A vida fluía e seguia seu curso normalmente...
Éramos senhores da Terra!
Dominávamos os quadrantes do planeta, as demais espécies;
Sabíamos de tudo, concebíamo-nos oniscientes...
Suprema beócia!
Não receávamos quaisquer intempéries.
O que nos importava?
Bolsa de valores, exércitos, juros, metas profissionais,
competição, roupas da moda, bens materiais...
Entretanto, o vírus eclodiu num repente,
Como da noite para o dia;
E atingiu não só o corpo, todavia,
Sobretudo a mente!
E que dano fez!
Solapou crenças,
Difundiu efeitos colaterais, doenças...
Dividiu amigos, criou correntes!
Umas boas, outras tantas indecentes....
Foram atingidos crianças, jovens, adultos e os mais experientes...
Teorias conspiratórias pulularam,
Algumas culpando uma nação e toda uma etnia.
Dementes?
Estas desacreditam a ciência, esboroam a sabedoria;
A terra é plana, o resto é heresia!
Boicotam a vacina
E contribuem para a letargia.
Enquanto isso, os corpos tombam.
Choramos...
E, em uníssono, todos de outrora recordam festa,
Relembram a família, os amigos jungidos.
Rememoram abraços e incontidos sorrisos.
E têm nostalgia;
A ansiedade se elevou,
Aumentando exponencialmente,
A cada perda lastimável e deprimente.
Um ou outro queria negar
Mas a realidade demonstrava, a cada passo,
Sem olvido, pestanejo ou vagar,
A legião de mortos...
A nossa pequenez no cosmo.
Famílias esfaceladas,
Vidas solapadas...
Amigos sepultados, sem a possibilidade do velório;
Taciturnas realidades escancaradas!
Nossos corações no crematório.
O destino a nos tragar!
Mas é verdade, a caridade aumentou
E a esperança e a fé, no genuflexório.
M(u)itos caíram na frigideira
Porque não se condoeram;
Fizeram festa com a dor alheia
E pouco construíram. Senhores da asneira!
Flertaram com a ignomínia,
Proprietários da besteira...
Não tiveram empatia,
Geraram intolerância,
E disseminaram sua ira,
seu ódio com soberba, desfaçatez e até com alegria...
Infindável paradoxo, descabida ironia!
Quantos são os acólitos da mitomania?
Este ano inicia uma nova década
E espera-se que seja de prosperidade,
De amor, de tolerância e de humildade.
De muita alegria assegurada,
Não somos senhores do Universo,
Tampouco do planeta,
Ao reverso...
Talvez sejamos o verdadeiro vírus
A atacar, sem piedade,
Os que compartilham conosco esse "pálido ponto azul",
Este pequeno torrão da eternidade...
Não obstante, pode-se recobrar a consciência,
Agindo com generosidade
E com inteligência, conhecimento analítico e com prudência!
Vencendo-se a ignorância e a incivilidade.
Afinal, podemos optar por ser o vírus,
Contudo, creio não ser esse o nosso papel.
Melhor seria se fôssemos tais qual o beija-flor
A encantar cada dia e cada noite...
Namorando as flores, flertando com o céu,
Com fulgor!
Inebriando quem nos contempla,
Inspirando a beleza e espraiando o amor.
E batendo as asas incessantemente para sustentar os nossos sonhos...
O que você prefere?
*João Linhares Júnior, mestre em Garantismo e Processo Penal pela Universidade de Girona - Espanha. Pós-graduado em Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais pela PUC - RJ. Eleito para integrar a Academia de Letras Maçônicas de Mato Grosso do Sul