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País precisa rever agressões políticas

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Por Daniel Bialski e João Batista Augusto Junior
Atualização:
João Batista Augusto Junior e Daniel Bialski. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há muito tempo estamos vivendo tempos sombrios no Brasil. Violência, desigualdade social, corrupção, enfim, toda a sorte de mazelas assola a vida do brasileiro. Nesse quadrante, nosso povo vem enfrentando também um sério recrudescimento no campo das intolerâncias, seja de natureza religiosa, sexual ou ideológica. E, mais recentemente, tem-se observado um aumento significativo de notícias retratando episódios de intolerância cuja motivação está direta ou indiretamente ligada à política.

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Em abril deste ano, horas antes de ser cumprida a ordem de prisão emitida contra o ex-presidente Lula, o Brasil se chocou com cenas de selvageria. Militantes do partido do ex-mandatário agrediram covardemente um senhor que, apesar de empurrado pelos agressores em direção à via pública e ter se chocado gravemente com um caminhão, não morreu por circunstâncias alheias à vontade de seus algozes.

Dias antes, outro episódio gerou perplexidade: o assassinato da vereadora Marielle. Inicialmente, a principal linha de investigação direcionava o trágico acontecimento a uma possível intervenção da milícia atuante na capital fluminense. Contudo, o caso ganhou uma nova perspectiva e a polícia passou a trabalhar com a hipótese de que aquele brutal assassinato estaria atrelado a questões políticas.

No último dia 6 de setembro, essa escalada de violência ganhou um novo capítulo. O candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro foi atacado com um golpe de faca durante comício em Juiz de Fora (MG). Ele foi levado às pressas ao hospital e passou por cirurgia de emergência. Felizmente, o candidato está fora de perigo (apesar de seguir internado ininterruptamente há 15 dias).

O agressor, Adélio Bispo de Oliveira, foi identificado e imediatamente preso em flagrante delito por tentativa de homicídio triplamente qualificado, sendo em seguida convertida sua custódia em preventiva. Circulam na imprensa notícias que sinalizam a adoção de providências técnicas no sentido de propiciar o estabelecimento e comprovação da (in)sanidade mental de Adélio.

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As investigações envolvendo o ataque ao presidenciável seguem em ritmo incansável. Porém, a Polícia Federal, após ouvir inúmeras testemunhas, entrevistar informalmente outras tantas, realizar perícias e diversas diligências, requereu prazo complementar para finalizar as apurações.

A PF apura se Adélio atuou sozinho - uma espécie de 'lobo solitário' - ou se agiu apenas como executor de um plano arquitetado por terceiros. Esta última hipótese é extremamente preocupante caso venha a se confirmar porque revelaria uma abominável tentativa de interferência no ciclo eleitoral.

Essa sucessão de eventos leva-nos a pensar que, nem mesmo em nossos piores pesadelos, poderíamos ventilar que o Brasil adentraria um estágio tão avançado de deterioração de seus tecidos estruturais e sociais.

Certamente, o mecanismo eleitoral é a representação mais fiel da emancipação política de um regime democrático na medida em que exterioriza e concretiza a vontade do povo e a liberdade deste escolher seus representantes através de um processo justo e transparente.

A quem, então, servem todas essas atrocidades cujo enviesamento é nitidamente político-eleitoral? Resposta difícil para um cenário tão periclitante, e, sobretudo, maculado por tendências sempre muito bem perfilhadas a interesses escusos e absolutamente egoístas.

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De qualquer maneira, é insuperável que os ânimos estão particularmente acirrados às vésperas do sufrágio que se avizinha, talvez de uma maneira nunca antes vista.

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Arrisca-se a dizer que isso se deve, de um lado, aos inúmeros escândalos envolvendo desvios e mal aproveitamento de recursos públicos revelados por diversas operações policiais Brasil afora. Ou ainda como resultado de discursos radicais de boa parte dos candidatos e seus respectivos partidos, integrantes destes e simpatizantes, os quais, baseados em uma tônica agressiva, acabam por incitar a discórdia.

É possível afirmar que todos os candidatos e a própria sociedade devem repensar com bastante acuidade e cautela os próximos passos que pretendem dar durante, e, sobretudo, após o processo eleitoral. Afinal, se já está assim antes da divulgação dos resultados das urnas, imaginemos depois.

*Daniel Bialski é advogado criminalista e sócio do Bialski Advogados

*João Batista Augusto Junior é advogado criminalista do Bialski Advogados

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