ii) abuso sexual; (iii) abuso verbal; (iv) discriminação com base em idade, etnia, classe social ou condições médicas; (v) não cumprimento dos padrões profissionais de cuidado; (vi) mau relacionamento entre a gestante e a equipe; e (vii) más condições do sistema de saúde.
Violência obstétrica
Como obstetra e mulher, sinto que não se deve julgar a escolha de um ou outro procedimento obstétrico, mas refletir sobre a forma como o utilizamos. Cesáreas, episiotomias (corte realizado no períneo no momento da expulsão do neném), ocitocina, possuem indicação precisa, e ajudam a salvar vidas. Hoje não me estenderei sobre esse aspecto. Falarei sobre o que podemos fazer para tornar o ciclo da maternidade, incluindo o parto, menos traumático.
Quero ressaltar que não adianta chamar o parto de humanizado, para torná-lo menos violento. É preciso exercitar empatia, respeito e escuta para tornar nossas instituições adequadas para recepcionar novas vidas.
Começo por colocar a grávida no centro de todo o processo. Aplico aqui o conceito da tripla meta em saúde para pensar todo o atendimento e, conjuntamente, melhorar as experiências das pacientes; a saúde da população e reduzir o custo per capita dos cuidados em saúde.
É necessário abandonar o pensamento óbvio e colocar em prática a TRANS-DIS-CI-PLI-NA-RI-DA-DE. A extensão da palavra tem motivo de ser. Ela compreende o ciclo gravídico puerperal de forma plural, fazendo com que a responsabilidade e o atendimento sejam de todos os agentes envolvidos na atenção obstétrica, incluindo a gestante e seus familiares. Ao invés de dividir a atenção em disciplinas a ideia é fundi-las.
Transdisciplinaridade não é fácil, mas possível, através de educação e CAPACITAÇÃO CONSTANTES de TODOS os envolvidos no atendimento da gestante, inclusive a sociedade.
A boa notícia é que já existem serviços de obstetrícia com esta motivação cooperativa. E, com eles, as complicações materno-fetais se tornam menores e mais escassas.
É possível mudar.
Ainda há obstáculos a serem vencidos, como o da remuneração destas equipes e suas respectivas responsabilidades, mas isto é matéria para um outro artigo.
Que venham PARTOS MAIS ADEQUADOS, para abrirem as JANELAS DAS OPORTUNIDADES para nossas brasileiras e brasileiros mirins!
[1] Organização Mundial de Saúde (OMS): Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde
*Roberta Grabert, médica ginecologista e obstetra formada há 29 anos pela FMUSP, pós-graduada em sexualidade humana e telemedicina, MBA em Gestão de saúde pelo Insper/HIAE e liderança associada ao movimento Livres
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