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'Os contratos vinham prontos', diz filha de almirante da Eletronuclear

Acordos de R$ 2,69 milhões entre Aratec Engenharia, controlada pelo ex-presidente da estatal Othon Luiz Pinheiro da Silva, e CG Consultoria estão sob suspeita da Lava Jato

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Othon Luiz Pinheiro da Silva. Foto: Beto Barata/AE

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

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A engenheira Ana Cristina Toniolo, filha do ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, afirmou à Polícia Federal que os contratos entre a Aratec, empresa controlada por ela e pelo pai, e a CG Consultoria 'chegavam prontos'. Othon Luiz, preso desde 28 de julho na Operação Lava Jato, é suspeito de ter recebido R$ 4,5 milhões em propina sobre contratos da Usina Angra 3. Os investigadores suspeitam que a propina para o almirante pode ter chegado a R$ 30 milhões.

Os pagamentos, segundo o Ministério Público Federal, saiam de empreiteiras ligadas à obra da Eletronuclear, passavam por empresas intermediárias e chegavam à Aratec. Uma das intermediárias seria a CG Consultoria, administrada por Carlos Gallo.

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"Nunca negociou os valores dos contratos firmados entre a Aratec e a CG Consultoria; que os contratos vinham prontos da parte de Carlos", afirmou Ana Cristina Toniolo. "A dinâmica era a seguinte, primeiro Carlos enviava um contrato à declarante, posteriormente pedia a emissão de notas fiscais, e passava o valor; que em um terceiro momento é que pedia que o estudo relativo ao referido contrato fosse efetivamente entregue, e então avisava que aquele contrato já estava "fechado"; que acredita que este relacionamento tenha durado cerca de dois anos."

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De acordo com levantamentos da Receita Federal, a principal fonte pagadora que contribuiu para o 'repetino crescimento' da receita bruta da Aratec, entre 2009 e 2014, foi a CG Consultoria. A empreiteira Andrade Gutierrez, já investigada na Lava Jato, declarou que pagou à CG Consultoria (antiga CG Impex), a quantia de R$ 2,93 milhões, entre 2009 e 2012. No mesmo período, a CG Consultoria depositou para a Aratec a quantia de R$ 2.699.730 milhões. O Ministério Público Federal afirma que a diferença entre os dois valores foi "o custo da lavagem" descontado na operação.

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Ana Cristina Toniolo relatou à PF que em 2009, o pai lhe telefonou avisando que Carlos Gallo iria ligar e 'que era para a Aratec emitir algumas notas fiscais para ele, sendo que Carlos passaria os dados necessários'. "Carlos procurou a declarante e pediu que fizesse alguns trabalhos, passando os contratos prontos, o projeto a ser feito, e pedia para que a nota fiscal fosse emitida apenas quando ele pedisse; que após a nota fiscal emitida, Carlos pedia à declarante que montasse um paper, um estudo referente ao tema; que não se tratavam de estudos profundos de autoria da declarante e nem de consultorias, apenas de uma compilação de informações sobre um tema", afirmou.

Segundo a filha do almirante, ela 'apenas obedeceu àquilo que lhe foi pedido, não sendo Carlos Gallo um cliente seu propriamente'. Ela relatou à delegada Erika Mialik Marena que não questionou o executivo da CG Consultoria sobre a razão dos pedidos dos tais estudos, apenas atendeu a uma solicitação de seu pai.

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Ouvido na Procuradoria da República em São Paulo, Carlos Gallo argumentou que apesar de não ter funcionários prestou serviços de consultoria para Andrade Gutierrez. Ele alegou entretanto que o trabalho não teria qualquer vinculação com as obras de Angra 3.

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"A vinculação do supostos serviços de consultoria da CG Consultoria com as obras da Andrade Gutierrez em Angra 3, sob o comando do investigado Othon Luiz, apesar de não reconhecida por Carlos Montenegro Gallo, está clara nos lançamentos fiscais da própria Andrade Gutierrez", aponta a Procuradoria em pedido de prisão de Othon Luiz.

Nos lançamentos da empreiteira, segundo o Ministério Público Federal, estava a expressão 'overhead'. "Registre-se que a expressão Overhead é relacionada a custos indiretos, que não se referem ao trabalho nem à matéria-prima, o que, sem dúvida, no caso contrato, relaciona-se com "custos extras" de Angra 3 destinados ao pagamento de vantagens indevidas a Othon Luiz."

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