Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

O vazamento de Pandora

PUBLICIDADE

Por Renata Abalém
Atualização:
Renata Abalém. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quando as mulheres ainda não existiam, Zeus criou Pandora, uma mulher de barro. Muito bela, Pandora serviu às estratégias políticas do seu criador, que queria disseminar informação no mundo. Alguns dizem que ele queria mesmo era distribuir misérias, mas me reservo o direito de entender que ele, na verdade, queria que todos fossem bem informados.

PUBLICIDADE

Zeus então, colocou todas as informações em uma caixa, e Pandora andava com a mesma por todos os lados, para baixo e para cima.  Até que um dia, Pandora resolve abrir a caixa... e os males se espalham! Ou melhor, as informações vazam!!!!

No Brasil de hoje, março de 2021, o ato de Pandora significa o mega vazamento de dados do Poupatempo, programa do governo de São Paulo com uma base de dados de milhões de CPFs. As informações são completas, desde nome e sobrenome, até número de celular e endereços eletrônicos e físicos. Um vazamento dessa magnitude tem preço. A base está sendo comercializada por 0,3 bitcoin, aproximadamente R$ 95 mil, e antes de comprar, o interessado ainda pode ter acesso a uma amostragem do conteúdo, com 10 milhões de brasileiros expostos.

Nem Zeus faria melhor!

O problema é que as informações, como citei acima, têm nome e sobrenome e esses vão amargar terrivelmente o custo desse vazamento. Celulares clonados, WhatsApp clonados, golpes na porta da casa e mais, muito mais, porque a imaginação de golpista não tem limite. E o pior: não tem ninguém que nos defenda. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais (ANPD), órgão do Governo que trataria do assunto, é recentíssima e em caso idêntico, -  vazamento ocorrido em fevereiro passado, - limitou-se a publicar nota oficial informando que oficiou a Polícia Federal e as empresas envolvidas e que vai auxiliar na apuração dos fatos. É só.

Publicidade

Procon autua ou informa que vai autuar e os golpes se multiplicam.

Ficamos com a caixa aberta e parece que Pandora nem é tão bonita assim. Mas o que fazer? Você se pergunta e eu tento encontrar respostas... Primeiro, entender que uma vez que escapuliram da caixa, essas informações nunca mais voltam para a mesma. Você pode pesquisar se seus dados foram vazados e se precaver de golpes, para tanto, existem sites confiáveis nos quais pode-se descobrir se seus dados estão "à solta por ai". O certo é alterar o que precisa e pode ser alterado, como senhas e endereços eletrônicos. Evite abrir e-mails suspeitos, faça verificação em duas etapas, fique muito, muito esperto. Mas isso ainda é insuficiente, até porque essas "caixas" estão constantemente sendo abertas.  E ai? Ora, dados como os que estão sendo comercializados como os do Poupatempo, são dados sensíveis que merecem proteção especial. Não tiveram tal proteção? O seu guardião tem que responder sobre isso judicialmente. Aposto em uma indenização coletiva. Aposto que um exemplo financeiro faz qualquer mitológico pensar melhor e trancar a caixa a sete chaves.

*Renata Abalém, advogada

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.