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Os reflexos positivos do canal de denúncia na política

Por Fernando Scanavini
Atualização:
Fernando Scanavini. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O ministro Sérgio Moro inaugurou um canal eletrônico de denúncias contra a corrupção. A ferramenta, que pode ser acessada no site do Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi elaborada em parceria com o International Chamber of Commerce (ICC) do Brasil e garante o anonimato do denunciante.

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A chegada de mais um canal de denúncia aberto à população ressalta o crescente movimento ético vivido pela sociedade brasileira nos últimos cinco anos, iniciado pelas deflagrações da Operação Lava Jato e pela chegada da Lei Anticorrupção. Nesta toada ética e moral, o canal de denúncia, junto a outros mecanismos de compliance, amplia o poder de agente fiscalizador da população.

A ação de Moro materializa uma importante contribuição da esfera privada para o âmbito público. Tudo porque o uso de canal de denúncias nas empresas se tornou o maior case ilustrativo do novo cenário ético corporativo brasileiro. E os indicadores mostram tal evolução. Em 2018, segundo dados da ICTS Protiviti, a quantidade mensal de denúncias recebidas foi de 6.215 relatos um incremento de 57,5% se comparado com a média mensal registrada em 2017, que foi de 3.944.  Referendando a importância do anonimato, os dados mostram que esta opção continua a crescer como a preferida pelos denunciantes, sendo que em 2018, 73,5% dos relatos aconteceram sem identificação, um aumento de 4,3% em relação aos 69,7% registrados em 2017.

Os números sinalizam não só a consolidação do uso do canal de denúncias nas companhias, bem como a maturidade do funcionário saber diferenciar denúncia de sugestões e reclamações. Além do mais, muitos colaboradores relatam condutas antiéticas no ambiente de trabalho tendo o real conhecimento de que não se trata de fofoca de corredor e, muito menos, de um caça às bruxas.   Recorrendo aos indicadores, estes mostram que 73,5% das denúncias recebidas tem elementos suficientes para serem apuradas, ou seja, são denúncias qualificadas.  Destes 73,5%, mais da metade, ou 50,8% são confirmadas após o processo de apuração.

Este forte movimento no mundo corporativo descrito anteriormente não tinha seu devido lugar na esfera pública, fato que felizmente começou a mudar com a cooperação do ICC e do Ministério da Justiça e Segurança Pública a partir do lançamento do canal de denúncias, que, com certeza, transformará milhões de cidadãos em fiscais ativos do poder público.

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Assim como aconteceu com as empresas em um passado nem tão distante, o próximo passo da administração pública é instaurar um processo de cultura de confiança na sociedade brasileira objetivado ao uso efetivo de um canal público de denúncia.

Vale ressaltar que nesta espécie de manual aberto para usar um canal de denúncia, os relatos de irregularidades devem ser captados e tratados sob a alcunha de um especialista, seja este advogado ou psicólogo. Canal de denúncias não é call center para apenas registrar um ato indevido. A qualificação do profissional que recebe o relato é de extrema importância para identificar o grau de criticidade e a urgência da resolução, além de usar técnicas para dar mais confiança ao denunciante.

Os rumos levados até aqui, com a chegada do canal de denúncia contra a corrupção, explicitam os contornos da máquina pública em deixar as relações com a sociedade mais transparentes e democráticas. Trata-se de uma lição ditada pelas empresas nos últimos anos que trouxeram (e trarão) ainda mais reflexos positivos para o Brasil.

*Fernando Scanavini é diretor executivo de operações na ICTS Protiviti

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