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Pandemia deve antecipar consolidação do mercado de fintechs de crédito

Por Rafael Pereira
Atualização:
Rafael Pereira. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Faz menos de uma década que as fintechs de crédito surgiram no Brasil. No início, por ser algo novo, não havia regulamentação que trouxesse segurança jurídica para essas empresas, que, por meio da tecnologia e da inovação, oferecem produtos e serviços financeiros customizados ou personalizados para diferentes perfis de consumidores - pessoas físicas e jurídicas.

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Apenas em abril de 2018, pouco mais de dois anos atrás, por meio da resolução 4.656 do Banco Central, as fintechs de crédito foram contempladas com a possibilidade de atuação independente, sem vinculação com um banco. Para isso, duas modalidades de empresas de crédito foram criadas: SCDs (Sociedades de Crédito Direto) e SEPs (Sociedades de Empréstimo entre Pessoas).

Atualmente, existem 30 fintechs de crédito nessas modalidades - 24 SCDs e seis SEPs -, que obtiveram autorização do BC depois de cumprirem as formalidades da resolução. Esse é somente um universo reduzido. Há muitas outras - a maioria por sinal - que são correspondentes bancárias, já que não têm interesse em atuar de forma independente (sem vinculação a uma instituição financeira, como um banco) ou não cumprem as exigências da resolução para que possam pleitear o enquadramento como SCD ou SEP.

Independentemente da forma de atuação, as fintechs - não apenas de crédito como de outras atividades financeiras, com destaque para a de pagamento - se beneficiaram de um ambiente de estímulo à inovação instaurado nos últimos anos. O Banco Central, por meio da Agenda BC#, trabalha para modernizar o sistema financeiro com regulações e projetos que combatem a concentração e colocam o cliente como protagonista.

O Open Banking e o PIX, sistema de pagamentos instantâneos, por exemplo, estão prestes a se tornar realidade. Mesmo neste período desafiador de pandemia, ambos não tiveram seu desenrolar interrompido, o que demonstra o compromisso da autarquia federal com essas reformas estruturantes.

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Por falar em pandemia, seus reflexos foram prejudiciais para a economia. Com as fintechs de crédito, isso não foi diferente, embora haja um lado positivo. Nesta nova realidade de isolamento, as pessoas passaram a utilizar a internet para tudo, e esse movimento ficou claro em pesquisa do Instituto Locomotiva.

Das pouco mais de duas mil pessoas entrevistadas em 72 cidades de todos os estados brasileiros, 10% não compravam pela internet e passaram a comprar na quarentena. Outras 45% já compravam pela internet e adquiriram o hábito de comprar ainda mais nesse período. Por fim, 24% já compravam e continuaram comprando o mesmo volume.

Esse comportamento foi igualmente observado em relação aos serviços financeiros, como contratação de crédito. Com um modelo de negócio digital, que utiliza os canais online para ofertar e viabilizar a contratação de empréstimos, as fintechs de crédito apresentam uma vantagem competitiva no ambiente atual de negócios.

Agora, passado o pior da crise, os fundos de capital de risco estão em busca de oportunidades de investimento. Em nossa visão, a digitalização mais rápida dos negócios faz o lado tecnológico das fintechs muito mais atrativo para os investidores, como os fundos de capital de risco.

Ainda que o ambiente de negócios esteja um pouco melhor, com o retorno da captação via mercado de capitais, a dificuldade de obter recursos perdura, e essa foi, especialmente nos meses de março e abril, a faceta negativa da crise para as fintechs de crédito.

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Os recursos escassos, principalmente o chamado capital novo, travaram negócios e vão antecipar a consolidação do mercado das fintechs de crédito. O que também contribui para isso é o risco de crédito das empresas e das famílias. Por estar alto, sem perspectiva de redução, as decisões de negócio, como emprestar ou não e quanto emprestar, ficam nebulosas a ponto de prejudicar a continuidade de muitas fintechs.

A consolidação é um processo natural e ocorre em todos os mercados. Inicialmente, vem a inovação ou, na palavra da moda, disrupção, com alguns players na dianteira. Depois, na sequência, surgem concorrentes com a mesma proposta de negócio ou com alguma diferença não percebida pelos pioneiros. Como última etapa, o mercado se consolida, com os players sobreviventes, que absorveram ou compraram quem estava em dificuldade ou optaram pela fusão para tornar a operação viável.

*Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD

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