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Olhai os lucros do campo

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Por Sílvio Ribas
Atualização:
Sílvio Ribas. FOTO: ARQUIVO PESSOAL  

A indicação do agrônomo mineiro Alysson Paolinelli ao Prêmio Nobel da Paz 2021 vem em excelente hora. É o reconhecimento em vida do inestimável trabalho feito pelo pai da moderna agricultura tropical e um importante contraponto à narrativa dos concorrentes globais de nosso agronegócio, de que precisamos derrubar árvores para produzir mais, mais e mais. É a vitória da ciência sobre a fome e a devastação florestal e o justo orgulho nacional advindo da tenacidade de grandes e responsáveis produtores.

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O ex-ministro da Agricultura revolucionou o campo brasileiro nos anos 1970 e 1980, tornando o até então infértil cerrado uma das maiores regiões produtoras do planeta. Graças a ele, o Brasil investiu pesado em tecnologia e deixou de ser um importador de alimentos básicos para virar potência exportadora, respeitando o meio ambiente. Essa virada garantiu a segurança alimentar no mundo, fator decisivo para a prevenção de conflitos internacionais. Isso porque onde há fome jamais haverá a paz.

A candidatura de Paolinelli, de 84 anos e em plena atividade, foi protocolada no fim de janeiro pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e recebeu apoio de todas as entidades ligadas ao setor rural no Brasil, além de mais de 100 líderes de instituições em 28 países. O Conselho Norueguês do Nobel ainda recebe candidaturas ao prêmio até o fim deste mês e irá divulgar o resultado em dezembro. Como brasileiros temos de abraçar e torcer pela justa escolha dele como promotor da paz.

Uma prova mais recente disso veio de estudo divulgado na quinta-feira (4) pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), segundo a qual o agronegócio do país é responsável pela alimentação de ao menos 800 milhões de pessoas, cerca de 10% da população global. A partir de dados apenas de colheita de grãos e oleaginosas, foram só considerados produtos que constituem a base da alimentação humana, seja o consumo direto, seja para alimentos processados ou ainda como ração para animais.

O estudo revelou ainda que a participação do Brasil na produção mundial de grãos subiu de 6% em 2011 para 8% em 2020, puxada pela demanda da China, nossa principal compradora de soja e carnes. Em meio a tanta notícia trágica para o Brasil gerada pela pandemia da Covid-19, os lucros recordes do agronegócio nacional no ano passado destoam positivamente e devem se ampliar neste ano, ajudando a conter as graves perdas econômicas do país com a crise social e sanitária e sustentando verde esperança no futuro.

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As exportações do nosso agronegócio somaram US$ 101 bilhões em 2020, alta de 4,1% em relação ao ano anterior. Puxada pela crescente demanda global crescente, sobretudo a asiática, os números seguirão subindo. Nesse ritmo, a safra 2020/2021 levará o valor bruto da Produção Agropecuária Brasileira (PAB) a superar R$ 1 trilhão, batendo o marco de R$ 885,8 bilhões de 2019/2020. Se tivéssemos autossuficiência em adubos químicos, malha ferroviária decente e melhor ambiente de negócios, os lucros dobrariam.

Produtividade é a saída

É do campo que vem alento para nossos piores momentos. Com vultoso e continuado investimento próprio, tecnologias de ponta desenvolvidas por brasileiros e trabalho ininterrupto, com safras no ano inteiro, produtores de todos os portes espalhados em diversas regiões de um território continental fazem bonito. É o setor que vem garantindo renda e emprego para milhões e compensando perdas de capital e na balança comercial. Muito além de cotações, é graças à produtividade que o país faz bonito.

Eis a importância de lutarmos para superar gargalos logísticos e financeiros do setor mais estratégico para o país no momento, de modo a obter mais retorno com sua já eficiente organização. Se fizermos bem o dever de casa, incluindo a defesa do selo de respeito ambiental, a liderança do Brasil no agronegócio global se consolidará. A saga de Paolinelli, um herói nacional, precisa continuar, pois o Brasil pode alimentar outros 10% do globo sem tirar um centímetro da Amazônia, apesar do que dizem lá fora e porque é a água evaporada das matas do Norte que chove sobre a lavoura do Centro-Oeste. Plante essa ideia.

*Sílvio Ribas é jornalista, escritor, consultor em relações institucionais e assessor parlamentar no Senado Federal

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