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O tratamento adequado da dor e seus benefícios físicos, emocionais e biológicos

Por Manoel Jacobsen Teixeira
Atualização:
Manoel Jacobsen Teixeira. FOTO: DIVULGAÇÃO  

Conviver com a dor não é sinônimo de força e bravura, como há muito tempo se dizia. Tratá-la de modo adequado e dar a ela atenção necessária é mais do que uma razão humanitária, é biológica. Existem vários fatores que modificam significativamente o organismo na fase aguda da dor e que precisam ser tratados para evitar que outros problemas se instalem ou ocorra sua evolução para a fase crônica. Entender as principais diferenças e saber classificar a intensidade da dor conduzem ao melhor caminho para os cuidados e redução dos seus possíveis riscos adicionais à saúde.

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Para esclarecer, destaco que a dor aguda é aquela que ocorre durante o período esperado de resolução de sua causa, ou seja, é razoável que dure uma ou duas semanas e no máximo um mês quando os mecanismos de cicatrização se instalam. Quando dura mais do que quatro semanas, passa para um novo estágio e torna-se dor subaguda, geralmente devido a resquícios do processo inflamatório ou de adaptação tecidual. A dor é chamada crônica quando dura mais do que três meses. Muitas vezes, apesar do tratamento adequado e da resolução da condição causal, pode persistir indefinidamente.

Esta classificação é essencial para se compreender que cada sintoma é um alerta e não pode ser ignorado. Nas grandes cidades cosmopolitas, como São Paulo, cerca de 28,4% da população apresenta dor com duração superior a três meses, de acordo com os estudos epidemiológicos realizados. Este achado não é alarmante quando comparado a Londres, por exemplo, onde de dor crônica ocorre em aproximadamente 48% dos cidadãos.

Entretanto, o número poderia ser menor se utilizarmos, desde cedo, alguns cuidados para prevenir e tratar para reduzir os problemas de longo prazo. Quando se chama a atenção para esse assunto, busco alertar não só para o sofrimento em si, mas para as diversas reações desencadeadas no corpo quando se sente dor. Ignorá-la é abrir espaço para modificar a pressão arterial e a frequência cardíaca, alentecer o trânsito intestinal e urinário, reduzir o transporte das secreções respiratórias, aumentar a retenção de água, aumentar o hormônio antidiurético, aumentar o cortisol no sangue circulante, e ocorrer contração muscular como mecanismo de defesa dentre outras anormalidades que ocorrem no organismo.

A dor apresenta um componente sensitivo, um cognitivo e outro emocional. A dor aguda mal ou não tratada também compromete a imunidade celular e humoral e torna o indivíduo mais vulnerável a infecções e à progressão e recorrência de doenças inflamatórias crônicas. Quando a dor torna-se crônica, a condição do doente torna-se mais grave, pois pode reduzir suas atividades físicas, o que resulta perda da musculatura corporal, isolamento social, ansiedade, depressão, desatenção, alterações cognitivas, atrofia cerebral, etc.

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Como a raiz do problema é o estímulo doloroso, quando tratada de modo adequado nas suas fases iniciais, torna-se possível reduzir a sensibilização dos tecidos lesados e, desse modo sua intensidade. Quando a dor aguda é tratada com rigor, não ocorre a estruturação da sensibilização do sistema nervoso e previne-se seu agravamento e sua transformação em dor crônica.

O tratamento adequado deve contemplar medidas geralmente simples, desde que efetivas. Geralmente, quando a dor é fraca ou moderada recomendam-se analgésicos convencionais que podem ser adquiridos sem a necessidade de receita médica controlada e utilizados pela via oral. A maioria das dores agudas encaixa-se nesse perfil e pode ser tratada com esses medicamentos. Mesmo quando a dor é forte ou muito forte, recomenda-se manter o uso das medidas analgésicas simples e, quando necessário, adicionar medicamentos mais potentes, às vezes administrados pela via intravenosa e sempre com acompanhamento de profissionais habilitados.

A execução das atividades sem condicionamento ou pausas periódicas nas jornadas de trabalho são um dos principais desafios a serem superados para prevenir a dor do século XXI.Cito a lombalgia como exemplo, pois é a primeira causa de incapacidade da população adulta. Em cerca de 85% dos casos a causa não é identificada. Geralmente atribuída à sobrecarga muscular durante a execução das tarefas de modo inadequado, ausência de condicionamento, desuso da musculatura devido do sedentarismo, mas também pode decorrer de anormalidades osteoarticulares. Evidentemente, o excesso de atividade é ruim, a falta dela também. A dor de cabeça, por sua vez, ocorre em 90% da população ao menos uma única vez na vida e se repete periodicamente em 25% da população, especialmente no público feminino, e aproximadamente 5% da população da Cidade de São Paulo apresenta crises de cefaléia praticamente todos os dias.

Outro importante fator, que atualmente influencia o aumento das estatísticas de dor na população é a longevidade. Nos idosos, em função da progressão da idade ocorre aumento das doenças reumáticas, neurológicas e do câncer, condições muito vinculadas à ocorrência de dor. Outro fator que favorece o aumento dos relatos de sua ocorrência é a observação de que na atualidade as pessoas verbalizam mais suas queixas e seus sofrimentos ao saberem que a dor é condição frequente e que, para ela, há tratamentos eficazes e seguros disponíveis.

É importante compreender que não é adequado conviver com desconfortos e queixas. Devemos ter em mente o equilíbrio e a importância de se cuidar da saúde em todas as fases da vida. Nós, médicos, assim como os demais profissionais de saúde, buscamos promover o que há de mais efetivo para melhorar a qualidade de vida de nossos pacientes. Há muitos modos de se viver de maneira saudável; basta encontrar os recursos necessários, tendo como apoio os medicamentos e as tecnologias disponíveis.

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*Manoel Jacobsen Teixeira é médico neurologista. Mestre, doutor e livre-docente, professor titular de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), diretor da Divisão de Neurocirurgia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP, diretor do Centro Multidisciplinar de Dor, da Liga de Dor Craniofacial e da Liga de Dor da FMUSP

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