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Oito procuradores abrem hoje corrida pela cadeira de Janot

Na mais tensa e acirrada disputa pelo comando da Procuradoria-Geral da República, que detém poder para investigar até o presidente da República, cinco candidatos se alinham à estratégia do atual chefe da instituição, mas três se opõem a ele e a seus métodos severamente

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:

Os candidatos à lista tríplice: Carlos Frederico, Eitel Santiago, Ela Wiecko, Franklin Costa, Mario Bonsaglia, Nicolao Dino, Raquel Dodge e Sandra Cureau. Fotomontagem: ANPR Foto: Estadão

A disputa pela cadeira do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, começa nesta segunda-feira, 29. A partir das 13h30, na sede da Procuradoria da República, em São Paulo, oito procuradores fazem o primeiro debate entre os candidatos ao mais alto cargo da instituição.

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Concorrem ao cargo os subprocuradores-gerais da República Carlos Frederico Santos, Eitel Santiago de Brito Pereira, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, Franklin Rodrigues da Costa, Mario Luiz Bonsaglia, Nicolao Dino, Raquel Elias Ferreira Dodge e Sandra Verônica Cureau. As campanhas para a lista tríplice vão até o dia 26 de junho e a eleição será realizada na última semana de junho.

Rodrigo Janot está à frente do Ministério Público Federal há dois mandatos, desde 2014. Durante este período, Janot pôs o País de ponta cabeça. Jogou contra a parede velhos caciques da política e, por sua iniciativa, passaram à condição de investigados ou réus personagens como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Fernando Collor (PTC-AL) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

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Nem o presidente da República escapou das investigações do procurador. Sua mais recente ofensiva encurrala Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Rocha Loures, flagrado com a mala estufada de propina.

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Ações apartidárias de Janot fizeram crescer seu prestígio na instituição que dirige, mas abriram caminho para uma reação sem precedentes no Congresso onde tramam projetos para asfixiar o poder de investigação da Procuradoria.

Lista tríplice. O mandato do procurador-geral da República termina no dia 17 de setembro.

A prerrogativa de escolher e indicar o procurador-geral da República é exclusiva do presidente, que não é obrigado a aceitar nenhum nome da lista tríplice eleita pela classe. A rotina de tirar da lista tríplice o chefe da Instituição foi inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantida por sua sucessora Dilma Rousseff.

No período, ocuparam o posto de mandatários da instituição: Claudio Fonteles (2003-2005); Antonio Fernando (2005-2009); Roberto Gurgel (2009-2013) e Rodrigo Janot. Todos foram os primeiros colocados na lista eleita pela categoria.

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República remeterá a lista com os três nomes mais votados pelo colégio dos procuradores da República ao presidente da República, aos presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, além de encaminhar ao procurador-geral da República e ao Conselho Superior do Ministério Público Federal.

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Uma vez escolhido, o nome indicado pelo presidente da República passa por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e pela apreciação no Plenário do Senado (onde deve obter aprovação por maioria absoluta). O mandato do procurador-geral da República é de dois anos, permitida a recondução.

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Candidatos. Nicolao Dino mantém a discrição e avalia nos bastidores que "o mar está muito revolto". Além de precisar angariar o apoio interno, o maior desafio do vice-procurador-geral eleitoral é nas duas fases subsequentes do que chama de "triatlo": a indicação do presidente da República e a aprovação do nome pelo Senado. O subprocurador é irmão do governador Flávio Dino (PC do B), opositor do PMDB de José Sarney no Maranhão.

Dino, no entanto, diz confiar na "institucionalidade" do processo de escolha do Procurador-Geral da República. De acordo com ele, o órgão assumiu protagonismo na cena democrática do País, um dos fatores que faz com a disputa deste ano seja acompanhada com lupa por atores políticos.

Ela Wiecko, ex-vice-procuradora-geral da República, deve enfrentar a mesma dificuldade de Nicolao. Com respaldo de parte considerável da carreira, Ela apareceu em vídeo no qual é realizado um ato contra Temer. Depois disso, teve que deixar o cargo de número 2 de Janot, o que consolidou um processo de afastamento do PGR. Ela agrega um eleitorado crítico ao excessivo foco do MPF no combate à corrupção e defende que a instituição também preste atenção em outras áreas de tutela coletiva de diretos.

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Franklin Rodrigues da Costa foi o responsável pela implantação da Procuradoria da República em Roraima. Ele atuou como procurador-chefe da unidade local.

Raquel Dodge, Eitel Santiago de Brito Pereira e Carlos Frederico Santos são conselheiros do Conselho Superior do Ministério Público Federal.

Mario Bonsaglia e Raquel Dodge concorreram com Janot em 2015, quando o procurador-geral foi reconduzido. Na época, o grupo ligado a Janot pretendia que ele fosse reeleito por "aclamação", sem a formação da lista tríplice. Mas os demais candidatos rejeitaram a proposta. Nas urnas, Janot obteve 799 votos, seguido de Bonsaglia (462) e Raquel (402).

Bonsaglia, vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal, costuma ser bem votado em eleições internas e pretende se apresentar como um candidato independente. Já Raquel antagonizou com o procurador-geral da República durante debate no Conselho Superior do MPF, recentemente, ao apresentar uma proposta que poderia limitar o grupo de trabalho de Janot. A proposta também foi encampada por Carlos Frederico. Em 2015, Fred, como o subprocurador é chamado internamente, foi um dos maiores opositores à postura de Janot na função de Procurador-Geral da República. Na disputa deste ano, ele deve manter o tom crítico a atos da administração atual - como a composição do gabinete do Procurador-Geral da República e o que considera uma condução "midiática" das investigações.

Com relação a Raquel Dodge, a perspectiva de subprocuradores é que ela altere todo o grupo de trabalho formado por Janot, inclusive na Lava Jato, considerando inimizade entre os dois carregada por disputas internas anteriores.

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Sandra Cureau participou de reuniões com pré-candidatos, mas segundo interlocutores deixou em aberto sua participação na campanha deste ano. Nas eleições de 2010, como vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra ficou conhecida por postura dura nas representações feitas aos candidatos e críticas a Dilma e Lula.

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