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Pandemia evidencia ainda mais o futuro da filantropia e dos negócios de impacto e sociais

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Por Flora Bitancourt
Atualização:
Flora Bitancourt. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Ao vivenciar uma pandemia, nos deparamos com uma grande onda de solidariedade e generosidade. Muitas pessoas voltaram sua atenção para a importância da gestão e distribuição dos recursos, do apoio ao próximo e do desenvolvimento humanitário.

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Neste contexto, a filantropia se torna uma importante aliada, fomentando a cultura da doação, da reciprocidade e estimulando as pessoas a olharem mais a sua volta, reconhecerem seus privilégios e colaborarem com quem precisa.

No Brasil, vemos um número nunca antes realizado de doações. Em 2019, o País ocupou o 74º lugar no ranking de países que mais doam, segundo World Giving Index. E, apenas durante a pandemia, os valores doados já ultrapassaram R$6 bilhões de reais, como aponta o monitor das doações Covid-19 da ABCR. Esses valores devem contribuir para ganharmos uma posição mais favorável na lista.

ONGs, empresas e grupos de pessoas têm distribuído cada vez mais doações, se tornando importantes aliados dos indivíduos em situação de risco e vulnerabilidade, com dificuldade de isolamento e falta de acesso à assistência médica. Grandes recursos financeiros, técnicos e humanos foram mobilizados com o objetivo de prover atendimento emergencial, como a construção de hospitais de campanha, distribuição de EPIs e, até mesmo assistência emocional à população.

Então, aproveito essa onda para discorrer sobre outros movimentos que já são realidade há alguns anos no Brasil e em diversos países, mas deveriam ser mais valorizados e visibilizados na construção desse mundo que queremos: os novos modelos de negócios. Em especial, os negócios sociais e os negócios de impacto, refletindo que um momento de crise como o que vivemos é propício para olhar para todos problemas sociais que enfrentamos, mas não deveria ser o único, e sim um exercício diário e contínuo de atuação.

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Pensadores da quarta revolução industrial nos provocam a refletir sobre como será esse futuro e quais são as grandes mudanças que vivemos. Segundo aponta Klaus Schwab, no seu livro A Quarta Revolução Industrial: "Estamos à beira de uma revolução tecnológica que modificará a forma que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em uma escala de alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o gênero humano já experimentou antes".

Acredito, então, que as lideranças desse futuro serão exercidas por aqueles que se adaptarem a essas mudanças, construindo novos cenários, atualizando e revolucionando sua forma de fazer negócios e sua visão do mundo.

A grande provocação se dá quando entendemos que, agora, o capitalismo precisa sair do foco de um crescimento financeiro exacerbado e unilateral e se apoiar na visão do triplo impacto, ou seja, olhar de maneira equilibrada para os âmbitos sociais, ambientais e, claro, econômicos dos negócios.

Isso é o que busca a estratégia dos negócios de impacto, desenvolvida sobre pilares sólidos de propósito e impacto positivo que extrapolam os objetivos financeiros, mas sem deixá-los de lado, podendo em sua estratégia e governança considerar destinar uma parte, ou até mesmo a totalidade do lucro, aos responsáveis pelo negócio. Isso porque, resolver uma dor real da sociedade e ser financeiramente rentável não deveria ser visto como algo negativo. A crença limitante de que fazer a diferença e ter sucesso financeiro andam separados precisa ser substituída pela valorização das pessoas e dos negócios que geram impacto positivo real e mensurável.

Por outro lado, o Negócio Social, modelo proposto pelo professor Muhammad Yunus, propõe criar empresas com foco em solucionar desafios urgentes da sociedade de maneira auto sustentável, sendo todo o lucro reinvestido no próprio negócio e no impacto gerado. Algumas empresas têm empregado esse modelo com produtos específicos dentro de seu portfólio, com é o caso da Ambev com a água AMA.

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Na mesma linha de impacto e foco em transformação social, a filantropia, exemplo citado e muito difundido agora na pandemia, é muito utilizada pelo terceiro setor como forma de captação de recursos, entretanto acontece de forma pontual, não sendo um modelo de negócio, não garante a auto sustentabilidade e perenidade dos trabalhos realizados.

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Todos estes formatos são muito positivos. E nosso grande desafio enquanto empresários e empreendedores é avaliar quando e como aplicar cada um deles. É preciso entender as diferentes opções e ter ciência que devemos construir decisões baseadas em estratégias de curto, médio e longo prazo, com indicadores claros, e sempre se baseando no triplo-impacto: social, ambiental e econômico.

Quando olhamos grandes empresas ainda operando com a visão e a lógica assistencialista, vemos esses recursos tratados de forma operacional, sem ganhar a escala e tração que deveriam. Justamente por isso é preciso posicionar a visão de impacto no centro do negócio, da estratégia das empresas e das tomadas de decisão de todas as lideranças, com o intuito de que a cada dia aumente a destinação de recursos para a construção de um mundo melhor.

*Flora Bitancourt, empresária social e copresidente da Impact Beyond

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