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Palocci diz que Lula agiu 'diretamente' por propinas

Ex-ministro dos governos do PT, preso desde setembro de 2016 na Operação Lava Jato, prestou depoimento em junho passado à força-tarefa Greenfield, que mira a compra de caças suecos

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Por Fabio Serapião/BRASÍLIA e Luiz Vassallo/SÃO PAULO
Atualização:

Antonio Palocci. Foto: Rodolfo Buhrer/REUTERS

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma Antonio Palocci afirmou, em depoimento à força-tarefa Greenfield, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu 'diretamente' em pedido de propina relacionado à compra de caças suecos durante o governo Dilma Rousseff. Lula é réu na ação dos caças por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e associação criminosa. Em depoimento no dia 26 de junho passado, Palocci menciona um suposto acerto envolvendo inclusive autoridades francesas.

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Não é a primeira vez que Palocci acusa seu ex-líder. Na Lava Jato, perante ao juiz Sérgio Moro, o ex-ministro detonou Lula atribuindo ao ex-presidente suposto 'pacto de sangue' de R$ 300 milhões com a empreiteira Odebrecht. Palocci fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal em Curitiba.

Nesta ação dos caças, Lula, seu filho Luís Cláudio e o casal de lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, respondem pela acusação de integrarem 'negociações irregulares que levaram à compra de 36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro e à prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida Provisória 627', durante o governo Dilma Rousseff.

Segundo a denúncia, Lula teria recebido R$ 2,5 milhões do casal de lobistas a pretexto de influenciar a prorrogação da MP, que era destinada às montadoras de veículos e a compra das aeronaves Gripen, da empresa Saab, por US$ 5,4 bilhões.

O depoimento de Palocci foi marcado para dia 20 de novembro pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília.

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Reprodução da decisão  

Segundo o magistrado, 'Nelson Jobim, então Ministro da Defesa do Brasil entre 2007 e 2011, foi ouvido como testemunha no dia 13 de setembro de 2017, e não mencionou que tenha havido alguma reunião que entrou pela madrugada, entre ele, o então presidente Luís Inácio e o ex-presidente da França [Nicolas] Sarkozi, não tendo dito nada sobre assinatura de documento ou protocolo referente ao caça Mirage francês no dia seguinte à reunião, cujo documento teria ficado de posse de Nicolas Sarkozi, como afirmara o ex-Ministro Palocci ao Ministério Público Federal (que também dissera ao MPF que teria já naquela ocasião teria havido "propina")'.

No entanto, o juiz ponderou. "As declarações sucintas e diretas de Antonio Palocci, que já foi Ministro da Fazenda e depois Ministro da Casa Civil, precisam ser contrastadas em Juízo com as demais provas, em especial as provas contrárias produzidas, sob pena de que palavras soltas, sem os devidos esclarecimentos, possam gerar mais dúvidas com repercussão na verdade processual, pela juntada aos autos de depoimento de terceiro em procedimento administrativo ministerial".

"Essas declarações de Antônio Palocci estão em manifesta contradição com o depoimento da referida testemunha Nelson Jobim, que afirmara em Juízo que era ele na qualidade de Ministro que tratava com exclusividade do assunto e que também as decisões sobre os caças eram todas dele como Ministro, e que apenas comunicava ao presidente suas decisões, não tendo havido envolvimento direto do ex-presidente Lula na aquisição dos caças", escreve.

Apesar de o juiz se referir às declarações sobre a negociação com os franceses, o governo brasileiro optou pelos caças suecos em 2015, em um processo que durou 15 anos. No depoimento, Palocci não cita o desfecho da licitação. Em sua decisão, o juiz cita apenas a reunião com Sarkozy e diz que o ex-ministro precisa dar mais explicações.

Para Vallisney, 'parece importante que, após a oitiva de Antônio Palocci, e se mantida por ele a sua versão, sejam reperguntados ao Ministro da Defesa, testemunha Nelson Jobim, sobre a referida reunião que teria "durado noite adentro" entre o último, o ex-presidente Lula e o Presidente Francês da época Nicolas Sarkozy, e se de fato o representante da França saiu com um uma espécie de contrato ou protocolo de compromisso da compra dos caças franceses mirage, um dos objetos deste processo criminal, e ainda se houve alguma menção ou negociação de propina nessa reunião'.

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COM A PALAVRA, A DEFESA

A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-presidente Lula. O espaço está aberto para manifestação.

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