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Pandemia: educação online de alta qualidade. É possível?

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Por Vidal Martins
Atualização:
Vidal Martins. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia da COVID-19 acelerou a adoção da modalidade on-line pela maioria das instituições de ensino superior. Apesar da força irrefutável desse movimento, é pertinente perguntar-se: é possível proporcionar aprendizagem significativa, profunda e duradoura no mundo digital? Quais são os requisitos para tal? Quatro aspectos nos ajudam nessa análise: modelo educacional, engajamento, comunidades de pesquisa e estratégias de mediação tecnológica.

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Começando pelo modelo educacional, consideremos dois paradigmas: instrucional e de aprendizagem. Enquanto o paradigma instrucional enfatiza a entrega de conteúdo, valorizando o volume de fatos e dados e a memorização, o paradigma da aprendizagem enfatiza o desenvolvimento de processos cognitivos de mais alta ordem, valorizando a associação de conhecimentos, investigação, reflexão e pensamento crítico. Claramente, o paradigma da aprendizagem obtém resultados educacionais muito superiores ao instrucional. Entretanto, o instrucional é mais fácil de implementar, automatizar e entregar em larga escala. Provavelmente, por essas razões, o paradigma instrucional predomina absoluto na educação on-line e, como consequência, essa modalidade tem a reputação de qualidade inferior. É o paradigma instrucional que limita a qualidade da aprendizagem, não a modalidade on-line.

Engajamento é outro fator determinante da aprendizagem. No paradigma instrucional, as interações do estudante acontecem, via de regra, apenas com o conteúdo, o que limita muito a capacidade de realizar análise, questionamentos, novas associações e, assim, construir novos conhecimentos. Uma aprendizagem profunda pressupõe a interação do estudante com três dimensões (conteúdo, professor e outros estudantes) e necessita de três níveis de engajamento: cognitivo, afetivo e comportamental. Existem muitas estratégias para promover o engajamento no mundo on-line, mas quem as utiliza?

O terceiro aspecto relevante diz respeito às comunidades. O ambiente se torna uma comunidade de pesquisa, que promove aprendizagem profunda, quando professores e estudantes investigam tópicos de interesse comum com o propósito de reconstruir experiências e conhecimentos por meio de questionamentos e análise crítica, desafiando os pressupostos estabelecidos. Apesar de a tecnologia potencializar os benefícios das comunidades, não vemos cursos on-line desenvolvendo comunidades de suporte de maneira sistemática, intencional e produtiva. Assim, é a estratégia pedagógica que ignora as comunidades, não é a modalidade on-line que as impede de existir.

Finalmente, é importante variar as estratégias de mediação tecnológica para obter resultados diferentes e complementares. Há um modelo para integrar a tecnologia na educação, chamado PICRAT, que propõe duas questões: i) Qual é a relação do estudante com a tecnologia (PIC: Passiva, Interativa, Criativa)? ii) Como o uso da tecnologia pelo professor influencia as práticas tradicionais (RAT: Substitui [Replace], Amplia, Transforma)? Combinando-se essas respostas (PIC e RAT), observam-se 9 estratégias diferentes: PR, PA, PT, IR, IA, IT, CR, CA, CT. O que acontece na maioria dos cursos on-line é pouca variação das estratégias de mediação tecnológica, predominando o relacionamento passivo do estudante com a tecnologia e a mera substituição de práticas tradicionais.

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Acreditamos, à luz dessas reflexões, que é possível sim proporcionar aprendizagem significativa, profunda e duradoura em cursos on-line. Mais do que isso, é possível potencializar a aprendizagem com essa modalidade, porém é necessário mudar o paradigma educacional predominante. Este é o caminho que a PUCPR começou a trilhar há 3 anos e que norteia toda a estratégia da Universidade para os próximos anos. O lançamento recente da Pós PUCPR Digital (https://posdigital.pucpr.br/), de diversos cursos híbridos de engenharia e a transição do campus Maringá para oferecer cursos exclusivamente na modalidade on-line são apenas os passos iniciais desta caminhada.

*Vidal Martins, vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

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