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Os economistas sobreviverão a mais uma crise?

Por Daniel Schnaider
Atualização:
Daniel Schnaider. Foto: Divulgação

Economia não é algo simples. A verdade é que, com o tempo, ela vem se complicando ainda mais. Ironicamente, grandes empresas usam, muitas vezes, físicos na criação de modelos para previsões econômicas, e não economistas. Essas empresas entendem que a dificuldade que enfrentam os estudantes de Física, como também o nível avançado de matemática exigido para sobreviver ao bacharelado, mestrado ou doutorado, são mais próximos da realidade do que as ferramentas disponíveis para os economistas por formação.

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No entanto, existe uma grande e significativa diferença entre Economia e Física que apenas pode ser desconfigurada em filmes, como exemplo no clássico De Volta para o Futuro, quando o personagem Marty McFly volta 30 anos no passado, à procura do Dr. Emmet Brown, criador do carro que viaja no tempo. O protagonista precisava da ajuda do cientista para consertar a máquina e, assim, voltar para o 'futuro'. Acontece que, antes mesmo da viagem no tempo, o Dr. Brown tinha sido assassinado. Ao voltar para o passado, o jovem queria contar-lhe o que iria acontecer, mas ele não aceitou ouvir, pois isso poderia mudar tudo.

Esse conceito é conhecido em ficção como o Butterfly Effect. Na teoria do caos, o efeito borboleta, conforme definido por seu criador Edward Norton Lorenz, é a dependência sensível às condições iniciais, em que uma pequena mudança em um estado de um sistema não-linear determinista pode resultar em grandes diferenças de um estado mais tarde.

Eu sei, o último parágrafo foi complicado, eu sei. Mas calma, não precisa desistir de ler! O que basicamente eu quis dizer é que as leis de Física não mudam simplesmente porque as pessoas tomam conhecimento dela. Já em Economia é o contrário. Quando um modelo econômico é desenvolvido, e certos players do mercado acreditam nele, tudo muda. Inclusive, se ele inicialmente era incorreto, pode virar correto, e vice-versa. Trata-se de um enorme contraste, por exemplo, à lei da gravidade, que não sofreu mudanças desde que Isaac Netwon a conceituou no século XVII.

O grande Albert Einstein mencionava há um século as ondas gravitacionais, que se confirmaram como existentes, abrindo a janela do tempo ao evento cosmológico que aconteceu em nosso universo há bilhões de anos atrás. Mas na Economia, não queremos olhar para trás para compreender os fenômenos, e sim para a frente, o que se revela uma missão bem complexa.

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Os eventos que vão definir o PIB, a inflação, o desemprego no futuro ainda estão para acontecer. Outros, já estão bastante vívidos. No entanto, podemos apenas estimar a probabilidade de certos eventos e quais seriam seus impactos em outras variáveis. Porém, existe a possibilidade de que eles não aconteçam, ou pelo menos que não se apresentem com toda a magnitude prevista. Podem ser centenas de variáveis interligadas, cada uma como sua gama de possibilidades e probabilidades. Para agravar o cenário, diferentes eventos puxam os indicadores em direções opostas. Então, fica a pergunta sobre quem irá puxar mais forte.

E como se não bastasse, existe na Economia os tais efeitos paradoxais. Por exemplo, a laffer curve, onde ao aumentar a carga tributária, existe a chance de queda na arrecadação. Da mesma forma, há cientistas prevendo que o aquecimento global irá congelar o mundo. Claro que existem explicações para cada um desses paradoxos, mas o ponto de equilíbrio, ou o tipping point, em que o aumento da carga tributária deixa de exercer sua função do aumento de arrecadação para a redução do mesmo, não é nada óbvio de definir.

Muitas vezes, lendas da Economia como Adam Smith são mal interpretados ou propositalmente mal interpretados por razões políticas (quem quiser se aprofundar, recomendo a leitura do link). Outras vezes não lemos, entendemos ou consideramos as premissas do estudo (link). Modelos científicos que falam em separar variáveis e realizar testes empíricos não têm como ser realizados porque o contexto da Economia é a linha do tempo. Isso significa que um evento, naquelas específicas circunstâncias, pode ser que nunca aconteça novamente, afinal, o tempo já passou. Comparando com um conceito físico como a luz, por exemplo, olhem só a diferença: ela tem a mesma velocidade agora, em um segundo, ou um ano atrás.

A Economia é uma ciência que, como as outras, tem um processo de auto ajuste. Quando a maior parte dos economistas presumia que o 'homem é um ser racional', vieram os pioneiros da Economia Comportamental (como Daniel Khaneman, Richard Thaler e outros) que comprovaram o contrário, abrindo um novo horizonte para a nova geração de estudiosos.

Ainda assim, parece que, por definição, a crítica inerente a economistas e seus trabalhos sempre existiram, independente do que venha acontecer. Lembrem-se de Michael Burry (recomendo o filme A Grande Aposta, de 2015), fundador da Scion Capital, entre os primeiros (se não o primeiro) hedge funds a reconhecer a severidade da crise econômica que iria acontecer em 2008. Ele se posicionou contra o mercado financeiro americano e, como outros, foi mais tarde criticado, como se fosse um dos culpados por criar a crise. Causa e efeito sempre será algo muito difícil na economia, como a resposta do que veio antes: o ovo ou a galinha?

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Mas acredito que as críticas são como olhar a metade vazia do copo. Enquanto países, estados, grupos (sociedade, empresas, família etc) e indivíduos tiverem a necessidade de entender a melhor forma de como devem utilizar recursos escassos e distribuí-los entre as pessoas, a Economia será uma ciência fundamental e necessária.

*Daniel Schnaider é CEO da Pointer Brasil

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