Julia Affonso, Ricardo Brandt, Luiz Vassallo e Fausto Macedo
07 de setembro de 2017 | 05h00
Paulo Okamotto. Foto: Reprodução
O ex-ministro Antonio Palocci afirmou ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 6, que o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, pediu que ele levantasse com empresas R$ 4 milhões para cobrir “um buraco nas contas” da instituição, aberta em 2011, após Luiz Inácio Lula da Silva deixar a Presidência. E que esse valor foi pago pela Odebrecht de forma irregular, pelo Setor de Operações Estruturadas, a máquina de fazer propinas da empresa.
“Tem um episódio que Marcelo (Odebrecht) relatou que é verdadeiro. Ele fala em um pedido que fiz a ele de R$ 4 milhões para o Instituto Lula”, afirmou Palocci, que pela primeira vez confessou seu envolvimento com a corrupção na Petrobrás e incriminou Lula.
+VEJA OS DEPOIMENTOS DE PALOCCI
“Isso é verdade, o Paulo Okamotto me pediu para que ele ajudasse a cobrir um final de ano do Instituto que faltava recursos, acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas e me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marelo Odebrecht.”
Palocci, Lula, Okamotto e Odebrecht são réus nesse processo, em que acusa o ex-presidente de ter acertado R$ 12 milhões em propinas da empresa, na forma do repasse de um imóvel para ser a sede do Instituto Lula, em São Paulo, e de um apartamento no prédio em que o petista mora, em São Bernardo do Campo.
Pela primeira vez, Palocci confessou os crimes e revelou um acerto entre Emílio Odebrecht e Lula, em 2010, para repasse de R$ 300 milhões em propinas. O acerto envolvia ainda as reformas do sítio de Atibaia (SP) – que o ex-presidente nega ser dono -, o terreno do Instituto, o apartamento e contratação de palestras.
Palocci diz que Okamotto queria que ele procurasse váris empresas, mas ele diz que não podia e procurou só Odebrecht.
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Ouvido na segunda-feira, 5, nesse processo, Odebrecht contou a Moro que, no primeiro semestre de 2010 – quando Lula era presidente -, combinou com Palocci que haveria ‘uma conta para atender’ o petista. “Começou a vir uns pedidos que teriam que ser feito de modo não contabilizados, aí começou, começou pedido do Instituto Lula, começou o terreno, começou a vir um pedido por exemplo que foi feito doações para o Instituto Lula 4 milhões. Essa forma é que eu sei que o Lula foi beneficiado.”
Cash. Palocci disse que pediu para seu assessor Branislav Kontic acertar as retiradas de valores com a equipe de Odebrecht e também para tratar do assunto com Okamotto. “Pedi dinheiro para o Instituto, muitas vezes mandei o Brani se enteder com o pessoa do Marcelo e do Instituto.”
O ex-ministro afirmou que “em algum período o Paulo Okamotto me pediu dinheiro em cash com uma certa permanência e era buscado na Operações Estruturadas da Odebrecht”.
Moro quis saber se o assessor do ex-ministro ia buscar o dinheiro.
“O Branislav ia tratar os detalhes, eu imagino que ele pedia para alguém da Odebrecht entregar ao Paulo Okamotto.”
Antonio Palocci. Foto: Reprodução
Palocci diz ter ouvido delatores da Odebrecht dizendo que Brasnislav levou o dinheiro. “Ele nunca me falou que levou o dinheiro, ele ia lá combinar.”
“O Paulo Okamotto pediu várias vezes, durante uns três, quatro anos para que eu arrumasse recursos em cash para o Instituto.”
Os recebimentos de propinas por meio de doações ao Instituto Lula e a lavagem de dinheiro por meio da movimentação financeira da entidade são investigados em outros inquérito que ainda vai ser transformado em denúncia contra o ex-presidente, em Curitiba.
“Eu perguntava a ele: ‘o Instituto não serve para formalizar doações? Por que vamos por recursos em cash?’. Ele dizia ‘não, tem algumas necessidades mais particulares, nós não queremos contabilizar’. Eu ajudava desse maneira.”
COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA
“Palocci muda depoimento em busca de delação
O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.
Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.
Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.
Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como “pacto de sangue”, esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.
Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP.
Cristiano Zanin Martins”
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