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Offshore ligada a ex-gerente da Petrobrás recebeu US$ 3 mi do setor de propinas da Odebrecht, aponta Lava Jato

Por meio de cooperação internacional, a força-tarefa da Operação Lava Jato identificou que Roberto Gonçalves, preso na Operação Paralelo, movimentou mais de US$ 5 milhões em contas na Suíça

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Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho e Luiz Vassallo
Atualização:

FOTO JF DIORIO /ESTADÃO Foto: Estadão

A Procuradoria da República, no Paraná, afirmou nesta terça-feira, 28, que uma offshore ligada a ex-gerente da Petrobrás Roberto Gonçalves recebeu US$ 3 milhões de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas, o 'Departamento de Propinas', da Odebrecht, em 2011. Por meio de cooperação internacional, a força-tarefa da Operação Lava Jato identificou que o ex-gerente da Petrobrás movimentou mais de US$ 5 milhões em contas na Suíça. Roberto Gonçalves foi preso em Roraima nesta terça, na Operação Paralelo, 39ª fase da Lava Jato.

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Em nota, a Procuradoria informou que foram identificadas cinco contas bancárias, sendo uma delas, registrada em nome da offshore Fairbridge Finance SA que tem Roberto Gonçalves como beneficiário final. Esta conta teria recebido, em 2011, cerca de US$ 3 milhões de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o 'Departamento de Propinas' da empreiteira.

"A iniciativa de criar essas contas offshore é conjunta que surgiu quando Roberto Gonçalves passou a receber propinas da Odebrecht. Por que não abrir uma conta em nome de uma offshore no exterior para facilitar os recebimentos? Foi criada, então, a primeira conta em nome da offshore Fairbridge Finance SA. Essa offshore foi criada na Suíça e recebeu pagamentos das conhecidas contas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht", afirmou o procurador Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato.

Segundo a Procuradoria, outra conta, registrada no nome da offshore Silverhill Group Investment Inc. e que também tem Gonçalves como beneficiário final, recebeu, no ano de 2014, mais de US$ 1 milhão provenientes da conta em nome da offshore Drenos Corporation, vinculada a Renato Duque. A conta do ex-diretor da Petrobrás, por sua vez, teria sido abastecida por valores oriundos de uma conta em nome da offshore Opdale Industries, que tem por beneficiário final Guilherme Esteves de Jesus, acusado de ter intermediado propinas em contratos da Petrobrás para o Estaleiro Jurong em ação penal na Lava Jato.

Dois delatores da Lava Jato, Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e Mario Goes, operador financeiro e intermediário de executivos e agentes públicos, relataram o pagamento de propinas a Roberto Gonçalves, segundo a Procuradoria. Os delatores entregaram comprovantes de quatro depósitos de US$ 300 mil feitos no exterior, a partir de conta em nome da offshore Mayana Trading, mantida por Mario Goes. Ainda de acordo com os documentos encaminhados pela Suíça, Roberto Gonçalves transferiu, em abril de 2014, parte do saldo da conta Fairbridge Finance S/A para contas na China e nas Bahamas.

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"Essa conduta demonstra, além da reiteração de crimes de lavagem de dinheiro, o propósito de impedir o bloqueio dos ativos criminosos e frustrar a aplicação da lei penal. Apesar da tentativa de esconder o patrimônio, ainda foi possível o sequestro de mais de US$ 4 milhões de conta ligada a Roberto Gonçalves", informa a nota da Procuradoria.

Roberto Gonçalves sucedeu Pedro Barusco como gerente executivo da Área de Engenharia e Serviços da Petrobras no período entre março de 2011 e maio de 2012. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, no Brasil, Gonçalves foi alvo de investigações internas da Petrobrás e de depoimentos prestados por investigados que firmaram acordos de colaboração premiada com o Ministério Público Federal.

Para a força-tarefa, a deflagração da Operação Paralelo 'evidencia a sofisticação dos esquemas de lavagem de dinheiro utilizados para o pagamento de propina decorrente de contratos da Petrobrás'.

Apuração interna da Petrobrás imputou ao ex-gerente executivo parte das irregularidades encontradas nas licitações e contratos do Comperj, como a contratação direta em 2011 do Consórcio TUC, formado, dentre outros, pela Odebrecht e pela UTC Engenharia. Paralelamente, autoridades suíças que investigam desdobramentos do caso Lava Jato transferiram ao Brasil investigações por crimes de lavagem de dinheiro relacionadas a Roberto Gonçalves, com base em acordos de cooperação internacional.

"A prática de várias condutas de ocultação de dinheiro ilícito pelo ex-gerente executivo da Petrobrás, com nível significativo de sofisticação, é indicativo de prática criminal em série, de caráter habitual. Ainda, são de especial gravidade os novos atos de ocultação dos ativos criminosos após o início da parte ostensiva da Operação Lava Jato. Assim, foi pedida e decretada a prisão preventiva tendo como objetivo a proteção da ordem pública e a garantia da aplicação da lei penal", destaca a Procuradoria em nota.

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Advalor. A Operação Paralelo também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços profissionais e residenciais ligados a sócios da empresa Advalor Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda (Advalor). A investigação aponta a participação de investigados na lavagem de dinheiro e no pagamento de vantagens indevidas a funcionários da Petrobrás, incluindo Roberto Gonçalves.

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Mario Goes, Pedro Barusco e o ex-gerente da área internacional da estatal Eduardo Musa afirmaram que se valeram dos serviços da Advalor para receber vantagens indevidas provenientes de contratos da Petrobras.

A partir do afastamento do sigilo bancário e fiscal, foram identificadas movimentações financeiras da Advalor com diversas pessoas naturais e jurídicas investigadas no âmbito da Lava Jato. No período entre 2010 e 2014, a empresa movimentou, entre valores recebidos e enviados, mais de R$ 6 milhões aos ex-funcionários da Petrobrás Celso Araripe, Pedro Barusco e Roberto Gonçalves, ao operador financeiro Mario Goes e ao ex-executivo da Odebrecht, Rogério Araújo.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

A Odebrecht assinou acordo com autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça e está em entendimento avançado com alguns países da América Latina para esclarecer sua participação em atos praticados pela companhia. A Odebrecht já adota as medidas adequadas e necessárias para continuamente aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas e de promoção da transparência em todas as suas ações.

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