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Para advogado de Flávio Bolsonaro, acusações de Marinho sobre vazamento são 'cortina de fumaça'

Frederick Wassef vai à sede da PF e afirma que falas do empresário têm por objetivo tirar foco das suspeitas de corrupção na gestão da Saúde do Rio

Por Vinicius Neder/RIO
Atualização:

Apesar do clima de feriado por causa das medidas de restrição social contra a pandemia de covid-19, a terça-feira, 26, foi agitada na sede da Superintendência da Polícia Federal (PF) do Rio. Ao depoimento, já agendado, do empresário Paulo Marinho, que relatou há dez dias ter ouvido do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a confissão de que recebeu informações privilegiadas de uma operação em outubro de 2018, somou-se o vaivém de viaturas da Operação Placebo, que investiga o desvio de gastos públicos do governo estadual na saúde e atingiu até o governador Wilson Witzel (PSC). Um discurso de Witzel e o aparecimento do advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, na sede da PF do Rio, associaram os casos.

Enquanto Witzel, no discurso, denunciou a Operação Placebo como um ato de perseguição política do governo federal, Wassef viu nos relatos de Marinho uma "cortina de fumaça" para abafar o escândalo de corrupção.

 

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Oficialmente, o advogado de Flávio Bolsonaro foi à sede da PF no Rio para protocolar pedidos de acesso aos inquéritos sobre o vazamento da investigação de 2018, a partir dos relatos de Marinho, e sobre a interferência do presidente Jair Bolsonaro sobre a PF, após as acusações do ex-ministro Sérgio Moro. Na noite de segunda-feira, 25, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido de Wassef para ter acesso ao depoimento de Marinho, alegando que o senador não é investigado no inquérito sobre a interferência do presidente na PF.

Só que Wassef aproveitou a oportunidade para fazer discurso político em defesa de Flávio Bolsonaro e do governo federal. Para o advogado, as acusações de Marinho, feitas inicialmente em entrevista à "Folha de S.Paulo" no último dia 17, tiveram o objetivo de desviar as atenções de suspeitas de corrupção na gestão da saúde estadual do Rio.

"Essa estória só tem o objetivo de tirar o foco do esquema de corrupção que desviou R$ 800 milhões. Eles já sabiam que isso ia explodir, já estava na imprensa", afirmou Wassef, referindo-se a reportagens que revelaram suspeitas de desvios de recursos públicos nos gastos com o combate à covid-19, incluindo a compra de respiradores e a montagem de hospitais de campanha.

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Segundo Wassef, Marinho mentiu e não tem provas, pois o senador, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, "não teve qualquer informação privilegiada". Para o advogado, o empresário, que é pré-candidato a prefeito do Rio pelo PSDB, tem interesse nos ataques à Flávio Bolsonaro porque é suplente dele no Senado - Marinho trabalhou na campanha presidencial que elegeu Bolsonaro, em 2018 - e porque seria "amigo" dos governadores Witzel e João Dória (PSDB). Os governadores do Rio e de São Paulo estão em franca disputa política com Bolsonaro, em torno da adoção de medidas de isolamento social que paralisam a economia, a contragosto do presidente.

Paulo Marinho, na Polícia Federal. Foto: Wilton Júnior / Estadão

Nas declarações de tom político, Wassef acusou governos passados, "de esquerda", e os governadores pelo avanço da covid-19. Segundo o advogado, em vez de gastar em saúde pública os governos passados investiram bilhões em estádios de futebol, para a Copa do Mundo de 2014, e em países da África e em Cuba, numa referência aos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras no exterior.

"Por que gastaram bilhões em estádios 'padrão Fifa' e não em hospitais 'padrão Albert Einstein'", questionou Wassef. Mais tarde, ao deixar a sede da PF no Rio após quase seis horas de depoimento, Marinho evitou comentar as declarações do advogado, mas afirmou que levou "novos elementos" sobre o suposto vazamento da operação em outubro de 2018. Marinho disse ainda que foi mencionado no depoimento o fato de o ex-ministro Gustavo Bebianno, demitido por Bolsonaro no início do governo, em 2019, morto de infarto em março passado, manter um celular, que teria informações, nos Estados Unidos.

Foi o terceiro depoimento de Marinho, desde que revelou o suposto vazamento à "Folha". O depoimento desta terça-feira, 26, foi no inquérito aberto pelo STF, a pedido da Procuradoria Geral da República, após as acusações do ex-ministro Moro.

"Trouxe novos elementos para esse depoimento, que foram juntados aos autos do processo. Estão com os delegados. Tenho que trazer agora, no dia 28, o meu telefone (celular) para que seja periciado", afirmou Marinho, alegando que não poderia dar detalhes porque foi decretado sigilo sobre o depoimento. O empresário disse apenas que os novos elementos incluem "materiais de prova", com mais detalhes sobre o mesmo episódio narrado na entrevista. Segundo Marinho, o depoimento desta terça-feira foi mais amplo do que os outros dois, por causa do "interesse" dos delegados da PF.

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