Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Oito medidas para transformar a USP em uma universidade de ponta

PUBLICIDADE

Por Daniel José
Atualização:
Daniel José. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A eleição da USP, ocorrida em 25 de novembro, marca o início de uma nova gestão e, com ela, a oportunidade de promover iniciativas que elevem ainda mais o nível da pesquisa e do ensino. Neste sentido, é também uma oportunidade para transformar a USP em uma universidade preparada para navegar as águas incertas do futuro do ensino superior no Brasil e no mundo. Somente dessa forma a USP irá honrar sua história e seu impacto no desenvolvimento da sociedade brasileira.

PUBLICIDADE

Com esse objetivo, elaborei uma lista de oito medidas divididas em três eixos com os maiores desafios da USP para as próximas décadas:

Eixo I: Diversificação das fontes de receita

Atualmente quase a totalidade das receitas da Universidade provém da arrecadação de apenas um imposto, o ICMS. Isso sujeita a Universidade às oscilações da arrecadação do Estado, a qual está intimamente ligada à atividade econômica. Diversificar as fontes de receita resultaria em menor dependência dos recursos derivados deste tributo e minimizaria o risco de redução de receitas decorrente de eventual diminuição na arrecadação.

Medida 1: Estabelecer cobrança de mensalidade na graduação compatível com a renda familiar do aluno

Publicidade

Além de diminuir a dependência exclusiva dos cofres públicos, trata-se de medida de justiça se considerarmos que o imposto sobre o consumo (ICMS) incide proporcionalmente mais sobre o contribuinte de menor renda o qual, em geral, é alijado da participação da comunidade acadêmica. O atual modelo implica, salvo algumas exceções, na promoção do ensino superior dos mais ricos subvencionado pelo tributo pago pelos mais pobres. Por meio dessa medida, estima-se uma possível geração de receita na ordem de 700 milhões de reais.

Medida 2: Venda de ativos imóveis

A USP é proprietária de diversos ativos imobiliários que possuem alto valor de mercado e são mal utilizados.  Um exemplo é o Centro de Convenções da USP que, se alugado ou concedido, poderia gerar cerca de R$ 300 mil para os cofres da Universidade. No entanto, o Centro segue desde 2020 com apenas 70% das obras concluídas. Além disso, é possível mencionar os mais de 300 imóveis recebidos de heranças vacantes até 1990, que estão ocupados irregularmente ou sem uso algum, pelo contrário, gerando despesas para a Universidade. Esses espaços deveriam ser alienados ou concedidos à iniciativa privada para geração de receita para a Universidade.

Medida 3: Ampliação de parcerias com entidades privadas para obtenção de recursos e realização de pesquisas de ponta

A cooperação com entidades da sociedade civil sem fins lucrativos ou até mesmo com empresas pode trazer sinergia e viabilizar estudos e projetos que resultarão em benefício, não apenas para a Universidade e para a entidade privada, mas para a sociedade. Em universidades de ponta ao redor do mundo, empresas financiam pesquisas e patrocinam investimentos visando aumentar o número de alunos que poderão se tornar futuros colaboradores.

Publicidade

Medida 4: Concessão de espaços nos diversos Campi

É dramática a diferença entre as universidades públicas brasileiras e as universidades de ponta no mundo. Enquanto nestas vemos campi repletos de atividades comerciais e estruturas modernas, por aqui temos campi que mais parecem amplas áreas improdutivas e subutilizadas. Está na hora de integrarmos a Universidade à sociedade por meio de concessões de espaços para a construção e operação de comércios, restaurantes, cafés, etc.

Eixo II: Melhoria operacional

Medida 5: Regras fiscais mais duras que imponham limites e coloquem critérios para a realização de despesas e investimentos

Observa-se que aproximadamente 90% do orçamento da USP é destinado a despesas com pessoal. Nas melhores universidades dos EUA este percentual é de 61%, enquanto nas universidades na União Europeia gira em torno de 58,5%. Além disso, a USP possui três funcionários administrativos para cada docente, enquanto as universidades de referência mantêm aproximadamente um funcionário administrativo para cada professor. É fundamental, visando o longo prazo da USP, que os gastos com pessoal caiam para um patamar semelhante ao das melhores universidades do mundo e a relação entre pessoal administrativo e docentes se aproxime daquela observada nas universidades de ponta.

Publicidade

Medida 6: Modernização das carreiras dos professores

É comum a existência de professores que realizam pesquisas de ponta, mas que são obrigados a dar aulas sem a mesma excelência. Por outro lado, também é comum a existência de professores com excelência na atividade pedagógica, mas sem a mesma vocação para realizar pesquisas de impacto internacional. A modernização da carreira docente deve possibilitar a especialização em ensino ou pesquisa. Em muitas universidades de ponta ao redor do mundo observamos docentes especializados no ensino e docentes especializados em pesquisa, o que traz eficiência na aplicação de recursos em pessoal.

Eixo III: Modernização da Governança

Medida 7: Ampliar participação do setor produtivo e da sociedade no Conselho Universitário, bem como reduzir o número de conselheiros

As grandes decisões da USP são tomadas no Conselho Universitário composto por 123 membros que, geralmente, são representantes de setores e grupos da universidade. Isso impede a realização de reformas estruturantes que preparem a USP para o futuro, uma vez que as decisões acabam refletindo os interesses corporativos de seus membros. Para que as grandes mudanças na USP aconteçam, o Conselho Universitário precisa ser reduzido e contar com a participação majoritária da comunidade de ex-alunos com carreiras de grande alcance na sociedade e sem vínculos funcionais com a Universidade.

Publicidade

Medida 8: Modernização do processo de escolha de novos reitores

O compromisso com a melhoria da USP passa pela adoção de medidas técnicas profundas e de difícil implementação. Para tal, é necessário que a Universidade avance na qualidade de governança e estabeleça um processo de seleção de futuros reitores mais alinhados com as boas práticas internacionais. Nas melhores universidades do mundo o reitor é escolhido pelo Conselho Universitário por meio de um processo seletivo técnico mapeando e testando talentos de dentro e de fora da universidade. Dessa forma, a USP poderá valorizar a capacidade técnica e de liderança, ao invés do atual processo eleitoral que sofre forte influência da capacidade de articulação política de cada candidato.

A realização desta agenda tornará a USP mais eficiente, dinâmica e inclusiva, consolidando sua posição como universidade de porte internacional e contribuindo de forma decisiva no desenvolvimento socioeconômico do nosso país.

Tenho certeza de que não sou o único à disposição para contribuir de todas as formas possíveis para que a USP seja daqui a 50 anos ainda mais importante do que foi para o Brasil nos últimos 50.

Vamos transformar o Brasil por meio da Educação?

Publicidade

*Daniel José, deputado estadual pelo Estado de São Paulo e membro do Conselho Consultivo da USP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.