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Oferta de ações em 2020 é elevada, mas não é sem precedentes

Por Fernando Siqueira
Atualização:
Fernando Siqueira. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O ano de 2020 está bastante aquecido em termos de ofertas de ações na B3, o que tem levado os investidores a se perguntarem se não há um exagero na quantidade de ofertas. Isso poderia levar a uma performance fraca das ações devido à falta de recursos para compra de papeis de tantas empresas? Qual a qualidade das ofertas que estão chegando no mercado? Nossa visão, o volume de ofertas é elevado, mas não é sem precedentes, em número de empresas e nem em valores financeiros, principalmente se ajustado pela liquidez atual do mercado de ações no Brasil. Além disso, vemos um ponto positivo nas ofertas de ações, que é o potencial de aceleração dos investimentos, muito importante para o crescimento do PIB.

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Até agosto foram realizadas 27* ofertas de ações e diversas outras estão em análise. É provável que a maioria destas ofertas sejam concluídas, levando o total provavelmente para acima de 50 operações. Esse movimento marcaria 2020 como o segundo melhor ano em número de operações, ficando para trás apenas de 2007, quando 76 operações foram concluídas. Apesar dos números de 2020 serem elevados, eles não devem ser muito diferentes daqueles observados em 2019, por exemplo. Comparado com 2019, há apenas uma diferença importante: a maioria das ofertas ano passado foi de empresas já conhecidas, os chamados "follow-on" também conhecido como oferta subsequente. Em 2020, a distribuição é mais bem dividida entre IPO's (ofertas iniciais) e follow-ons.

Considerando os valores distribuídos, 2020 é ainda menos brilhante. Mesmo com a conclusão das ofertas em andamento até agora, o valor total não deve ser muito superior aos R$ 89 bilhões de 2019. Sem falar que o valor é bem menor que os R$ 149 bilhões de 2010, ano da capitalização da Petrobras. Ajustando os valores das ofertas pela liquidez do mercado (volume negociado no ano no mercado de ações), ou pelo valor de mercado das ações já listadas na bolsa, o volume que está chegando ao mercado em 2020 é bem inferior àquele observado em 2006 e 2007, por exemplo.

Um ponto importante que precisa ser lembrado é que as taxas de juros estão em patamares historicamente baixos no brasil e no exterior, o que impulsiona a busca por ativos de risco, como ações. Neste caso, a oferta de ações que temos visto até aqui está sendo absorvida pela demanda criada pela redução dos juros. Não por coincidência, as taxas de juros também haviam sido reduzidas para valores historicamente baixos à época em 2007, quando houve recorde no número de ações. Uma evidencia clara no sentido de indicar que há uma demanda por novos ativos de risco é que a captação dos fundos de ações foi elevada tanto em 2019 quanto 2020.

Considerando isto, vemos dois riscos para as ofertas que estão chegando ao mercado em 2020: a) um aumento na taxa de juros nos próximos meses e b) dificuldade de avaliação das ofertas. O aumento dos juros parece um risco baixo neste momento considerando a elevada capacidade ociosa da economia brasileira. Já a dificuldade de avaliar as ações sendo ofertas é um risco mais relevante, principalmente por se tratar de IPO's de empresas médias ou pequenas, muitas vezes pouco conhecidas pelo investidor. O aumento das casas de análise mitiga este risco, mas não o elimina.

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Por fim, vale destacar um ponto pouco explorado nas notícias sobre a avalanche de IPO's em 2020: o impacto que essas ofertas podem ter nos investimentos. Acreditamos que a oferta recorde de ações no Brasil deve favorecer o crescimento do PIB nos próximos trimestres. Mais da metade dos recursos captados em 2020 até agora são referentes à "oferta primária", ou seja, novas ações emitidas e valores que são transferidos para o capital da empresa (em oposição à "oferta secundária", onde alguns acionistas vendem suas ações no mercado). Como proporção dos investimentos no PIB, as ofertas devem chegar a 5%, valor próximo ao observado em 2006. A maior representatividade das ofertas como proporção dos investimentos se deve ao baixo crescimento dos investimentos no período: a liquidez do mercado de ações na B3 foi multiplicada por vinte desde 2004 enquanto os investimentos foram multiplicados por três.

 

*Fernando Siqueira é gestor de renda variável na Infinity Asset Management

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