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ODS ESG

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Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: WERTHER SANTANA/ESTADÃO Foto: Estadão

Vive-se a era das siglas. Duas delas merecem atenção e reflexão por parte de todos. Principalmente dos jovens, que serão os herdeiros do nosso insensato trato em relação à natureza.

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Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável são dezessete eixos de atuação dos quais depende o amanhã. Talvez as crianças e muitos jovens ainda não saibam que poderá inexistir o futuro, se a humanidade continuar a ser inclemente e destruir aquilo que a natureza construiu durante milhares de anos.

As vozes proféticas de pensadores lúcidos e antenados com o que acontece no mundo não têm sido levadas a sério por governos populistas e ignorantes. Parece incrível que ainda existam rústicos a gerir o destino de grandes países. Mas eles estão aí. E prestigiados por quem deles extrai interesses mesquinhos e não pensam em seus filhos e netos. Só querem mais dinheiro no bolso.

Uma dessas vozes é a de Ban Ki-Moon, que foi Secretário Geral da ONU por ocasião da formulação dos dezessete ODS. Ele alertou aqui em São Paulo o povo brasileiro - não adianta recorrer ao governo dendroclasta - de que "a Amazônia representa a saúde do mundo". Ele pediu à população, aos brasileiros de boa vontade, que tomem conta da bacia hidrográfica do Rio Amazonas. Se isso não ocorrer, não se conseguirá, dentro em pouco tempo, respirar. E o que acontece quando não se respira? Experimente ficar cinco minutos com o nariz e boca tapados!

Zerar o desmatamento é insuficiente. A urgência é o replantio. Não há Plano "B", porque não existe Planeta "B". Simples assim. A "década de ação" teve início em 2020. Todas as pessoas que têm juízo e percebem o que seria do mundo sem árvores, sem água, sem oxigênio, convertem-se para a causa dos ODS. As crianças são mais sensíveis e se emocionam. Elas devem ser um fator de conscientização dos adultos renitentes, aqueles que acreditam que as previsões da mudança climática são catastrofistas, elaboradas por ambientalistas utópicos, aqueles que querem salvar "mico-leão". O que está em jogo não é o mico-leão. É a criança. Esta, mais dia menos dia, antes mesmo de chegar à idade adulta, deverá se utilizar de máscaras para poder respirar. E não haverá mais água limpa, como previu Ignácio de Loyola Brandão em "Não verás país como este".

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Por isso é que a criança deve ser o foco de uma educação ambiental que não se resuma a uma disciplina a mais no currículo escolar. Educação ambiental é preocupação transversal, que deve constar do conteúdo das aulas, mas também deve irradiar-se pela mídia, pelas redes sociais, ser uma das alavancas de qualquer formação fundamental, no Ensino Médio e na Universidade.

Sem essa conversão do maior número possível de pessoas, os políticos profissionais, mais preocupados com fazer fortuna, com eleição e com a matriz da pestilência chamada reeleição, continuarão a ignorar os apelos da consciência e a menosprezar os contundentes sinais emitidos pelo planeta maltratado. Continuarão a soltar "boiadinhas", introduzir venenos no Brasil, anistiar exterminadores da floresta e assassinos de indígenas, tudo pela "aura sacra fame", ou seja, a ambição desmedida: o amor pelo ouro, pelo dinheiro, acima de todas as outras coisas. Até superior à vida de seus descendentes.

O capital, que não costuma desprezar ameaças que o coloquem sob risco de diminuir, acordou para a agenda ESG - Environmental, a palavra inglesa equivalente a Meio Ambiente ou Natureza, Social - o mote da redução das gritantes desigualdades entre os humanos e o G de Governança Corporativa. Que para o Estado, deveria ser traduzido por Gestão Inteligente.

Essa pauta faz com que o capital se convença de que o negócio não é só obter lucro, multiplicar o dinheiro. Há uma responsabilidade social que afeta inclusive as empresas. As duas siglas - ODS e ESG - convergem para a renovação da consciência coletiva. É a humanidade que está a correr sério perigo. Não é a Terra, que poderá continuar a existir, mas prescindirá da espécie humana - e de todas as outras vidas que ela hospeda - para que possa vagar pelo espaço. Azul, mas sem vida. Sem toda a aventura humana, sem a cultura, sem as artes, sem a música e a poesia produzida durante milênios. Tudo porque uma geração desprovida de discernimento, que consegue aliar ganância com ignorância (a rima não é mero acaso...) e despreza aquilo que deveria cultivar.

Vamos prestar atenção nessas siglas, saber mais sobre elas e ajudar as pessoas a se converterem a essa causa. Sem isso, o projeto divino de humanidade não terá sido senão um melancólico fracasso.

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*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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