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Os segredos para um IPO de sucesso

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Por Kai Grass e Luis Frota
Atualização:
Kai Grass e Luis Frota. FOTOS: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Mesmo diante de todos os impactos que a Covid-19 trouxe ao mundo dos negócios, o ano de 2020 termina com um balanço muito positivo em relação às aberturas de capital, os chamados IPOs. Foram protocolados até o fim de setembro 68 pedidos de Registro de Oferta e 17 aberturas de capital, totalizando algo em torno de R$ 12 bilhões.

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Vimos empresas de vários setores realizando IPO, desde o agronegócio até a saúde. Uma das origens dessa onda foi provocada pelo aumento de novos investidores na Bolsa, órfãos das taxas de juros a que estávamos acostumados na última década. Outra é que as empresas que buscam abertura de capital mais recentemente pretendem destinar uma maior parcela dos recursos a aquisições, uma grande novidade quando comparado ao foco mais tradicional em crescimento orgânico das ondas anteriores.

Apesar da grande procura, no Brasil apenas uma parte das empresas com intenção de realizar um IPO chegam a concluir esse processo. Entre 2015 e 2019, apenas 42% das empresas que realizaram o registro inicial e 57% das que chegaram a publicar um prospecto preliminar, abriram capital. Em comparação com o maduro mercado americano, 77% das empresas que divulgam prospecto preliminar realizam o IPO por lá.

Ao mesmo tempo, tivemos muitos cancelamentos e outros pedidos terminaram com preços abaixo da expectativa apontada pela faixa indicativa. Os humores do mercado têm relação importantíssima com esses cancelamentos. Em um mercado com liquidez relativamente limitada como o nosso e sujeito à alta volatilidade política e econômica, não é de admirar que as "janelas" para IPO sejam raras e relativamente curtas. Mercados altamente "compradores" rapidamente passam a ser mais seletivos e a exigir preços maiores. Acertar a janela é fundamental, seja a do mercado ou a do setor específico da empresa.

Porém, acertar o timing e atingir a precificação esperada em um IPO está longe de ser uma questão de sorte. É uma questão de preparação para estar pronto na hora certa. Como parte do processo, é fundamental que a empresa tenha à mão, além das exigências técnicas mínimas (auditorias, governança profissionalizada, etc) cumpridas, uma estratégia clara de geração de valor, de preferência somada a um histórico consistente de entrega.

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A abertura de capital também é, muitas vezes, associada ao sucesso da empresa. Uma das métricas que comprovam isso é o fato de cerca de metade das empresas que abriram o capital entre 2010 e 2015 terem apresentado um crescimento de receita média anual real (acima da inflação) superior a 10%.

Idealmente, a abertura de capital deve estar alinhada com a estratégia de longo prazo do negócio - já que o processo, além de árduo, traz grandes mudanças: novos acionistas e sócios, processo decisório mais complexo, governança mais rígida, menor flexibilidade para alterar planos e necessidade de prestação de contas, entre outras.

Também é necessário ter uma história clara, simples e articulada para os investidores sobre os fundamentos do mercado, fatores de diferenciação da empresa, drivers de geração de valor futuro e como o capital levantado será utilizado. Por último, um monitoramento ativo do mercado para definir o melhor momento de entrada.

Neste ano atípico que se encerra, pudemos ver este movimento sendo muito bem aproveitado por algumas empresas. Para o próximo, a expectativa é de que isso se mantenha, considerando um cenário econômico estável e otimista. Portanto, aos executivos que têm estas três letras em mente, vale garantir suas empresas como as "primeiras da fila" ou as "preferidas entre muitas parecidas" quando a próxima janela abrir.

*Kai Grass e Luis Frota são sócios da Bain & Company

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