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Onde foi parar o 'novo normal' nas empresas e na sociedade?

Por David Braga
Atualização:
David Braga. Foto: Divulgação

O 'novo normal' se tornou uma expressão do nosso cotidiano, em função da pandemia da Covid-19, que tem assolado os países pelo mundo. Inicialmente, o termo foi utilizado para definir mudanças de comportamento para garantir a segurança de todos, como o uso de máscara e de álcool em gel, distanciamento entre os indivíduos em locais públicos e outros aspectos. Logo depois, foram observados comportamentos benéficos para a sociedade e para as corporações, a exemplo da adoção do trabalho remoto, valorização do tempo em casa e em família, mais empatia e solidariedade. Sendo assim, existia a ideia de que essas transformações estabeleceriam um novo padrão e uma nova consciência. No entanto, será que isso está realmente prevalecendo no dia a dia?

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Há exatamente um ano, no Brasil, muitas companhias foram obrigadas a colocar grande parte de seus colaboradores no modelo de atuação home office, até mesmo aquelas que nunca tinham adotado o sistema. Eles tiveram que se adaptar rapidamente: tanto as lideranças, no seu modo de gerenciamento, quanto os liderados, que ganharam mais autonomia e responsabilidade. O trabalho invadiu os lares e, consequentemente, rotinas diferenciadas foram definidas. Para muitos, inclusive, ainda tem sido complexo dissociar o âmbito profissional do pessoal. 

As organizações saíram do modelo de poder e controle e passaram a aplicar a gestão por performance, na qual as entregas dos funcionários estão sendo mais valorizadas do que o cumprimento de um horário pré-determinado. Ficaram mais digitais, conheceram diversas plataformas para a condução de reuniões e, no início da pandemia, ativaram o senso comum, promovendo ações em prol do bem coletivo. Assim também ocorreu individualmente. As pessoas procuraram amparar e ajudar os mais necessitados, com doação de alimentos e produtos de higiene, realização de compras para os idosos que não podiam sair de casa, se tornaram mais sensíveis aos colegas. 

O status quo foi amplamente questionado e valorizou-se mais a vida. Percebemos, de forma mais enfática, que, realmente, é importante ter equilíbrio entre o trabalho e os momentos privados, bem como para exercer as atividades que provocam impactos socioambientais. Portanto, havia a certeza de que tudo mudaria. Nada seria igual ao que era antes da pandemia, tanto na vida pessoal quanto profissional. 

Hoje, porém, o trânsito já está voltando a ser caótico; a poluição tem recuperado os altos índices; o empenho em ações solidárias não é mais o mesmo; os indivíduos estão com menos paciência e menos saúde mental. Do lado das empresas, muitas sequer revisaram suas metas e continuam exigindo dos colaboradores resultados além do possível. Lideranças que não conversam "olho no olho" com seus liderados seguem com essa postura. Prazos cada vez menores, e cobranças crescentes. 

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Então, para onde tem caminhado o "novo normal"? Como falar tanto de propósito e de felicidade no trabalho, sem inovar, sem se reinventar e sem questionar os padrões estabelecidos anteriormente? Claro que toda e qualquer corporação precisa gerar lucro para manter a perenidade. Mas seria a qualquer custo? A verdade é que não é possível retornar ao modelo antigo, mesmo porque ele está obsoleto. Não à toa, o tema de capitalismo consciente ganha cada vez mais destaque nas discussões. 

Além disso, é fundamental que as organizações permaneçam no caminho da humanização, com lideranças sempre engajadas, uma vez que fazem a gestão de pessoas com idades, personalidades e culturas variadas. Também o tema espiritualidade é muito importante no sucesso da carreira e na busca do equilíbrio entre o corpo, a alma e o espírito. Quando o profissional eleva o seu nível de consciência, ele cria um diferencial de atuação no mercado de trabalho, conseguindo conviver com as diferentes posturas e atitudes dos colegas de modo mais maduro e seguro. 

Portanto, diante de todo esse panorama, o "novo normal" precisa, de fato, se consolidar no cotidiano das pessoas e empresas. Isso significa naturalizar as práticas mais humanizadas, a preocupação com o outro e a procura por um profundo autoconhecimento e por propósito. Afinal, a transformação começa em nós mesmos. Sempre há tempo para mudar, mas é necessário acreditar que a sociedade pode ser melhor. Aqui, cabe a reflexão: o que temos feito para nos tornarmos pessoas e profissionais melhores a cada dia? E como ficará a imagem das empresas após tudo isso? Que legado deixarão e como serão lembradas?

*David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent. É também professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC) e autor do livro "Contratado ou Demitido - só depende de você". Ele atua, ainda, como embaixador da ONG ChildFund e é Conselheiro de RH da ACMinas. 

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