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Os perigos da internet e os cuidados com aplicativos

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Por William Grespan Garcia
Atualização:
William Grespan Garcia. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Tal qual no mundo real, onde devemos cuidar de nossa privacidade, de nossas propriedades, de nossos pertences, de nossa honra, também o mundo virtual apresenta perigos de não somenos importância. Vírus e outros aplicativos maliciosos (phishing, malwares, etc.), estão disseminados na internet, prontos a "atacar" os incautos. Em geral, tais aplicativos precisam ser instalados, com a aceitação das regras pelo usuário. No entanto, dadas as facilidades dos smartphones ou dos próprios computadores, que já armazenam dados do usuário, por vezes, tais sites ou links, com chamadas e propostas altamente atrativas, que aguçam a curiosidade do internauta, já abrem e aceitam as condições de uma maneira automática. É então que se apresentam os danos, como roubo de senhas, invasão de álbuns de fotos, roubo de dados bancários, enfim, uma total invasão da privacidade do usuário.

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Uma boa exemplificação do que acima foi exposto é a mais recente polêmica criada pelo uso do FaceApp, embora ele já estivesse na mira dessas mesmas polêmicas, em agosto de 2017, quando o quesito da privacidade não seria o cerne da questão, mas sim, a possibilidade de se mudar a cor da pele, o que poderia levar a falsidade ideológica e a obtenção de vantagens; no Brasil, por exemplo, poder-se-ia fraudar o sistema de cotas que hoje se aperfeiçoa cada vez mais. Diante dos questionamentos, à época, a empresa russa que desenvolveu o aplicativo retirou esses filtros raciais, mas continuou com a possibilidade de "envelhecer as pessoas".

Embora o aplicativo informe que este possa ser utilizado sem a necessidade de identificação do usuário, na instalação e no uso, o próprio FaceApp explicita que terá acesso e poderá coletar e armazenar dados de quem o utiliza. Daí, a ter acesso a dados pessoais e à identificação do usuário, não parece que haja grande dificuldade, conhecendo-se a capacidade de alcance das modernas tecnologias. Desse modo, estarão expostos os perfis de consumo do usuário, suas preferências musicais, os sites que visita e uma série de outras informações que subsidiarão o mercado, para que se envie ao usuário exatamente os anúncios que atingirão suas preferências, através de suas buscas e de seu acesso a sites e links específicos.

O aplicativo deixa de ter um fim em si mesmo, apresentando, camufladamente, as possibilidades de que empresas fornecedoras de produtos e serviços tenham acesso a essas preferências, utilizando o compartilhamento do aplicativo, sem que o usuário tenha garantido os termos de confidencialidade apregoados. Corre-se ainda o risco de que, ao ser vendida uma dessas empresas parceiras, sejam repassadas, aos novos acionistas e controladores, todos esses dados coletados por via indireta, através do uso do aplicativo.

O Procon, no último dia 18 de julho, notificou o FaceApp, para que defina e esclareça para que utilizará as informações coletadas dos usuários. Fundamenta esta ação, o fato de que no regulamento do aplicativo que autoriza a empresa a coletar e compartilhar dados do consumidor, não existe a definição da forma de coleta e compartilhamento, nem por quanto tempo e nem como serão utilizados os dados. Acresça-se a isto o fato de que os termos de uso da ferramenta não são disponibilizados em língua portuguesa.

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Ademais, o Procon no dia 22 de julho, notificou o Google e a Apple, por terem disponibilizado o programa em suas lojas online, devendo estas esclarecer as políticas de coleta, armazenamento e uso dos dados dos consumidores que utilizam o aplicativo de celular. Nos Estados Unidos, um senador também solicitou que o FBI investigasse o FaceApp pelos mesmos motivos.

O grande problema do uso do FaceApp e da disponibilização das fotos do usuário, além de outros dados, é que muitas autenticações de senhas e outras formas, já se utilizam do reconhecimento facial, o que, capturado por programas mal-intencionados, ou por empresas inescrupulosas, pode redundar em prejuízo para o usuário.

Verdade seja dita, plataformas como o Google e o Facebook já tem uma grande quantidade de dados armazenados. O FaceApp, aplicativo russo, faz com que se compartilhe informações com uma nova empresa, praticamente desconhecida.

Da mesma forma que o FaceApp preocupa, no início do ano houve o desafio dos 10 anos, que também provocou polêmicas sobre a alimentação de sistemas de reconhecimento facial, o que ocasionou a manifestação do Ministério Público para saber se havia ou não violação da legislação, por parte do Facebook.

Defensores dos direitos dos usuários, em muitos países, criticam o uso de reconhecimento facial e outros. No Brasil, também o início da aplicação desses recursos pelo Serviço de Proteção ao Crédito causa receio e preocupação, sempre por conta da utilização indevida de fotos e de dados pessoais.

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Prevenir-se de golpes ou da simples utilização dos próprios dados pessoais e/ou profissionais é algo premente, tal como nos golpes da vida real. Antivírus instalados e periodicamente atualizados podem ajudar a prevenir a maior parte das infestações virtuais. Porém, isso será inócuo para quem tem o hábito de ser atraído por frases de efeito, links coloridos, com imagens atrativas, com promessas de ganhos e vantagens, quer seja por e-mail, quer por WhatsApp, por vezes enviados até por pessoas conhecidas. Todo cuidado é pouco para quem quer se ver protegido de golpes cibernéticos.

Como diz um desenvolvedor de aplicativos, "a internet é um mundo virtual, com todas as mazelas do mundo real; muitos criminosos estão em busca de usuários inocentes".

*William Grespan Garcia, advogado especialista em Direito Civil

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