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Os discursos de Bolsonaro na ONU: do americanismo trumpista ao isolamento

Por André Frota
Atualização:
Andre Frota. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

A abertura dos discursos dos chefes de estado na Assembleia Geral das Nações Unidas é feita historicamente pelo Brasil. Como uma tradição da diplomacia brasileira, o Presidente da República detém o direito e, sobretudo, o dever de discursar para a população global nesse momento.

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Jair Bolsonaro foi à tribuna pela terceira vez em seu mandato. Ao contrário das outras duas vezes, não foi sucedido pelo ex-presidente Donald Trump. Dessa vez, o segundo presidente a discursar foi o democrata Joe Biden.

Os dois primeiros oradores - Brasil e EUA - possuem esse espaço de introdução aos trabalhos da Assembleia Geral da ONU. Como dois países que fazem parte da comunidade internacional, a sequência dos discursos faz parte da agenda de acompanhamento das delegações, assim como das equipes de reportagem e das autoridades.

O terceiro discurso do presidente brasileiro foi marcadamente distinto dos outros dois primeiros. Do lançamento de uma política externa de alinhamento ideológico com o trumpismo, que marcou a primeira e a segunda participação do Brasil, o terceiro discurso foi destinado ao público interno.

A política externa bolsonarista, até o ano de 2020, possuía uma linha de inserção e aproximação internacional baseada no alinhamento automático e ideológico com os Estados Unidos, governados pelo republicano Donald Trump. Bolsonaro criou uma forma específica de americanismo, ao estabelecer uma aposta de inserção, baseada na aproximação com uma fração da sociedade norte-americana ultraconservadora, da qual o próprio bolsonarismo é formado.

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Entretanto, após a derrota nas eleições presidências para Joe Biden, a espinha dorsal dessa aposta de inserção externa tornou-se impossível de ser concretizada. O resultado é o próprio discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral. Um discurso descolado da realidade internacional e sem o apoio ideológico e bilateral dos EUA.

A busca do presidente brasileiro de mostrar a sua visão do Brasil para o mundo na Assembleia, pode ser explicado por essa aposta restritiva de alinhamento automático, que perdeu a sua base de sustentação internacional, e agora precisa mostrar suas credenciais institucionais, econômicas, políticas e, sobretudo, ambientais.

O fato é que as Nações Unidas representam o sistema multilateral de coordenação global para as principais negociações e acordos que irão ocorrer nos próximos anos. A aposta da política externa bolsonarista estava atrelada a uma lógica bilateral e partidária (trumpista). Essa mesma lógica indicava um afastamento dos mecanismos de concertação multilateral, como foi o caso da saída do acordo de Paris, feita por Trump e desfeita por Biden e os cortes no financiamento da Organização Mundial da Saúde.

Em linhas de síntese, o discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral reflete o isolamento bilateral e multilateral que o Brasil se encontra. Um vazio estratégico para as parcerias bilaterais e a inexistência de um projeto de inserção presidencial para o campo multilateral.

*André Frota é professor de Relações Internacionais, Ciência Política e Geografia do Centro Universitário Internacional - Uninter

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