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O salto da educação brasileira deve se dar com base em um novo mundo

Por José Cláudio Securato
Atualização:
José Cláudio Securato. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Desde o surgimento das universidades (1088, Universidade de Bologna), onde o saber deixa de ser uma graça divina e se cria um local dedicado ao estudo e à formação de pessoas, foram séculos construindo bases para nações conseguirem ter a educação como diferenciais em suas histórias. 

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Nos EUA, em 1647 foi promulgada uma lei que obrigava os povoados com mais de 50 pessoas a manterem um professor, semente que levou as 13 colônias inglesas na América aos menores índices de analfabetismo do mundo entre os séculos 17 e 18. A partir da fundação de Harvard (1636) surgiram inúmeras instituições de ensino como Yale (1701), Princeton (1746) e Columbia (1754), até, por fim, nascerem MIT (1862), Johns Hopkins (1876) e Stanford (1891).

No Brasil, a educação começa em 1549 com a missão Jesuíta, que já organizara o ensino em série e tinha professores capacitados. A reforma do ensino brasileiro de Marquês de Pombal no século 18, enfraqueceu o sistema jesuíta, deu fim ao sistema unificado e seriado de ensino, e colocou no lugar um ensino disperso e fragmentado com professores leigos e mal preparados. 

A educação voltada para o trabalho era proibida entre 1500 a 1807, sendo sua implantação a partir de 1808. O ensino profissional foi marcado com o estigma da servidão ao ser destinados aos escravos, índios, órfãos, mendigos, deficientes auditivos e visuais. Ao invés de Harvard, Yale e Stanford tivemos a fundação do Imperial Instituto de Meninos Cegos (1854) e de Surdos-Mudos (1856). Somente em 1922, há a obrigatoriedade do ensino profissional em todo país, embora não tenha sido implementado.

Nossos esforços como nação não foram suficientes para alcançarmos padrões de referência conquistados por outros países. Além de atrasados na implementação da educação no Brasil, corremos o risco de mirar investimentos em educação baseado em estigmas do passado, com base em padrões estagnados e atrasados. Explico.

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Segundo o amigo Dr. Jorge Forbes, "o mundo vive a maior transformação dos laços sociais dos últimos 2800 anos". A sociedade moderna é caracterizada por laços sociais marcados pela verticalidade, isto é, onde algo ou alguém estabelecem padrões a serem seguidos para as pessoas viverem, como a natureza (séc. 8 a.c. até séc. 3 d.c.), a religião (séc. 3 ao séc. 18 d.c.) e a razão (séc. 18 até 1990). É uma sociedade hierarquizada, padronizada, focada, linear, rígida, progressiva, esperada, garantida e disciplinada. Por outro lado, um novo mundo, pós moderno, emerge com o surgimento da internet (1990), e cria uma sociedade com laços sociais horizontais, sem um eixo de padrões pré-estabelecidos e esperados, desdobrando-se em uma sociedade colaborativa, múltipla, diversa, variável, flexível, criativa, surpreendente, arriscada e responsável. 

Neste contexto, a educação brasileira deve fugir de padrões baseados na sociedade moderna, que padroniza o processo de aprendizado, onde todos aprendem ao mesmo tempo, da mesma forma e no mesmo local, com ensino seriado e unilateral e com escolas parecendo indústrias, quartéis e prisões. Ao contrário, é hora de desbravar a pós modernidade para fazer a disrupção da educação.

Disrupção, no conceito do Prof. Clayton Christensen, é tornar algo complicado, caro e de difícil acesso em algo simples, barato e de fácil acesso. A educação de referência é complicada, cara e de difícil acesso.

Os pilares educacionais característicos da pós modernidade e que destaco para disrupção são: (i) a aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning), (ii) a ciência do ensino (pedagogia para crianças e andragogia para adultos) e (iii) a capacidade de alunos serem gestores e programadores de seus próprios processos de aprendizagem (heutagogia). É aqui que a disrupção deve acontecer. Ou seja, lifelong learning, pedagogia/andragogia e heutagogia precisam se tornar simples, baratos e de fácil acesso.

Como tangibilizar a educação disruptiva? O primeiro passo é deixar para trás o conceito de lifelong learning estático e com desenvolvimento faseado, onde o botão "modo aprender" é intercalado em "on" e "off". O aprendizado estático dá lugar à aprendizagem orgânica e fluida, onde o modo aprender é sempre on, "Onlearning".

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Para dar suporte ao Onleaning e torná-lo factível, sete pilares são importantes: 1. Aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) e em micromomentos; 2. Aprendizagem personalizada, customizada e adaptativa; 3. Nanocertificação da aprendizagem para viabilizar o fracionamento em certificações menores, empilháveis e acumuláveis; 4. Aprendizagem em redes sociais; 5. Uso de inteligência artificial para aprendizagem; 6. Investimentos em educação mais acessíveis e democráticos; 7. Ensino híbrido (blended) como a melhor combinação de aprendizagem.

Saibamos, portanto, aproveitar a mudança de tempos, da modernidade para a pós modernidade, para fazer a educação disruptiva. Uma educação para os novos tempos, voltadas para novas competências, potencializadas com novas tecnologias e muito, mas muito mais democrática.

*José Cláudio Securato, Ph.D, fundador e CEO da Saint Paul Escola de Negócios e da plataforma  LIT

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