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Open Banking: o novo normal para a indústria de crédito

Por Bruno Moura
Atualização:
Bruno Moura. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Nos últimos anos, a indústria de crédito tem vivido ondas de regulamentações e inovações que exigem que os profissionais desse mercado se reinventem a todo instante.

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Em 2015 vivenciamos um verdadeiro caos no mercado quando se foi aprovada a "Lei do AR", onde os bureaus de crédito eram obrigados a comunicar as negativações no mercado através de cartas de aviso de recebimento enviadas pelos Correios (aquelas em que se exige a assinatura da pessoa como comprovação de recebimento da correspondência), inviabilizando o acesso à informações de inadimplentes.

Como consequência tal lei exigiu que os profissionais da área de crédito adaptassem suas políticas e desenvolvessem novos modelos estatísticos baseados em dados alternativos, controlando a inadimplência sem abrir mão de boas taxas de aprovação. Tal lei foi derrubada em 2017 após longas discussões, porém com uma indústria mais madura e observando com bons olhos os dados alternativos que provaram ter capacidade de prever eventos de inadimplência, mudando uma cultura de longa data da análise de crédito baseada prioritariamente em dados restritivos.

Com uma agenda de modernização e desenvolvimento, o Banco Central estabeleceu as discussões sobre o cadastro positivo em 2019, onde o projeto prevê que o histórico de informações de crédito de uma pessoa possa ser compartilhado pelas empresas para Gestores de Banco de Dados (Serasa, Boa Vista, Quod e SPC Brasil). Essas por sua vez, passam a ser responsáveis por criarem soluções estatísticas com o propósito de ajudar o mercado à compreender não apenas o comportamento daqueles que ficam inadimplentes no mercado, mas também dos bons consumidores que honram pontualmente seus compromissos de crédito, além de ponderar melhor suas notas de crédito (Scores) e avaliar com mais clareza diferentes características dos consumidores no mercado.

Apesar de um volume exponencialmente maior de informações disponíveis pelo cadastro positivo, ainda estamos tratando de dados vinculados à operações de crédito sendo que todas as transações de pagamento à vista (PIX, transferências, investimentos, pagamentos em débito e o detalhe de gastos dos cartões de crédito) ainda não tem visibilidade no mercado e a visão de consumo das pessoas com essa característica é perdida, fazendo com que a análise de crédito mantenha a visão de risco e não de oferta com o desenvolvimento de produtos e políticas aderentes ao perfil do consumidor.

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Indo ao encontro de uma nova onda de evolução do mercado, encontramos o Open Finance, que vem para reduzir ainda mais a assimetria de informações no mercado e transformar a visão dos profissionais de crédito, fazendo com que as políticas de crédito sejam feitas baseadas em ofertas e não apenas em uma visão de inadimplência, aprova e reprova.

Com a possibilidade de olhar detalhadamente o consumo das pessoas, linha a linha de um extrato bancário ou de cartão de crédito (sim poderemos saber onde, quanto e quando se foi gasto a cada transação bancária), será possível conceder crédito para brasileiros que vivem como autônomos ou que complementam sua renda de diversas formas e têm imensa dificuldade em comprovar seus ganhos e gastos, já que não tem o hábito de consumir produtos de crédito, simplesmente porque não são vistos como potenciais consumidores, tão pouco tem ofertas adequadas para eles.

Visto isso, imagine uma política de crédito onde conseguiremos avaliar um consumidor que:

- Nunca consumiu nenhum produto de crédito financeiro;

- Não tem contas em seu nome, apenas pré-pagas;

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- Porém recebe como autônomo mais de 6 mil reais por mês;

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- Tem despesas mensais na casa de 3 mil reais (pagas à vista);

- Precisa comprar um carro para expandir seus negócios e consegue pagar tranquilamente uma parcela de R$ 1.500,00!

Hoje, grande parte dos consumidores com essa característica, tende a ter seu crédito negado ou tendo a exigência de passar por processos burocráticos intensos e cansativos, que oneram o cliente e a instituição financeira e que muitas vezes não mudam o panorama, porém com o Open Banking conseguiremos avaliar os consumidores com políticas e ofertas assertivas, possibilitando que os profissionais dessa indústria desenvolvam ainda mais suas capacidades analíticas e foquem os esforços em ofertas atraentes e novas visões que não apenas: inadimplência, aprovação e reprovação.

Apesar de todos esses benefícios e visões de futuro, o grande desafio dos profissionais da indústria de crédito com o Open Banking será aprender e extrair valor dos dados brutos dos extratos bancários.

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Categorizar transações de diversos bancos e transformá-las em variáveis aptas para serem usadas em modelos e políticas de forma estável, será tarefa árdua e levará tempo, até pela estrutura de consentimento exigida pelo Open Banking, sendo essencial o papel de empresas de analytics focadas em Open Finance para apoiar o mercado na estruturação dos dados e geração de valor a partir de extratos bancários e conexão de contas.

*Bruno Moura, diretor de negócios da Klavi

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