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O voo do marreco

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Por Sílvio Ribas
Atualização:
STF validou grampos autorizados por Moro quando ele ainda era juiz federal. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Fortemente hostilizado pelas torcidas organizadas dos candidatos extremos Lula e Bolsonaro, o ex-ministro Sergio Moro, que esteve à frente da Lava Jato como juiz, filiou-se nesta quarta-feira (10) ao Podemos com inequívoco discurso de presidenciável. A partir de um roteiro ancorado em pesquisas de opinião, ele foi além da natural ênfase anticorrupção e até esboçou planos de voo.

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Moro, contudo, deixou claro que estava só expondo ideias e linhas-mestras e que o seu projeto de governo ainda carecerá de ouvir mais especialistas e setores da sociedade. Ao longo dos próximos meses, as suas intenções precisarão mesmo de refinamento e consistência, além de embalagem publicitária. O slogan por hora é "Um Brasil justo para todos".

Por 55 minutos, Moro condenou igualmente os maus-feitos que marcaram os governos petista e atual, resumidos emblematicamente nos escândalos do Mensalão, Petrolão, rachadinhas e orçamento secreto. Lembrou ainda que a Força-Tarefa de Curitiba resgatou R$ 4 bilhões em desvios e tem mais R$ 10 bilhões a receber. Mas o ex-titular da Justiça adentrou noutros temas, como pautas de inclusivas e de defesa da ciência.

Moro lamentou as mais de 600 mil vítimas da pandemia, os 14 milhões de desempregados, os atrasos na reforma tributária, os jabutis no projeto de privatização da Eletrobrás e a escalada da inflação e dos juros (por tabela) puxada pelo descalabro fiscal. "Quando chegará o futuro do país do futuro?", provocou.

Contra a praga populista, o pré-candidato apelidado pelos detratores de "Marreco de Maringá", em alusão ao timbre de voz e à sua cidade natal, propôs uma força-tarefa para erradicar a pobreza, como sendo a evolução do Bolsa Família (PT) e do Auxílio Brasil (Bolsonaro), e o fim da reeleição. "Não devemos mais correr os riscos de ditadores de esquerda ou direita", frisou.

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Ainda no que requer aval do Legislativo, o paranaense Moro afirmou o desejo de reformar leis e instituições, com destaque para a restauração do estatuto da prisão após condenação em segunda instância e o fim do foro privilegiado de autoridades, inclusive para o presidente da República.

Sem toga e com manto político, ele propôs colocar a educação em patamar ambicioso, com horário integral, tecnologia e foco na população de baixa renda. Acenou aos militares, de quem já recebeu apoios, e abraçou a causa ambiental, defendendo a Amazônia como um diferencial brasileiro a favor do progresso nacional e do combate às mudanças climáticas.

Sem falar em nenhum momento dos nomes de rivais Lula e Bolsonaro, Moro explicou o seu trabalho num escritório nos Estados Unidos que tem a Odebrecht como cliente ("precisava trabalhar e cuidar da família") e classificou o seu ingresso na política como uma forma de ajudar o Brasil a superar suas crises. "Há outros bons nomes que têm se apresentado para que o país escape dos extremos da mentira, da corrupção e do retrocesso", disse ele, sinalizando para alianças mais adiante.

As chances de o "marreco" fazer ninho no Planalto dependerão, contudo, de suas costuras políticas, para as quais, admite, falta experiência. O evento no Centro Ulysses Guimarães, em Brasília, serviu de largada para a sua pré-candidatura, como a aposta da centro-direita mais bem posicionada como alternativa de terceira via à disputa polarizada. Apesar disso, a cerimônia contou com poucos expoentes fora da sua legenda: Luís Henrique Mandetta (DEM-MS), os deputados Luís Miranda (DEM-DF) Kim Kataguiri (DEM-SP), Joice Hassellmann (PSDB-SP) e Alexis Fonteyne (Novo-SP), além de líderes do MBL. Virão mais?

*Sílvio Ribas, jornalista, escritor, consultor em relações institucionais e assessor parlamentar no Senado Federal

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